07 janeiro, 2011

O mérito do trabalho do DN e o risco do uso de uma linguagem ambigua

Há coisas onde não dá para inventar. Se o valor da produção nacional é fraco – o PIB muito baixo é uma valente dor de cabeça, de estômago e de alma para os portugueses – uma qualquer percentagem sobre esse valor é um peso... pluma.
Do lado oposto, um país de PIB forte terá qualquer percentagem sobre esse valor um peso significativo. O peso do Estado nesses países de PIB forte é pesado como o caraças. Os 47,9% do nosso PIB são incomensuravelmente menos pesados que os 47,5% do PIB alemão, apesar de a sua expressão directa lhe ser superior (para já para não falar de países como a Suécia, a Dinamarca ou Finlândia onde o peso do Estado é “estupidamente” superior ao português).
Portanto o problema não é o peso do Estado mas sim a sua leveza. O problema não é a percentagem do PIB destinado à despesa pública mas sim a pequenez da nossa produção. Os problemas são as políticas de desenvolvimento, a falta de investimento público e a baixa produção nacional. O problema é o PIB, não o peso do Estado. Este é … um peso pluma!
Mas então não há que acabar com a proliferação de institutos, fundações e outras organizações que são sorvedouros de dinheiros públicos? Claro que sim, mas não lhe chamemos “gorduras”. Que se lhe dê os nomes apropriados: nepotismo, jogo de influências e “jobs for the boys”. Não é por nada, é só e apenas porque o uso de determinada linguagem poder servir para justificar o desaparecimento do Estado Social… O trabalho iniciado hoje, apenas em formato papel, no Diário de Notícias é louvável, até porque resulta de um saudável trabalho de investigação, mas embarca nesta ambiguidade de linguagem (ver noticia aqui).
Nesta perspectiva, mais do que saber as "gorduras" introduzidas por Cavaco Silva (chamada de primeira página) conviria saber como a "onda laranja" contribuiu para a destruição do aparelho produtivo nacional e como minou o Estado com "pessoas da sua confiança politica"...

24 comentários:

  1. ..."mais do que saber as "gorduras" introduzidas por Cavaco Silva (chamada de primeira página) conviria saber como a "onda laranja" contribuiu para a destruição do aparelho produtivo nacional e como minou o Estado com "pessoas da sua confiança politica"...
    Nem mais, e para que isso se tornasse mais claro era importante que o grande criador do monstro e destruidor do aparelho produtivo não fosse reeleito, como fatalmente irá ser, e isso será a próxima desgraça que vai cair em cima.

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  2. Aliás PSD e PS andam há décadas numa permanente maratona para ver quem arranja mais tachos. No outro dia aparece na TV o Presidente do Instituto para Estudos de Segurança... estou a chegar a velha e a descobrir que não consigo aprender os nomes de tantos Institutos...
    Fico à espera de aparecer na TV o Presidente do Instituto para Estudos dos pés frios lol lol

    Bjos

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  3. Cavaco Silva consegue - não sei como - passar a ideia de que está acima dos políticos (!!!) e que não tem a mínima responsabilidade na situação actual do país...

    Bom fim de semana.

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  4. Ariel
    Nunca a esquerda perdeu umas eleições presidenciais por culpas que me possam ser imputadas...(não fui eu quem disse)
    Mas haverá culpados se essa desgraça acontecer.(isto digo eu)

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  5. Isa,
    É isso. A sustentação da Democracia está nas mãos dessa gente... e a luta extrema é porque o Estado é pouco para duas clientelas numerosas... Mas o Estado é muito para os interesses que lhe querem apanhar serviços e empresas (que não são Institutos, nem Fundações nem fantasmagóricas organizações. Essas irão permanecer...)

    São
    eu sei. E o DN também...

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  6. Não entendo esta guerra de Fundações que cada partido quer sempre mais mas não as sustentam.

    Sacam o dinheiro dos nossos impostos para satisfazer caprichos de uns quantos que se julgam iluminados.

    Cada dia estou mais zarolho e por mais que leia não consigo entender nada....Esta açorda já cheira mal...

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  7. não entendo como este país chegou a este ponto. sinceramente, começo a pensar que a vinda do fmi seria uma lufada de ar fresco porque pior do que estamos, impossível. aquela notícia de ontem, que o bpn continua a gastar milhões que não tem, que seremos nós a pagar, deixou-me perplexa. perplexa fico sempre que ouço cavaco a auto-proclamar-se o salvador da pátria mas que, para isso, terá que ser reeleito. salvador de quê? ele tem lá estado... o que raio tem feito ele? parece mais um bibelot daqueles que a minha tia da terra tem à porta de casa: um cão de loiça que para ali está. sempre limpinho, sempre arrumadinho... inerte.

    triste vai o nosso país... e sem perspectivas de melhoras.

    abraçinho...

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  8. Lamento que ontem o meu precário e débil estado de saúde, me tenha feito recolher mais cedo que o habitual.
    Sobre o baixo valor do nosso produto interno bruto e a quem cabem as responsabilidades da sua resolução, as "maratonas tachistas" entre o Partido do Governo e o maior da oposição, etc.etc...eu digo (na minha santa ignorância)o seguinte:
    Criticar o que está mal e constactar o caos político e económico em que se encontra o nosso pobre País, é um direito legítimo adquirido há mais de 35 anos. Mas...onde estão as propostas de alternativa?? Quem se aventura a apontar soluções?? Onde estão os grandes estrategas políticosocioeconómicos para nos levar até a um porto seguro??
    Beijos
    Janita
    P.S. Rogério, se eu entender nas entrelinhas, alguma ténue insinuação de que estou a brincar com as palavras...

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  9. Caro Rogério
    Creio que se lembra da "agua mole"
    Há aquela velha expressão "a democracia é o pior dos sistemas à excepção de todos os outros".
    Por isso vamos aproveitando para mostrar e denunciar, usando os meios à nossa disposição e talvez a "agua mole" pode bater tanto que fure e cada um de nós possa contribuir para acabar com as "poucas vergonhas" que são mais que muitas.
    Abraço

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  10. Para clarificar águas: eu não sou do centro, nem de esquerda nem de direita. Sou pelo que é justo e pelos mais fracos. Ainda nas águas da clarificação, digo que vou votar Cavaco Silva, porque acho que, entre os que se apresentam a sufrágio, é o mais capaz para o lugar.
    Talvez, digo eu, se a maioria não votasse por ideologia ou por cor partidária, se antes de votar fizesse uma análise consciente, se votasse por valores mais elevados como competência, honradez, lisura de processos e por aí adiante, nós, com certeza, não estaríamos na desgraça que estamos.
    Outro fenómeno que me dá que pensar, e estou a referir-me ao geral e a ninguém em particular, é a tendência de associar aos líderes da cor preferida de cada um, qualidades e atributos que na realidade nunca se viram, nunca se mostraram e nunca se deram por eles.

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  11. Ainda só li um bocadinho, mas apeteceu-me de imediato escrever sobre o assunto. Talvez depois de visitar todos os amigos da bloga o faça. Isto é bom jornalismo. ao que me foi dado ler, mas tenho o fds para confirmar.

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  12. Luis Coelho,
    Um conselho
    Do resto, nem sou juiz
    Vote tendo em conta o que lhe diz...
    ...o seu nariz

    Caminhante,
    Bibelô? Apenas?
    Deixe-se dessas cenas
    Se nada tivesse feito
    não estariamos neste jeito...

    Janita,

    "Onde estão os grandes estrategas políticosocioeconómicos para nos levar até a um porto seguro??" Suponho que a brincar nas entrelinhas
    me está dizendo para ir buscar alguém ao Brasil, A Porto Seguro (ou a Porto Galinhas)
    Percebo, dava jeito um operário presidente...
    Seria excelente!

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  13. Folha SEca,
    è isso, mas a água mole já dá há muito na pedra dura e nunca mais fura...

    FMF
    Para clarificar águas diz-me que não é do centro, nem de esquerda nem de direita. Pois! Cada vez mais acho que um homem não é aquilo que diz ser mas o que vai fazer... É pena, julgava-o um homem capaz de uma outra cena.

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  14. Nenhum desses politicos é responsável pela situação catastrofica a que chegou o país.
    Será a culpa do Zé Povinho?

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  15. Caro Rogério,
    Julgava-me um homem capaz de outra cena? Que cena? Não votar de acordo com a minha consciência para ficar bem no retrato em certos meios?
    Nunca fui de modas. Sempre pensei com a minha cabeça. E o que vou fazer, repito, faço com convicção. Se me enganar cá estarei...

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  16. 1- Infelizmente vivemos num país que o que importa é ter um tachinho para sacar algo.
    2- Portugal produz do melhor que há, mas produz pouco, muito pouco...

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  17. FMF,
    Um homem é aquilo que faz
    e não o que proclama...
    disso lhe ficará a fama
    e a consciencia que diz ter

    Se vota Cavaco tenho pena
    e se depois disso
    escrevi "cena"
    não deve ligar
    foi só para rimar...
    (vou-lhe dedicar um post
    espero que goste)

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  18. Carlos Barbosa de Oliveira,
    Aparentemente o DN faz um bom trabalho que está disponível na versão impressa.
    Mas não diz o que realmente interess...

    Manuel Aldeias e Polliticus

    A situação catastrófica de uma dependencia externa total tem responsáveis. Falarei disso no post que vou preparar...

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  19. Só agora voltei a entrar ao "Serviço da Nação" e vejo que as coisas por aqui se animaram um bocado!
    Oxalá não me arrependa de, em vez de ir até ao meu cantinho tratar da minha nova postagem, ter vindo directa para sua casa.

    Rogério, se puder e quiser, satisfaça a minha curiosidade...
    Porquê ultimamente anda tão azedo e sarcástico??
    Será que anda a desassossegá-lo alguma frustraçãozita??
    Oh meu capitão...não desanime!

    Janita

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  20. A forma como os políticos que temos nos órgãos do poder, ao mais alto nível, se vão eximindo de culpas no que concerne ao estado do país, deixa pouca margem aos "crentes". E aos descrentes, como eu, deixa apenas a possibilidade de uma resposta configurada no voto.

    Sem saber porquê, surge-me, assim de repente, um título
    de Saramago - "Ensaio sobre a Lucidez"...

    Um beijo

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  21. Muito bem observado Rogério. A falta de rigor é um problema. E o rigor das palavras é um bom começo para se poder pensar bem as coisas. E por aí adiante. Mas, é com palavras que configuramos o mundo.

    :)))

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  22. Janita
    Até uma pessoa bonita
    se engana nos sabores...
    Nada do que sirvo é azedo
    pode ser vinagre
    mais acre
    que o balsãmico, sirvo apenas em "interregnos para coisas belas"...
    (e como não ter frustração, com o Estado da Nação?)

    Lidia,
    Obrigado por ter referido a (também) minha pouca margem de "crente" e pela dica para a minha "Homilia Dominical, citando Saramago" de amanhã. Será sobre o "Ensaio sobre a lucidez"...

    MdSol,
    O rigor das palavras, sempre.
    A coerência dos actos, sempre.
    E o saboroso travo de um bom vinagre...
    Assim se pretende meu blogue
    Espero que aprove

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  23. Volto, depois de ter lido os artigos de sábado, domingo e hoje no Dn e dos seus comentários lá no CR.
    No essencial, parece que estamos de acordo: os jornais precisam de ter jornalistas a fazer investigação.
    A prática caiu em desuso com a Internet, que criou o jornalista sentado, profissional do copy paste, que actua por força de reflexos Pavlovianos que lhe indiciam "isto é que está a dar".
    (Não estive em Portugal durante 10 dias mas, a impressão que fico é que o caso BPN foi mais empolado pelos jornais, do que pelos candidatos. Estarei enganado? Talvez...)
    Voltando ao assunto do GI do DN´. No meu post refiro que á ainda cedo para tirar conclusões, mas parece-me que se começam a evidenciar os riscos que o meu amigo muito bem aponta no seu post: não ir ao fundo da questão.
    Se isso vier a confirmar-se, terá sido uma perda de tempo.Ficaremos cheios de números, mas com uma visão distorcida da realidade.
    Há apenas uma coisa em que discordo da sua opinião. Na verdade, não penso que seja necessário tentar encontrar culpados do estado a que isto chegou. Será sempre bom, quendo o jornalismo nos fornecer os dados de forma imparcial e nos deixe tirar as conclusões.
    Resta saber se, no final da publicação dos artigos, esse objectivo se cumpriu ou, de forma mais ou menos encapotada, se tentou influenciar a opinião dos leitores, no sentido de encontrarem um culpado "construído" pelos jornalistas.
    Se assim for, terei de dar a mão à palmatória...
    Abraço e desculpe o espaço que lhe ocupei.

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  24. Carlos,
    Este espaço é seu e gosto de o ler. Julgo que falando acabaremos por concordar. Considero que num primeiro plano há que situar as causas e seus efeitos dando verdade ao passado para construir o futuro sem repetir erros e politicas erradas e erráticas. Num segundo plano, mas não num plano secundário, situo a importancia de encontrar os responsáveis. A palavra "culpado" talvez por ter carga fulanizada e de julgamento moral dos personagens que escrevem a história pode parecer desadequada. Usemos então a de "responsáveis" se for mais rigorosa... Mas usemos, pois a história faz-se com nomes...

    Abraço

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