"...Eu, de facto, gostava de querer, simplesmente, não interessa o quê, gostava de ter vontade de algo, mas nada. Entende?- Entendo, sim senhor.- Diante do mundo frio ou quente, encolho os ombros. Diante dos baixos e dos altos encolho os ombros, diante dos convites e dos ataques encolho os ombros. Enfim, começo a ter dores musculares.- Onde?- Nos ombros.- Entendo. Mas sabe, o meu problema é diferente do problema de Vossa Excelência. Vossa Excelência, diante de um caminho que vira para a direita e um caminho que vira para a esquerda... não vira para lado nenhum. É isso? Senta-se, por assim dizer, a meio do cruzamento. É assim?- Mais ou menos.- Pois, comigo é o inverso: quero ir ao mesmo tempo para os dois lados; tenho duas vontades exactamente opostas exactamente ao mesmo tempo.- Como? Como?- Vou repetir: tenho duas vontades exactamente opostas exactamente ao mesmo tempo.- Agora entendi. Vossa Excelência fala muito rápido.- Mas é isso. Bem que facilitaria ter agora uma vontade e dois minutos depois a vontade oposta. Se fosse assim, apesar de tudo, resolver-se-ia. Mas assim: ter duas vontades exactamente opostas exactamente ao mesmo tempo... assim, é impossível viver.- Impossível.- É que eu viro os meus olhos para um lado e os meus pés para o outro. Tropeço, claro, e acabo por não ir para lado nenhum. No fundo, acabo como Vossa Excelência: no meio do cruzamento, imóvel.- Eu diria que ter duas vontades opostas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter vontade nenhuma. Acaba sempre na imobilidade.- É isso, excelência. É uma questão de matemática: duas acções com sinal contrário igual a... zero. Mais sete menos sete igual a zero.- Portanto, como o final é o mesmo eu diria que a minha não acção é mais sensata: não faço força nem para um lado nem para outro, deixo-me estar.- E está bem assim."Gonçalo M. Tavares (aqui)
18 junho, 2013
Gonçalo M. Tavares, também contribuiu para que me decidisse... não me deixei estar
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não sou de Oeiras mas, como acho o exercício de funções em órgãos locais e autárquicos um acto de cidadania, desejo-lhe boa sorte e um bom trabalho, independentemente dos resultados!
ResponderEliminarNão há imobilidade que te demova. Ainda bem.
ResponderEliminarAbraço
Muito bem, este Gonçalo M. Tavares - o nosso próximo Nobel - mas muito difícil de interpretar!
ResponderEliminarGenial, este artigo do Gonçalo M. Tavares! Discordo da Graça Sampaio, quanto à interpretação deste específico texto.
ResponderEliminarAbraço!