Chegara ali apoiada em mim e por quem mais a isso se prestara, amparando seu andar trôpego, mas firme. Entre a porta de entrada e a sala parámos algumas vezes. Sentou-se na fila da frente. O inicio da sessão foi, como se esperava, pleno de silencioso respeito.
Sob a projecção da imagem de Sophia, ia acontecendo o alinhamento programado da sessão, e nele coube Domingos Lobo apresentar trabalho seu sobre a obra, a poetisa, a cidadã, a mulher e sobre "a fala cúmplice, essa necessidade de relação com o outro, com Jorge de Sena, porventura o mais prolongado diálogo epistolar da nossa Literatura. Jorge de Sena enviando a Sophia um exemplar da sua Pedra Filosofal». Quando de seguida, Domingos Lobo, passou a ler a missiva de Jorge a Sophia, olhei a testa franzida e incrédula dela. Não sei se a minha também não estaria assim, eu que me confesso pouco conhecedor da obra de Jorge de Sena...
A sessão continuou e foi como no próximo domingo contarei. No fim, comentámos a nossa incredulidade sobre a autoria da Pedra Filosofal, e a coisa ficou por aqui não sem antes termos trocado eufóricos adjectivos sobre a sessão.
Chegado a casa, fui tirar a limpo, e dei com este poema de Jorge de Sena que certamente Sophia também terá lido:
BALADA DAS COISAS E NÃO
Há coisas na vida mais belas que a vida
coisas terríveis tão belas ocultas
que coisas não são
sabemos acaso os nomes o gesto
da incerta presença
sorriso mais vago
perfume sonhado
sombras solenes
luzeiros tremendo
ah não
sentir não sentimos
pensar não pensamos
nem mesmo que é nada
se é belo ou não belo
se parte se fica
se é excesso ou se é resto
há coisa terríveis
estranhas não são
alheias dispersas
talvez também não
mais belas que a vida
que a vida perdida
ansiosa ou maldita
diremos acaso que nomes que gesto
mas quais e porquê?...
Ah não.
JORGE DE SENA,in PEDRA FILOSOFAL (1950),
Obrigada Rogério tive pena de não saber. Embora fosse dificil ir aí. Tenho andado também preocupada com a mãe da minha nora que está hospitalizada e a minha neta tem ficado mais comigo. Mas agradeço tudo o que fazes pela Maria João de Sousa. É bom saber que está melhor. Ela iria fazer nos muita falta. Só tenho pena que a sua poesia não seja devidamente conhecida. A cultura ficaria mais Rica e talvez a Maria João tivesse mais ajuda para sobreviver.U.m beijinho Rogério.
ResponderEliminarQue imagem impactante. Um olhar de atenção e desejo de escutar com vontade. A poesia sempre nos embala para seguir adiante.
ResponderEliminarGostei tanto de ver a Maria João. Foi a primeira imagem que me apareceu quando abri hoje o FB.
ResponderEliminarQue continue a recuperar a saúde é o meu desejo.
De Jorge Sena até há dois anos eu só conhecia o nome. Há dois anos estudá-mo-lo na aula de "A arte de dizer". E fizemos uma apresentação sobre ele no dia da poesia.
Abraço e bom fim-de-semana
E não é que também eu me engano redondamente? Obrigada por mo recordares.
ResponderEliminarAgora que o corpo me pesa tanto que me vai impedindo os vôos de pardal que durante tantos anos preencheram o meu dia a dia, aguardo pacientemente - ou nem tanto... - um soprozinho de vento que me impulsione. Nada, por enquanto.
Também peço desculpa a todos os que pontualmente deixei de visitar. Conforme disse, aguardo o soprozinho de um vento impulsionador que parece nunca mais chegar...
À vontade, por muito que isso me custe, preciso de a guardar inteirinha para os rituais básicos da sobrevivência física. É que por muito que me esforce por manter-me minimamente activa, sobrevivi muito recentemente a demasiadas tempestades físicas e, acreditem ou não, algumas delas deixaram estragos que não terão retorno.
Forte abraço.
Gostei de ler:))
ResponderEliminarBjos
Votos de um óptimo sábado.
A fotografia da Maria João Brito de Sousa é tão poderosa, que quase esqueci o Jorge de Sena, um dos maiores poetas portugueses.
ResponderEliminarForte abraço para ambos 🌹
Sempre com um ar fresco e lindo, a Poetisa Maria João!
ResponderEliminarFoi com enorme prazer que a vi aqui.
Para mim, «Pedra Filosofal» só há uma.
Contudo, gostei deste poema de Jorge de Sena.
Um beijinho para ela.
.
...a Maria João, claro. E um abraço para si, Rogério.
ResponderEliminarConheço mal Jorge de Sena e como prosador, adorei o poema!
ResponderEliminarAbraço
Rosa dos Ventos
Caras amigas
ResponderEliminar(registo
não ter aparecido
um único amigo)
Sobre a Maria João vamos continuar a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance...
Sobre Jorge de Sena
é quase desconhecido
o que é pena
O que desde já assumo
ser um desafio,
dá-lo a conhecer no futuro
Caro Rogério,
ResponderEliminarRegista não ter aparecido um único amigo, mas não é por culpa minha. O meu computador tem estado engalinhado. Está mais lento do que um caracol. Suspeito que um vírus está a usá-lo para "produzir" dinheiro virtual (bitcoins ou algo parecido) para alguém, mas todas as tentativas para localizá-lo e eliminá-lo foram até agora em vão.
Mas era sobre Maria João que eu queria falar. Gostei muito de a ver na fotografia. Tem parecenças com uma tia minha que morava na Rebelva e faleceu há meia dúzia de anos (tenho uma família repartida entre a Grande Lisboa e o Grande Porto). Desejo à Maria João, com toda a sinceridade, as melhoras (tão completas quanto possível), pois o mundo está carente da sua poesia e da sua profunda humanidade. Fazem falta pessoas assim.
Um abraço para si e dois para a Maria João
Fernando Ribeiro