A primeira, aquela que passei a usar, a outra, a verdadeira que Saramago conta à sua maneira...
No passado domingo, a citação de Saramago referida ao seu livro "A Jangada de Pedra" reportava-se a uma entrevista da qual transcrevo uma das partes, onde ele dizia: "Neste livro tentei demonstrar duas coisas; primeiro: a Península Ibérica tem pouco a ver com a Europa no plano cultural(...)Segundo: há na América um número muito grande de povos cujas línguas são a espanhola e a portuguesa.(...) Trata-se apenas de sonhar – acho que esta palavra serve muito bem – com uma aproximação entre estes dois blocos, e com o modo de o demonstrar. Ponho a Península Ibérica a vogar para o seu lugar próprio, que seria no Atlântico, entre a América do Sul e a África Central. Imagine, portanto que eu sonharia com uma bacia cultural atlântica."
Entre os comentadores apareceu quem me comentou assim: "Bonito o sonho dele.(...) Ou antes devemos nós da América do Sul formarmos uma ponte real entre nós mesmos ou que venham as caravelas a fazer-nos compreender isto. Nunca foi tão urgente - para todos." Achei que tinha que conhecer melhor quem assim me comentava e fui conhecer a Barbara. Dei com esta profunda reflexão sobre a sua Ancestralidade. Percebi a ligação entre esse texto, as palavras de Saramago e a urgência de encetar-mos novos caminhos. Sonho que radica numa consciência há muito aprendida. Foi isso que fui lá dizer-lhe. É esse o tema da minha
Entre os comentadores apareceu quem me comentou assim: "Bonito o sonho dele.(...) Ou antes devemos nós da América do Sul formarmos uma ponte real entre nós mesmos ou que venham as caravelas a fazer-nos compreender isto. Nunca foi tão urgente - para todos." Achei que tinha que conhecer melhor quem assim me comentava e fui conhecer a Barbara. Dei com esta profunda reflexão sobre a sua Ancestralidade. Percebi a ligação entre esse texto, as palavras de Saramago e a urgência de encetar-mos novos caminhos. Sonho que radica numa consciência há muito aprendida. Foi isso que fui lá dizer-lhe. É esse o tema da minha
HOMILIA DE HOJE
Barbara,
Não vim de caravela, nau ou barcarola mas nessa estranha passarola que Saramago de pronto me emprestou, com todas as garantias de aqui poder chegar.
Aqui estou. Trago a emoção de um reencontro com quem reencontrou suas raízes e delas fala. Quando decidi vir pensei em coisas simples de dizer. Não mudei de ideia durante a viagem. Venho lhe dizer que, quando li seu post, a emoção se repetiu pela enésima vez desde a primeira. A primeira, essa foi há cerca de 40 anos em Angola na cidade de Nova Lisboa (agora Huambo), que lhe vou contar:
Era já noite e ninguém nas ruas. Caminhava batendo os passos para sentir-me em companhia de mim próprio. Ia de não sei onde para lado nenhum, fardado com a farda do exército português, com a boina de cavalaria a ocupar-me as mãos. Passeava apenas, adiando o sono. Atravessei um denso jardim e, ao longe, oiço o dedilhar de uma guitarra em acordes indecisos. Fui andando nesse sentido à medida que a melodia se ia construindo e o som ganhava nitidez. Mesmo antes de a voz aparecer, reconheci a de Chico Buarque. Depois a voz deu-me a canção que quase sempre trazia no coração. Aproximei-me sem qualquer cuidado em reservar sinais da minha presença e fiquei surpreso à paragem brusca do cantar. Reagi retomando o verso “caiu na contra mão atrapalhando o tráfego” e sorri para o grupo. O que cantava, mulato claro estendeu-me a mão sorridente e julgo que aliviado. Os outros dois, um negro outro branco, acolheram-me assim também dessa maneira. Desafiei-os com a Elis e Jair Rodrigues: “O morro não tem vez e o que ele fez já foi de mais…” . O resto foram mais canções e prolongada cavaqueira sobre a cultura brasileira, a negritude, a miscigenação, a guerra colonial, a alma deles e a minha alma lusa de coração celta e sangue mouro. Foi essa noite que hoje lembro e que tem como pretexto a força das nossas raízes a relançarem o sonho de que uma “jangada de pedra” nos junte, numa "bacia cultural atlântica".Peço desculpa por minha passarola lhe ter invadido, assim, o seu espaço… "
Fui conhecer a Bárbara antes de comentar. Valeu a pena!
ResponderEliminarEu nasci em Sá da Bandeira...também deambulou por lá a adiar o sono?
Beijos
Novos caminhos?! ...Monte Cristo, querido amigo meu, diz que temos de os construir ou morremos todos.
ResponderEliminarMas, desculpar-me-ão, eu estou a ficar desesperada com a apatia do bom povo português,Que não sei se está aterrorizado, cego , surdo, mudo ou completamnet domesticado.
Uma semana feliz , agora que já temos o bendito Orçamento.
Se olhar para trás, lembro-me das minhas raízes, de norte a sul, StªMarta de Penaguião(Régua), Fratel(Castelo Branco),João Antão (Guarda),... hoje sou apenas uma última alfacinha resistente e que, por acaso, até era para ter nascido no Canadá. Assim, eu e o meu garoto sabemos que somos os últimos resistentes neste país à deriva.
ResponderEliminarA filha vive na América e já sei que em breve vou ter um neto ou neta americana, depois tenho família no Canadá,França,Espanha... e até no Japão.
Nestes últimos anos, tem sido uma última razia, as tias que morrem e os primos que partem e tal como eu, muitos portugueses têm visto partir os seus entes mais queridos, pois a conversa fiada das promessas da nossa entrada para a UE, foram apenas isso mesmo, conversa fiada que só alguns usaram em proveito próprio.
Porque será que teimo em ficar por cá? Francamente nem sei, talvez por ser burra e teimosa, uma péssima combinação ;)
Ou talvez... para ser recordada como a última "raiz" que por cá viveu porque quanto ao garoto, um dia, já estou mais que preparada para o ver partir, pois este país continua não só a enterrar o presente, como também o futuro.
E hoje, isto está ruim, o Natal está próximo... e todos eles vão sendo cada vez mais difíceis. Abençoada tecnologia, net e skype, senão... acho que já tinha definhado com tantas saudades.
Bjos
É destas homilias que gosto.
ResponderEliminarBeijo
Oi...
ResponderEliminarConfesso que aqui cheguei atraída pelo título de seu blog, mas ler sua homília foi muito prazeroso.O sabor foi de mel, não de vinagre.
E, descobri um conselho a brasileiros (eu...)que me fez sorrir com muita frustração. Perdi as eleições e, até,a esperança de que o Brasil seja menos sujo e corrupto.
Enquanto mostra-se ao mundo uma fachada de prosperidade, nos bastidores a sujeira cresce.
Mas, como não foi isso que me trouxe aqui, desejo parabenizá-lo
pelo espaço tão bem construído.Vou voltar.
Um abraço.
Guitarras e sanfonas
ResponderEliminarJasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca
Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal. (Chico Buarque)
Nem pensem que não temos problemas e os temos sim em escala continental e comunitária mas em nós, um jeito arrojado de vencer mares e marés - que herdamos dos portugueses que ora estranho -
Por que tamanho desânimo?
A resposta está na postagem do "avinagrado".
Estar na comunidade européia não é vosso talento nem vossa alegria.
A Europa de Sarkozy ou as outras Europas jamais compreenderão o tino portugues.
A ponte - se não de pedra, há de ser a que sempre houve - a da alma .
E nos cabe , para sermos coerentes com nossa história, intensificar isto.
Portugueses - ensaiem o Brasil e os brasileiros, pois nós de cá já os ensaiamos há ao menos 500 anos.
Cravados estão no nosso inconsciente coletivo.
Unam-se sem desânimo.
De ventos e tempestades vosso sangue entende e transcende.
Sempre foi assim, por que não seria agora?
1 abraço pleno.
Caro Rogério
ResponderEliminarHoje fico em silêncio a "curtir" a excelência da sua homilia e dos comentários que se lhe seguem.
Abraço
...."a minha alma lusa, de coração celta e sangue mouro."
ResponderEliminarBonita imagem, Rogério.
Beijinho.
:)))
Rogério,
ResponderEliminarRepresento a negritude e a miscigenação a reclamarem a bacia cultural atlântica. Que venha, numa jangada de pedra como vaticinava Saramago.
Beijinho
De muitos lugares
ResponderEliminarme chegaram vozes
- lolipop
- São
- Isa
- Acácia Rubra
- Gizelda
- Bárbara
- Folha Seca
- Ariel
- Maiuka
todas
dando testemunho
de que o caminho
é o certo e necessário
de percorrer
mas em data desconhecida...
Vou tentar apressar
esse passo inevitável de dar.
Será escrevendo razões
para regressar
onde a alma
insiste
em nos chamar!
Todas as semanas farei editar um post sobre "Caminhos do meu caminhar...". Será às sextas feiras, por ter sido numa 6ª feira, em 17 de Julho de 1968, que parti para a chamada Região Militar de Angola...
b, foi bom
ter conhecido você...
lida a homilia, conheci a bárbara. mais uma caminhante, acompanhante neste caminho que é a vida [esta e todas as que estão para vir... aqui ou num outro plano qualquer].
ResponderEliminaro que interessa é caminhar. o que interessa é fazê-lo acompanhado...
abraçinho...