29 setembro, 2020

Não o Sonho...

Talvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
apenas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.

Manuel António Pina

Poema que se ajusta ao momento, roubado ao Bulimundo


5 comentários:

  1. Obrigada, Rogério, por partilhares este poema do MAP, autor cuja poética muito me agrada.

    Forte abraço.

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  2. Um belo poema de desgosto em que nos revemos em certos momentos.

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  3. Sentimo-nos estranhos, quando só nos lembramos pelo lado de fora.
    Manuel António Pina encontra as palavras mais certas para dizer a cor desfocada da distância.

    Bj.

    Lídia



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  4. Aos poucos regressarás ao interior, quando o estado de choque passar!

    Abraço

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  5. Há que dar tempo ao tempo.
    Mas se mexer muito na ferida, se a não deixar cicatrizar, continuará a sangrar.

    Um abraço.

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