Lisboa, foi a cidade escolhida para mais um dia não...
É sempre possível fazer das palavras o que se quiser, neste dia. Com palavras leves se falou de temas pesados. Com palavras pesadas se falou levianamente sobre a actualidade, sobre a história, sobre os portugueses espalhados pelo mundo, sobre Camões e sobre o futuro. Falou disso quem mal conhece do que realmente fala, porque não sente a nossa gente, porque não sente o poeta que lhe canta os feitos, desvelos e erros e nem lhe conhece a obra. Falou de um futuro sitiado por opções que reduzem o mundo a um só espaço que nos empobrece o corpo e nos reduz a alma. Falou "de paisagens mentirosas", para de seguida amedalhar quem se prestou a ser amedalhado. Será um dia não, havendo razões de sobra para poder ser um dia sim, e alguém isso ousou lembrar. O dia ficará na história do calendário, pois aí nenhum dia é eliminado...
HOMILIA DE HOJE
De paisagens mentirosasde luar e alvoradas
de perfumes e de rosas
de vertigens disfarçadas.
Que o poema se desnude
de tais roupas emprestadas
seja seco, seja rude
como pedras calcinadas
Que não fale em coração
nem de coisas delicadas
que diga não quando não
que não finja mascaradas
De vergonha se recolha
se as faces tiver molhadas
para seus gritos escolha
as orelhas mais tapadas
E quando falar de mim
em palavras amargadas
que o poema seja assim
portas e ruas fechadas
Ah! que saudades do sim
nestas quadras desoladas.
"Dia não", poema de José Saramago
Caro Rogério
ResponderEliminarQue dizer? Talvez o dia de Portugal da minha vida em que me sinto mais triste. Não deixei de colocar na sua página do facebook este poema, cantado e tocado por dois grandes senhores que nos foram dizendo coisas durante muitos e muitos anos. Curiosamente a ultima vez que estivemos juntos estava lá o cantor e um dos oradores de hoje, que "disparou" para o sítio certo.
Abraço
Rodrigo
Estou aqui há um tempão a olhar para a caixinha de comentários vazia... e é mesmo isso que eu sinto... um vazio... que, nestes dias, se vai agigantando.
ResponderEliminarBjos
Lisboa não tem culpa e Camões também não. Creio que ambos não merecem o que lhes estão a fazer no dia de hoje.
ResponderEliminarAchei lindo o poema de Saramago, parabéns pela postagem
ResponderEliminarBom domingo
Bjs Mary
«E quando falar de mim
ResponderEliminarem palavras amargadas
que o poema seja assim
portas e ruas fechadas»
...
L.B.
Não sou mulher de grandes saudades nem de lágrima fácil... mas começo a ter saudades do tempo em que poetava assim, em redondilhas "de enxurrada"... e do tempo em que conseguia andar sem grande esforço.
ResponderEliminarEstranhamente, as causas colectivas não me costumam remeter para o campo da saudade... essas desencadeiam uma vontade de mudar as coisas, de seguir em frente mesmo que seja para depois do meu tempo de vida. É diferente.
Mas não estou a comentar, acho eu... estou a desabafar. Vou ouvir o discurso.
Hoje simplesmente não vi as condecorações, os discursos ( ouvi só agora o que recomendou que obviamente aplaudo ), enfim passei o dia amargurada.
ResponderEliminarTal como o poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, «Este país te mata lentamente.»
Valha-nos os poetas!
beijinhos
Felizmente, nem tudo se perdeu.
ResponderEliminarAo ouvir falar o Sr. Professor Doutor António Sampaio da Nóvoa, alguma esperança em mim renasceu.
Muito belo este poema de Saramago.
A Poesia não deve servir apenas para falar de coisas do coração, mas também para saber dizer NÃO!
Por onde andam esses corajosos poetas, actualmente?
Um Beijo.
Tudo que li, hoje, sobre a data, foram palavras de melancolia, de desconforto e desesperança. Mas sei que os corações ansiosos ainda alimentam a expectativa de mudanças. E espero que venham, para acalmar os lares e despertar os sonhos populares.
ResponderEliminarO poema traz verdade e beleza.
Bjs.
Recuso-me e ver estas palhaçadas dos discursos do senhor Aníbal. Não tenho saúde! Mas tive oportunidade de ouvir o discurso do Professor António Nóvoa agora no blog de um amigo, e só lhe digo: adorei! Que belo discurso! E que recados amargos ele deixou para os "nossos" governantes. Devia ver as trombas do PR, do PM e da Barata Loura da Assembleia... Acho que não gostaram nada.
ResponderEliminarA que propósito o Lobo Xavier foi condecorado?!
Eu vi Graça,
ResponderEliminaro video está no link em "Alguém isso ousou lembrar"...
Excelente poema de Saramago....
ResponderEliminarCumprimentos
Também me recusei a ver fosse o que fosse...neste contexto valha-nos esta tua excelente homilia!
ResponderEliminarbjs
Caro Rogério
ResponderEliminarEscapou-me o link. Daí ter mandado o vídeo para o F.B.
Já uma vez me "puxou as orelhas" agora tinha motivo para o fazer outro vez.
De facto os seus posts são para ler por inteiro.Isto de ler na diagonal, dá asneira.
Desculpas e um abraço
Rodrigo