O Conselho Português para a Paz e Cooperação e a Âncora Editora realizaram mais uma apresentação do livro "Hiroxima - Antologia de Poemas" coordenado por Carlos Loures e Manuel Simões.
A sessão, apresentada por Amílcar Campos (membro da Presidência do CPPC), contou com as intervenções de Manuel Simões, coordenador da obra, Baptista Lopes, da Âncora Editora, Ilda Figueiredo, presidente da DN do CPPC.
Entre as intervenções foram declamados poemas do livro por vários atores do Intervalo Grupo de Teatro.
De entre os poemas declamados, escolhi este:
HIROXIMA - Adão CruzNos limites da razãoonde os homens produzem monstrostodos nos sentimos escombrosdo maior terrorismo da Históriahumana.Nasceu a manhã mais cruel da maisinocente madrugadaa manhã mais negra do que a noitedo absurdo.O inferno rasgou o sol e a luaos rostos e os braçosarrancou as árvoressecou os rios e as fontesenchendo a cidade de sangue ecorpos em pedaços.Um mar de gente ... no corpo nu dasolidãogente só... no ventre da multidãoolhos vidrados de lágrimas e pânicocorrendo... fugindo...para onde... para o nada...para o abismo da escuridãosobre restos de sonhos e pedaços devidaespalhados pelo chãoonde a dor fincou as garrasabafando os gritos em catedrais decinzas.O fim de tudo entrou pelas portas ejanelase comeu tudo...comeu as casas que caíramas mãos que deixaram de brincarcomeu os olhos que deixaram deolhare as bocas que deixaram de respirar.Tudo era dentro e tudo era forana amplidão do desesperonão havia mães nem filhos nasentranhas da afliçãonão havia rumo nem caminhono deserto infindo da maldição.Tudo se fez pónão ficou pedra sobre pedrae nem pedras havia no chãojá o chão não era chãomas o fundo abismo de uma crateraonde tudo era estendal de mortesem porta de entrada sem porta desaídasem tempo sem norte sem vidasem ruas sem movimentosem fímbria de céu ou de mar.O nada entrou no coraçãoque deixou de bater no peito demuitos milao peso de cinquenta quilos deurânioe toneladas de glória americanaerguendo até ao cume da barbáriea bandeira mais cruel da naturezahumana.Uma fria luz de prata atravessou omundoperfurou a mente e as ideiasem seco lamento de gemido semremédiocomo latido de cão atirado ao vento.E o mundo dormiu suavemente...e ainda hoje não acordou.Entre milhares de bombas eestrondosos hinoso mundo de olhos cegos e ouvidosmoucosainda dorme...nada mais ouvindo que o silêncio dosassassinos.Poema declamado por André Levy
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