Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade
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Julien Assange está finalmente livre. Depois de treze longos anos de calvário. Em 2012 fiz-lhe este “retrato”, quando se encontrava confinado na embaixada do Equador em Londres e o seu calvário ainda estava no início. Depois, haveria de ser vergonhosamente entregue aos bifes e encerrado nas masmorras da pérfida Albionperante a indiferença cínica dos meios de comunicação a quem ele tinha oferecido gratuitamente notícias frescas e verdadeiras.
O mesmo país que se recusou a extraditar Pinochet para ser julgado no seu país e andou anos a ameaçar extraditar Assange para os Estados Unidos da América, onde se arriscava a uma pena perpétua, concedeu-lhe finalmente a liberdade; sob a condição de se considerar culpado... de ter violado a lei de espionagem – dos Estados Unidos da América.
É claro que Assange, como Galileu Galilei, confessou o “crime”: "Quando trabalhei como jornalista, incentivei a minha fonte a fornecer informações consideradas confidenciais para que eu pudesse publicá-las” e também pode ter suspirado algo muito semelhante: “e no entanto, são todas verdadeiras”.
Assange é aquele género de jornalista que além de publicar factos que são verdade, mesmo quando eles são muito confidenciais e a sua divulgação considerada muitíssimo inconveniente, também publica as provas.
- Sem Julien Assange, nunca saberíamos dos inúmeros crimes de guerra e violações dos direitos humanos perpetrados pelo exército e pelos serviços secretos dos Estados Unidos da América no Iraque e no Afeganistão, por exemplo.
- Sem Assange nunca saberíamos, por exemplo, que em Portugal, o presidente Cavaco deu aval à sórdida trasfega de carne humana para Guantánamo congratulando-se, na sua cândida e malévola imbecilidade, porque o país “tem uma imprensa muito suave”.
- Sem Assange nunca saberíamos que os serviços secretos dos Estados Unidos Da América fizeram escutas secretas grosseiras e ilegais a estadistas de países aliados, como o Brasil ou a Alemanha, por exemplo.
- Mas Assange deu-nos a saber mais, muito mais, coisas que nunca saberíamos só pelos jornais. E até coisas que os nossos jornais, com os seus mui suaves critériosinhos d’oportunidade, nunca divulgaram; mesmo quando lhes foram oferecidas, de graça, por Julian Assange.
Eu, por exemplo, ainda estou à espera da lista dos “jornalistas” avençados do senhor Salgado. Bem sei que posso fazê-lo sentado; ainda que sinta que nunca estarei tão confortável e impassível como a nossa imprensa de referência a assistir ao calvário de Julien Assange.
Nota de rodapé: A frase em epígrafe é com frequência atribuída erroneamente a George Orwell. A citação também costuma ser atribuída a William Randolph Hearst. Porém, na referência mais antiga da citação de que se tem notícia (1918), a autoria da frase é desconhecida.
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Lamento muito amigo Rogério, mas perante esta insistência em falar de Assange, desta vez falando até em calvário...nunca te li nada sobre o verdadeiro calvário sofrido por Alexei Navalny , às mãos do cruel e déspota Putin.
ResponderEliminarE qual foi o seu crime? Opor-se às suas ideias e métodos terroristas...de forma frontal e honesta e legal...
Beijinho
Vamos lá ter um peso e uma medida, Ok?
Tens razão, nunca deixei escrito
Eliminarqualquer tema de cujo enredo duvido
e
há mesmo dois pesos
há mesmo duas medidas
as farinhas
são de diferentes sacos
Beijinho
Não é possível comparar Navalny com Assanje.
ResponderEliminarNavalny era financiado pelas ONG´s ocidentais o que significa que era financiado por potências estrangeiras sob a capa de combater a corrupção ( uma posição bem vista aos olhos de qualquer sociedade) para ter intervenção política a favor dos interesses ocidentais.
A ironia da coisa é que a maioria da corrupção vem daqueles que são chamados de Atlantistas ou seja aqueles que são a favor da integração da Rússia na pax Americana sabendo que isso significa a longo prazo o desmembramento da Rússia.
A ironia é a de que Navalny era financiado pelo ocidente para combater a corrupção praticada por aqueles que serviam o ocidente.
Isto é que é política, alta politica.
Depois temos o processo judicial, acusado de fraude, apropriação de verbas pertencentes á subsidiária Russa da Lóreal Francesa,
Acho que é uma resposta acertada ao comentário da Janita
EliminarApareceu-me no écrã, há poucos minutos, um artigo de um jornal canadiano com o título “A indecência moral de Julian Assange”. Recordo-me de ter visto o título deste teu post ao qual não comentei, por razões óbvias, mas pensei em dar-te a conhecer apenas três parágrafos, que até não são os mais importantes, mas os mais curtos:
ResponderEliminar“A indecência moral de Julian Assange”
“A adulação de Assange como herói da liberdade de expressão é um indicador claro, um sinal de indecência moral. Afirmar que o fundador da Wikileaks é um “jornalista” denunciante em qualquer sentido convencional do termo é uma prova irrefutável de um completo desconhecimento das convenções e deveres fundamentais do jornalismo.”
“Apenas um erro (deduz-se um de entre muitos – frase minha) foi a afirmação da Wikileaks de que as tropas norte-americanas mataram quatro soldados canadianos em Panjwai em 2006; as Forças canadianas negaram veementemente a alegação, fornecendo provas de que os soldados morreram num tiroteio com os talibãs.”
“Acontece que o dossier de chantagem de Assange contra o presidente equatoriano Lenín Moreno consistia em fotografias de Moreno a comer lagosta na cama. O Equador acabou por retirar a Assange a sua cidadania equatoriana e expulsou-o da embaixada.”
Se tal artigo passa ao lado do que Julian denunciou na guerra do Iraque e do Afeganistão... então fico desde já com a minha opinião... e ocorrem-me palavras de Saramago:
Eliminar"Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro."
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarRemovi o comentário anterior porque não iria acrescentar nada que tivesse de ser mencionado.
EliminarAbraço