08 janeiro, 2020

Rés-vés Campo de Ourique...


A expressão "resvés (ou rés-vés) Campo de Ourique" remonta a 1755 quando o terremoto assolou Lisboa tendo destruído a cidade até à zona de Campo de Ourique, que ficou intacta. Passeando pelo bairro não me dou conta que um outro tsunami silencioso o ameaça. Poderá dizer-se que o que está a acontecer na baixa e nos bairros históricos de Lisboa não é a sua destruição mas também se poderá dizer que é. O edificado mantém-se lá, mas as suas populações são obrigadas a sair.  Na baixa de Lisboa, Bairro Alto, Alfama, Anjos, as ruas, praças, jardins e avenidas estão pejadas de gentes de todas as partes e os andares e lojas também. Não me apercebo que o mesmo esteja a acontecer a Campo de Ourique pois ao percorrer as ruas cruzo-me com muita gente e não me parece o que na realidade já acontece, ou vai acontecendo. Há quem assegure a zona está a mudar, mas a transformação não é sentida da mesma forma por todos. Há lojas a nascerem, mas também muitas a fechar logo após abrirem portas. Diz-se que "Na freguesia com um dos valores por metro quadrado mais caros da cidade, jovens casais de classe média viram-se obrigados a sair das casas onde começaram a constituir família. No bairro eleito por estrangeiros para comprar casa, sente-se um aumento dos franceses, italianos e alguns nórdicos"
Sento-me num banco do Jardim da Parada e por lá fiquei vendo passar gente, de um lado para o outro e tento adivinhar naquele rosto e noutro um estrangeiro. Aguço o ouvido e tento descobrir um linguarejar diferente. Olho em frente e dou-me conta de uma cabine telefónica cuja porta se abre para dar entrada a uma jovem com uma braçada de livros. Estranhando, fui dali a lá e perguntei com a curiosidade espantada.
"Está a pôr livros nesta cabina? Isto é..."
Nem terminei a pergunta pois resposta apareceu pronta
"Isto é a biblioteca cá do Bairro. Já teve altos e baixos. Havia moradores a doar e eram de seguida roubados. A persistência tem até agora vencido. Acredite que tem movimento! Até gente nova cá vem, leva e depois trás!"
Insisto com outra pergunta,
"E quem promoveu a iniciativa?"
Apontando a placa, a resposta da jovem foi lacónica "A Junta!"
Despedimo-nos com desejos de bom ano novo um ao outro e eu saí dali pensando que se Campo de Ourique ainda se mantém com gente assim talvez se salve o tsunami que anda por aí.
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Fui aprofundar o projecto e quem detinha o pelouro da cultura na junta. Acho que a ideia é boa. Contudo não chega para salvar Lisboa

5 comentários:

  1. AQUI, há em várias zonas da cidade, uma casota de vidro, do tipo de uma cabine telefónica, onde podemos colocar ou levar livros, CDS e DVDS.

    Tencionava colocar 50 livros até ao NATAl. Apenas coloquei lá 6 livros e um vídeo. Desapareceram imediatamente.

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  2. Por aqui Areeiro, também há locais, gabines telefonicas, pequenos cafés, onde pudemos deixar livros. Meu marido tem deixado, no café na Av.Paris e as pessoas entram escolhem, levam e devolvem e por vezes trazem mais livros.

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  3. Lisboa, está um pouco por toda a parte a ficar apenas para quem "pode". Penso que somos uma boa escolha para casais ou pessoas reformadas provenientes de países da comunidade que acabam por encontrar um país com melhor clima e a preços bem mais atrativos o que acaba naturalmente por subir os valores aos nacionais que não acompanham tais remunerações. Como há famílias com recursos ou pessoas com cargos de administração onde os valores já são consideravelmente equilibrados com grande parte dos países europeus, ainda há portugueses a morar por Lisboa. Os demais, será uma questão de tempo.

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  4. O projecto agrada-me, ainda que não chegue para salvar Lisboa.

    Toda a grande Lisboa está a ficar "para quem pode". Os preços dos arrendamentos das casas para habitação estão a tornar-se exorbitantes também por aqui, na linha de Cascais.

    Os pobres diabos que, como eu, estavam isentos de IMI, deixaram de o estar em 2019, ainda que os seus rendimentos não excedam os 234 euros mensais.

    Abraço

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  5. A expressão nasceu ao mesmo tempo que: Caiu o Carmo e a Trindade!
    E os bairros antigos vão sendo invadidos aos poucos até Lisboa estar na moda, depois se verá!

    Abraço

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