15 maio, 2013

Poesia (uma por dia) - 34


Do sentimento trágico da vida

Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

Natália Correia

8 comentários:

  1. As minhas memórias da Natália vêm de um período precoce da minha vida... gosto muito da poesia dela!


    Abraço!

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  2. Partilhei com a Natália
    diálogos longos e algumas viagens
    Uma poeta incontornável
    uma senhora com coluna

    Rogério
    boa escolha pá

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  3. Lembro-me de a ouvir, tinha um jeito próprio de declamar poesia.
    Uma mulher inconformada e rebelde.

    Revolta é ter-se nascido
    sem descobrir o sentido
    do que nos há-de matar.


    Muito apropriada esta sua excelente escolha.

    beijinho

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  4. É um belo poema, com a força de Natália Correia. Também me lembro de a ouvir.

    Beijinho

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  5. A força da Natália é força de Mulher!

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  6. Muito, muito bom! Palavras duras que só ela sabia rendilhar. (Não conhecia. Obrigada.)

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  7. Lindo poema meu amigo e muito verdadeiro...Todo ele é duro mas o final então é de mestre. Não conhecia os poemas desta poetisa. Beijos com carinho

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