17 junho, 2012

Homilia dominical (citando Saramago) - 88


Olharei, depois da visita, o mundo talvez com os olhos com que o via a Rita, a pedido dele. 

HOMILIA DE HOJE
"Esta Rita a quem quero parecer-me quando for crescido é Rita Levi-Montalcini, ganhadora do Prémio Nobel de Medicina em 1984 pelas suas investigações sobre o desenvolvimento das células neurológicas. (...) Disse ela: “Nunca pensei em mim mesma. Viver ou morrer é a mesma coisa. Porque, naturalmente, a vida não está neste pequeno corpo. O importante é a maneira como vivemos e a mensagem que deixamos. Isso é o que nos sobrevive. Isso é a imortalidade”. E disse mais: “É ridícula a obsessão do envelhecimento. O meu cérebro é melhor agora do que foi quando eu era jovem. É verdade que vejo mal e oiço pior, mas a minha cabeça sempre funcionou bem. O fundamental é manter activo o cérebro, tentar ajudar os outros e conservar a curiosidade pelo mundo”. E estas palavras que me fizeram sentir que havia encontrado uma alma gémea: “Sou contra a reforma ou outro qualquer outro tipo de subsídio. Vivo sem isso. Em 2001 não cobrava nada e tive problemas económicos até que o presidente Ciampi me nomeou senadora vitalícia”. Nem toda a gente estará de acordo com este radicalismo. Mas aposto que muitos dos que me lêem vão também querer ser como Rita quando crescerem. Que assim seja. Se o fizerem tenhamos a certeza de que o mundo mudará logo para melhor. Não é isso o que andamos a dizer que queremos? Rita é o caminho" 
José Saramago - "Quando for crescido quero ser como Rita" - 2008

6 comentários:

  1. Não conhecia este texto. Concordo com quase todas as afirmações. Coloco algumas reticências quanto à capacidade de crescimento de cada um de nós, ao ponto de oferecermos tudo o que temos sem pedirmos nada em troca. É um altruismo elevado à esfera dos deuses, no mínino.


    Lídia

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  2. Claro que tem razão, querida amiga Lídia.
    Mas... se o Homem se quer superar devemos aceitar que coloque exigências elevadas a si próprio. Não é verdade que hoje se fazem atrocidades que antes só podiam ser pensáveis como obras do demónio? Porque não aceitarmos o desígnio de podermos ser deuses bons?

    Rita é um caminho!

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  3. Tal como Saramago, também eu gostaria de ser como a Rita! Viver até aos cem anos com a mesma ludidez e presença de espírito.
    Não concordo é com a não aceitação de pensão de reforma ou subsídios estatais.
    As dificuldades porque a senhora afirma ter passado, provavelmente não foram de falta de alimento ou de um tecto.
    Espero, em Agosto, ter oportunidade de fazer uma visita à Casa dos Bicos.
    Beijos.

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  4. O caminho ideal seria sem dúvida o de Rita, se todos pudessemos viver do nosso trabalho até ao fim dos nossos dias, porque não precisamos de muito para viver, não precisamos de tanto quanto a maioria de nós imagina que tem que ter.

    Mas, nem todos têm a sorte de ter esta lucidez, esta saúde e poderem sobreviver sem uma reforma e a prova disso é que já muitos idosos deixam de tomar os medicamentos que precisam por dificuldades económicas, quer porque as reformas não têm aumentado, quer porque a vida e os medicamentos estão mais caros, quer porque o serviço Nacional de Saúde está cada vez pior.

    Que pena que os nossos idosos não possam ser todos ou pelo menos na sua maioria "Ritas"

    Mas, apesar de tudo, casos pontuais como este são bem interessantes e eu gostaria mesmo de ser um deles.

    Beijinhos, Rogério.
    Branca

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  5. "... O fundamental é manter activo o cérebro, tentar ajudar os outros e conservar a curiosidade pelo mundo. "

    Concordo em absoluto, e o mundo tanto que ganharia.

    beijinhos

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  6. Li os posts superiores e estão uma maravilhosa prova da tua imaginação: criativo e crítico! Gosto desse espírito. Porém, eu não poderia perder esta Conversa, pois sou uma assumida fã!

    Bj

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