EM DIA DE CAMÕES, COISAS SOBRE A TRISTEZA QUE POR AÍ PAIRA E PESA
Não se Diz ao Triste que se Alegre
Pouco sabe da tristeza quem, sem remédio para ela, diz ao triste que se alegre; pois não vê que alheios contentamentos a um coração descontente, não lhe remediando o que sente, lhe dobram o que padece. Vós, se vem à mão, esperáreis de mim palavrinhas joeiradas, enforcadas de bons propósitos. Pois desenganai-vos, que, desde que professei tristeza, nunca mais soube jogar a outro fito. E, porque não digais que sou gente fora do meu bairro, vedes, vai uma volta feita a este mote, que escolhi na manada dos enjeitados; e cuido que não é tão dedo queimado que não seja dos que el-rei mandou chamar; o qual fala assim:
Não quero e não quero jubão amarelo.
Se de negro for também me parece quanto me aborrece toda a alegre cor: cor que mostra dor, quero e não quero jubão amarelo.
Parece-vos que se pode dizer mais ? Não me respondais: «Quem gabará a noiva?» Porque assentai que foi comendo e fazendo, ou assoprando, que não é tão pequena habilidade. E, porque vos não pareça que foi mais acertar que querê-lo fazer, vedes, vai outra do mesmo jaez, contanto que se não vá a pasmar:
Perdigão perdeu a pena, não há mal que lhe não venha.
Em um mal outro começa, que nunca vem só nenhum; e o triste que tem um a sofrer outro se ofereça; e só pelo ver, conheça que basta um só que tenha para que outro lhe venha.
Luís Vaz de Camões, in "Cartas"
E quando estava quase a sentir-me Alegre... vem isto e volto a sentir-me Triste
Sobre o texto de Camões, tais palavras evidenciam que o Salazarismo com o seu "Dia da Raça" mostrava uma Camões e escondia este que ainda mais admiro Sobre o gajo do "Tás a ver?" (Conan Osiris) a coisa é mesmo muito complicada pois a grande maioria dos jovens assumem estes tiques de linguagem...
Como estás quase a chegar, alerto para a minha resposta ao comentário que deixei à Janita onde faria sentido referir que tu tens tido um papel extraordinário a divulgar o Camões desconhecido...
Justiça seja feita ao José Silva Costa do blog Sociedade Perfeita que tem estado a divulgar dezenas e dezenas de sonetos de Camões. Foi ao blog dele que fui buscar todos os sonetos aos quais respondi, também em soneto camoniano, vestindo a pele de várias das amadas de Camões. Os sonetos de Camões não tão desconhecidos como isso e alguns até estão musicados mas, na verdade, quase todos associamos o seu nome ao Os Lusíadas que foi todo escrito em oitavas de verso decassilábico heroico, e tendemos a esquecer a sua obra lírica.
A língua é uma cena que tá sempre a mudar, o vocabulário e a construção gramatical vão-se simplificando cada vez mais, até chegarem ao nível do grunhido, tás a ver?
É verdade que isto é um retrato de uma certa juventude, que é cada vez mais analfabeta e, o que é mais grave, que se julga bué genial no seu analfabetismo e ainda por cima se orgulha disso, tás a ver? Mas não é o retrato da juventude toda. Li recentemente, já não sei onde, que os jovens mais jovens estão a curtir ler mais do que os seus irmãos mais velhos e do que os seus próprios pais. Há que não perder a esperança. A edição deste ano da Feira do Livro de Lisboa é a maior de sempre e a Feira do Livro do Porto, que só se realiza em setembro, também tem vindo a crescer de ano para ano. Esperemos que daqui por alguns anos o resultado seja bué da fixe e se inverta o recuo em curso até à Idade da Pedra Lascada, mano.
Quem não tem não pode dar.
ResponderEliminarCoitado, de ser ignorante
ele(a) não é culpado...
Tás a ver?
Culpado é quem sabe,
e é bem informado
e lhe dá tempo de antena
como se tal criatura
fosse um catedrático.
Afinal, tudo aqui
a mim inspirou muita pena.
Tás a ver?
Salvou a honra do convento
o pássaro de Camões;
o depenado perdigão,
e o teu gibão amarelo,
____ senão...
Sobre o texto de Camões, tais palavras evidenciam que o Salazarismo com o seu "Dia da Raça" mostrava uma Camões e escondia este que ainda mais admiro
EliminarSobre o gajo do "Tás a ver?" (Conan Osiris) a coisa é mesmo muito complicada pois a grande maioria dos jovens assumem estes tiques de linguagem...
Bjinho
Tenho de voltar amanhã, tipo, lá para as onze horas... Acho que estou bué ensonada e não percebi nem uma beca do que o rapazinho disse, tás a ver? :(
ResponderEliminarComo estás quase a chegar, alerto para a minha resposta ao comentário que deixei à Janita onde faria sentido referir que tu tens tido um papel extraordinário a divulgar o Camões desconhecido...
EliminarAté já
Justiça seja feita ao José Silva Costa do blog Sociedade Perfeita que tem estado a divulgar dezenas e dezenas de sonetos de Camões. Foi ao blog dele que fui buscar todos os sonetos aos quais respondi, também em soneto camoniano, vestindo a pele de várias das amadas de Camões.
EliminarOs sonetos de Camões não tão desconhecidos como isso e alguns até estão musicados mas, na verdade, quase todos associamos o seu nome ao Os Lusíadas que foi todo escrito em oitavas de verso decassilábico heroico, e tendemos a esquecer a sua obra lírica.
Um grande abraço!
Acho que não vou comentar.
ResponderEliminarLi e intui.
Mas, fiquei triste ao ouvir o video.
O mais grave é que é muito comum.
Tás a ver pá?!
um beijo
;)
Mesmo quando não comentas
EliminarQuando aqui vens, dizes o que pensas
De facto esta é a linguagem que fez nascer o meu teatrinho...
Beijo
Um crime passar isto na televisão!
ResponderEliminarCamões é um génio na lírica e na epopeia!
Abraço
E lembro que este idiota
Eliminarganhou (em 2020) o Festival da canção
e foi passar na Eurovisão
Camões é... mais que isso
Abraço
A língua é uma cena que tá sempre a mudar, o vocabulário e a construção gramatical vão-se simplificando cada vez mais, até chegarem ao nível do grunhido, tás a ver?
ResponderEliminarÉ verdade que isto é um retrato de uma certa juventude, que é cada vez mais analfabeta e, o que é mais grave, que se julga bué genial no seu analfabetismo e ainda por cima se orgulha disso, tás a ver? Mas não é o retrato da juventude toda. Li recentemente, já não sei onde, que os jovens mais jovens estão a curtir ler mais do que os seus irmãos mais velhos e do que os seus próprios pais. Há que não perder a esperança. A edição deste ano da Feira do Livro de Lisboa é a maior de sempre e a Feira do Livro do Porto, que só se realiza em setembro, também tem vindo a crescer de ano para ano. Esperemos que daqui por alguns anos o resultado seja bué da fixe e se inverta o recuo em curso até à Idade da Pedra Lascada, mano.