10 junho, 2024

EM DIA DE CAMÕES, COISAS SOBRE A TRISTEZA QUE POR AÍ PAIRA E PESA




Não se Diz ao Triste que se Alegre


Pouco sabe da tristeza quem, sem remédio para ela, diz ao triste que se alegre; pois não vê que alheios contentamentos a um coração descontente, não lhe remediando o que sente, lhe dobram o que padece. Vós, se vem à mão, esperáreis de mim palavrinhas joeiradas, enforcadas de bons propósitos. Pois desenganai-vos, que, desde que professei tristeza, nunca mais soube jogar a outro fito. E, porque não digais que sou gente fora do meu bairro, vedes, vai uma volta feita a este mote, que escolhi na manada dos enjeitados; e cuido que não é tão dedo queimado que não seja dos que el-rei mandou chamar; o qual fala assim: 
Não quero e não quero 
jubão amarelo. 

Se de negro for 
também me parece 
quanto me aborrece 
toda a alegre cor: 
cor que mostra dor, 
quero e não quero 
jubão amarelo. 

Parece-vos que se pode dizer mais ? Não me respondais: «Quem gabará a noiva?» Porque assentai que foi comendo e fazendo, ou assoprando, que não é tão pequena habilidade. E, porque vos não pareça que foi mais acertar que querê-lo fazer, vedes, vai outra do mesmo jaez, contanto que se não vá a pasmar: 

Perdigão perdeu a pena, 
não há mal que lhe não venha. 

Em um mal outro começa, 
que nunca vem só nenhum; 
e o triste que tem um 
a sofrer outro se ofereça; 
e só pelo ver, conheça 
que basta um só que tenha 
para que outro lhe venha. 

Luís Vaz de Camões, in "Cartas"

E quando estava quase a sentir-me Alegre... vem isto e volto a sentir-me Triste


(Uma língua linda, anda por aí, assassinada) 

 

10 comentários:

  1. Quem não tem não pode dar.
    Coitado, de ser ignorante
    ele(a) não é culpado...
    Tás a ver?

    Culpado é quem sabe,
    e é bem informado
    e lhe dá tempo de antena
    como se tal criatura
    fosse um catedrático.

    Afinal, tudo aqui
    a mim inspirou muita pena.
    Tás a ver?

    Salvou a honra do convento
    o pássaro de Camões;
    o depenado perdigão,
    e o teu gibão amarelo,
    ____ senão...

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    1. Sobre o texto de Camões, tais palavras evidenciam que o Salazarismo com o seu "Dia da Raça" mostrava uma Camões e escondia este que ainda mais admiro
      Sobre o gajo do "Tás a ver?" (Conan Osiris) a coisa é mesmo muito complicada pois a grande maioria dos jovens assumem estes tiques de linguagem...

      Bjinho

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  2. Tenho de voltar amanhã, tipo, lá para as onze horas... Acho que estou bué ensonada e não percebi nem uma beca do que o rapazinho disse, tás a ver? :(

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    1. Como estás quase a chegar, alerto para a minha resposta ao comentário que deixei à Janita onde faria sentido referir que tu tens tido um papel extraordinário a divulgar o Camões desconhecido...

      Até já

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    2. Justiça seja feita ao José Silva Costa do blog Sociedade Perfeita que tem estado a divulgar dezenas e dezenas de sonetos de Camões. Foi ao blog dele que fui buscar todos os sonetos aos quais respondi, também em soneto camoniano, vestindo a pele de várias das amadas de Camões.
      Os sonetos de Camões não tão desconhecidos como isso e alguns até estão musicados mas, na verdade, quase todos associamos o seu nome ao Os Lusíadas que foi todo escrito em oitavas de verso decassilábico heroico, e tendemos a esquecer a sua obra lírica.

      Um grande abraço!

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  3. Acho que não vou comentar.
    Li e intui.
    Mas, fiquei triste ao ouvir o video.
    O mais grave é que é muito comum.
    Tás a ver pá?!

    um beijo
    ;)

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    1. Mesmo quando não comentas
      Quando aqui vens, dizes o que pensas

      De facto esta é a linguagem que fez nascer o meu teatrinho...

      Beijo

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  4. Um crime passar isto na televisão!
    Camões é um génio na lírica e na epopeia!

    Abraço

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    1. E lembro que este idiota
      ganhou (em 2020) o Festival da canção
      e foi passar na Eurovisão

      Camões é... mais que isso

      Abraço

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  5. A língua é uma cena que tá sempre a mudar, o vocabulário e a construção gramatical vão-se simplificando cada vez mais, até chegarem ao nível do grunhido, tás a ver?

    É verdade que isto é um retrato de uma certa juventude, que é cada vez mais analfabeta e, o que é mais grave, que se julga bué genial no seu analfabetismo e ainda por cima se orgulha disso, tás a ver? Mas não é o retrato da juventude toda. Li recentemente, já não sei onde, que os jovens mais jovens estão a curtir ler mais do que os seus irmãos mais velhos e do que os seus próprios pais. Há que não perder a esperança. A edição deste ano da Feira do Livro de Lisboa é a maior de sempre e a Feira do Livro do Porto, que só se realiza em setembro, também tem vindo a crescer de ano para ano. Esperemos que daqui por alguns anos o resultado seja bué da fixe e se inverta o recuo em curso até à Idade da Pedra Lascada, mano.

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