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Joaquim Bento e Mariana O aroma da lenha somado ao do café funcionava como um despertador para Mariana e ambos, após o pequeno matinal repasto, saiam para as lides da quinta, ela para tratar da criação, ele para os afazeres agrícolas com excepção da vaca que ele tinha por sua conta, na missão de levar-lhe a palha. "Vai lá tu, Joaquim, ela gosta mais de ti" disse-lhe Mariana, um dia, apontando o estábulo improvisado e já a caminho da pequena pocilga para tratar da porca, e depois dos gansos, e depois das galinhas, e depois aos pombos e só no fim os coelhos, quando ele trouxesse a erva que chegasse.Todos os animais da quinta tinham nome, mas só me lembro do dado ao cão, o "Naice" (assim escrito, conforme dito) e receio trocar os dos outros todos. Coisa imperdoável seria trocar o nome dado à porca por aquele que fora dado à vaca...Aquela quinta** dava tudo pois Joaquim Bento e Mariana assim o garantiam. Desde cereais a frutos, toda a espécie de hortícolas e tubérculos, vinho e até azeite. Tudo trabalhado a braço e a estrume, pois os animais além de boa carne, com exceção de um ou outro caso*, também garantiam o adubo orgânico que bastasse...Esta rotina, só era alterada nas férias, quando a quinta era invadida pela alargada família e Ti Joaquim Bento e Mariana, se por um lado tinham redobrada ajuda, por outro eram chamados a outras tarefas. Ele era solicitado a contar histórias***, ela a embalar sorrisos.Numa dessas férias, o meu tio Maurício, impressionado pelo que vira deixou a promessa de aligeirar o esforço de meu avô no levantar a pulso dezenas de baldes do poço, na tarefa empenhada na rega do pomar. "Não pode ser, num homem daquela idade".Promessa feita, promessa cumprida. E sem que já ninguém se lembrasse que a tinha feito, meses depois, meu tio trouxe uma bomba de água, provida de um pequeno moto-compressor e em segredo montou-o no poço. Chamou-o para lhe dar a surpresa e ele foi.Olhou a aparelhagem, muito sério. Meu tio, julgando que o seu ar seria porque se intimidara em lidar com a tecnologia, avançou com um "não custa nada!" e explicou tim-tim-por-tim como se fazia:"Aqui, liga o motor. Depois ferra a bomba, assim. E de seguida puxa este botão para cima". E repetiu tudo o que dissera, pondo a bomba a bombear. E bem depressa se enchia o tanque de rega.- "Está a ver?"- "Estou, mas não posso usar isso!"Surpreendido, questionou com um desiludido por quê. A resposta surgiu pronta.- "Sabes que levo meia-manhã a fazer tudo isso que esse zingarelho faz em minutos? Que faria nesse entretempo? E depois enquanto o faço, a braço-a-braço, recordo quando era grumete e baldeava o convés, com um balde que é tão parecido com este. Quando o elevo agora parece que volto a sentir a brisa do mar a desalinhar-me os cabelos. Este esforço que faço agora ajuda-me a fazer perdurar tal memória. Se isso se for, vou eu atrás!"Meu tio e todos nós mal tínhamos presente que Joaquim Bento fora marujo e nem nos passava pela mente que era com memórias de mar que ele tão bem cultivava a terra.
* "Este Natal não há peru"
** "Escolas da minha vida: a quintinha dos meus avós"
*** "A Flauta (aquela que agora me faz tanta falta)"
Um dia muito bonito para sempre recordar. Logo eu que também sou, com muito orgulho, avô.
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Um dia feliz. Cumprimentos.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Vivi uma infância feliz junto dos avós paternos e maternos.
ResponderEliminarAbraço