23 agosto, 2020

A FESTA

 

A Associação José Afonso promoveu em Novembro passado, um concerto de tributo a Rui Pato, intérprete central da canção de Coimbra e primeiro grande acompanhante de Zeca Afonso. 

Rui Pato iniciou em 1962, com 16 anos, uma estreita colaboração musical com José Afonso. Acompanhou-o pela primeira vez à viola na gravação do EP Baladas de Coimbra (1962). A partir daí várias colaborações se seguiram, com a viola de Rui Pato a ter um papel decisivo nos LP Baladas e Canções (1964), Cantares do Andarilho (1968) e Contos Velhos, Rumos Novos (1969). A continuação da parceria discográfica foi interrompida pelo regime de Salazar nas gravações de Traz Outro Amigo Também, quando a polícia política do regime proibiu Rui Pato de embarcar para Londres – onde ia ser gravado o disco – como represália pela sua participação na greve estudantil de 1969, em Coimbra. 

Sobre a Festa, Rui Pato prestou na passada segunda-feira na sua página do FB um depoimento que não resisto a partilhar convosco:

«Nunca me manifestei sobre a tão falada Festa do Avante. A minha indecisão era , como médico pneumologista, eu sempre achar que devemos cumprir escrupulosamente as regras que já não são só da DGS mas já são universais. Por outro lado como "músico"(que nunca actuou na dita Festa) e como cidadão orgulhosamente de esquerda sem filiação partidária, achar que a arte a a política necessitam de renascer de já tão longo confinamento e ser necessário começar a vencer o medo e aprender a viver com o vírus ainda por muito tempo. Tive receio de as minhas naturais cautelas de médico servissem para engrossar o cortejo da hipocrisia dos "muito preocupados" com as consequências trágicas da Festa; mas também me estava a custar entrar para o pelotão da militância descabelada...do "tudo o que vem dali está correcto".
Agora, já com a poeira pousada, sou declaradamente favorável a realização da Festa, porque vejo nela a oportunidade de se aprender a , cumprindo todas as regras , voltar a ter a cultura, a política e a arte com responsabilidade e com civismo. Conhecendo o rigor dos militantes e simpatizantes comunistas , estou certo de que a Festa vai decorrer na maior da disciplina sanitária e vai ser um exemplo para que as actividade que envolvam centenas ou milhares de portugueses se possam fazer sem a actual indisciplina das praias, das igrejas, das procissões, dos casamentos, das festas, etc... e as salas de espectáculo, os estádios, os ginásios, todos os espaços de lazer e de arte possam a voltar a funcionar, com regras , com disciplina.
Para terminar este arrazoado, resta-me desejar que tudo corra como eu prevejo e parece-me que a "preocupação" dos "revoltados", agora, já não é o medo da propagação do vírus pelos ventos da Atalaia...mas sim o receio de que tudo corra bem...e que tenham que, depois, ter que ficar a assobiar para o lado.»

6 comentários:

  1. Confesso que também me tenho sentido apreensiva.
    As medidas preventivas e de segurança recomendadas pela DGS já tomadas e a tomar, por parte da organização podem ser e serão certamente as adequadas à actual situação.
    Porém, uma Festa é uma festa, e no calor do entusiasmo e do convívio, haverá o garante total do controlo de qualquer situação mais gravosa? Tenho pena, mas há antecedentes de outras festas que não obtiveram permissão do Governo e não se efectuaram.
    É natural e compreensível o descontentamento que se tem manifestado.

    A ver vamos, que tudo corra a contento de todos os cidadãos.
    Mais utopia menos utopia, esta será mais uma.

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  2. Associo-me à homenagem ao "histórico" Rui Pato.
    Estou de acordo com todo o texto do Rui Pato será dificil acrescentar mais alguma coisa.
    Um abraço amigo.
    Até amanhã.

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  3. Esperemos que tudo corra bem !

    Desejo a ti e à Teresa o melhor de tudo

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  4. Tudo correrá muitíssimo bem, na Festa!

    Também me associo a esta homenagem prestada pela AJA a Rui Pato.

    Abraço

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  5. Acho só lamentável nós, os moradores da zona, não sermos tidos nem achados. A festa sendo num espaço ao ar livre não deixa de ser em espaço urbano, os transportes públicos utilizados, nomeadamente o comboio da ponte e os autocarros da Fertagus são os mesmos para residentes e para quem vem à festa, este é só um exemplo do "convívio" forçado que vamos ser obrigados a enfrentar.

    Sou filha e nora de comunistas, nasci antes do 25 de Abril e sei o que é viver em tempos de ditadura. Até hoje falhei a primeira Festa e a de 1991, de resto estive em todas, mas este ano não.

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