O diabo transfigura-se. Parece um deus renascido e as palavras parecem ser novas e igualmente renascidas. O inferno é o mesmo, mas anuncia-se como sendo outro amanhã e logo, hoje, as chamas parecem brandas. "Tu és os nosso deus" há quem diga...Os não enganados denunciam o cenário, os modos e os perigos. E logo todos os doutos senhores, os jornais, leitores e seguidores os titulam: "conservadores, repetitivos e incapazes de inovação". Assim, decorre a campanha. Curiosamente repetitiva, como se a democracia se tivesse convertido na cassete disfarçada por uma demagogia, também ela reinventada. Foi assim a eleição em 1986. Parece hoje...
HOMILIA DOMINICAL
"(...) De democracia enchem os políticos a boca deles e os nossos ouvidos, de demagogia fala-se pouco, apesar de tanto se praticar.
(...) Diz, pois, o dicionário de Aurélio que a democracia é a «doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição eqüitativa do poder, ou seja, regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão dos poderes e pelo controlo da autoridade, isto é, dos Poderes de decisão e execução», o que resumindo em três Palavras, equivale a dizer «governo do povo». Suponho que Os Cinco candidatos à Presidência da República conhecem, por igual, a letra desta definição, embora não duvide que tenham dela entendimentos diferentes e, em alguns casos, irredutivelmente contraditórios. Coisa que logo se verifica quando, na mesma página do dicionário, encontramos a outra palavra em questão, demagogia, que é um «conjunto de processos políticos hábeis tendentes a captar e a utilizar, com objetivos menos lícitos, a excitação e as paixões populares», e também «afetação ou simulação de modéstia, de pobreza, de humildade, de desprendimento, de tolerância, etc.», cabendo aqui, claro está, o mais que a nossa experiência de vida como alvos destes métodos já nos ensinou.
Temos, pois, cinco candidaturas, e também um conjunto de definições consensuais, como carapuças que podem ser enfiadas... "José Saramago, in "Folhas Politicas", pág. 153 - Democracias e Demagogias (23 de Janeiro de 1986)
Estaremos todos condenados?!
ResponderEliminarTodos os dias encontro pequenas razões para lhe responder que não. Não. Não estamos todos condenados, desde que não nos calemos...
ResponderEliminarOi Rogério!
ResponderEliminarInfelizmente eu trabalho em uma Câmara de Vereadores... De democracia vejo pouco, mas de demagogia, vejo muito! Eu digo infelizmente porque era pra ser um bom lugar, a "Casa do Povo", como dizem os demagogos. Deveria sair das bocas deles para se tornar realidade, mas não é assim que se vê. Aliás, ando pensando em escrever sobre isso... Já são 15 anos lidando com essa gente.
Beijos
Carla
"Parece hoje..."
ResponderEliminarDemocracia e demagogia não deveriam constar na mesma página do dicionário, já que não são conciliáveis num mesmo "pensamento".
L.B.
Caro Rogério
ResponderEliminarSim "parece hoje"
Só que hoje há um conjunto de problemas que se agravaram. Hoje vive-se uma situação quase de não retorno. Hoje sente-se que a nossa soberania está em causa.
Por muita demagogia há verdades que a gente sente, muita gente, mais do que nunca.
Abraço
Concordo consigo na matéria da cassete. Plenamente. Extensível a todos. Infelizmente não aparecem cassetes novas e, assim, cada um tem que escolher entre a que lhe parece menos riscada.
ResponderEliminarMeu amigo.
ResponderEliminarHá quantos anos andamos a ver esta cassete? Há quantos anos repetimos os mesmos erros? Resta-nos novamente a esperança na mudança, será que é agora?
Tantas interrogações, tantas indefinições...
Beijinhos
Pois meu caro amigo
ResponderEliminarDia 23
lá estaremos
nas urnas
Caro Rogério
ResponderEliminarPalavras, frases tão adequadas aos momentos que se vive, claro que não podemos ficar calados. Gritar até que a voz nos dôa. Não sabemos se estamos ou não certos, mas o importante é fazer-nos ser ouvidos.
Beijo
"Tu és o nosso Deus", berrou o homem, como que possesso! Também vi, é de bradar aos céus!!!
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