25 agosto, 2020

«DOZE PLUTOCRATAS ACUMULAM UM MILHÃO DE MILHÕES DE DÓLARES»

Foto de família: os mais ricos e também "filantropos" - que duplicam fortunas com pandemia e filantropia

 Os doze indivíduos mais ricos dos Estados Unidos atingiram este mês de Agosto uma fortuna combinada que ultrapassa pela primeira vez o valor astronómico de um bilião (um milhão de milhões) de dólares. Este número foi obtido graças a uma aceleração explosiva dos fluxos de riqueza entre Março e Agosto, cerca de 40%, coincidindo com a recessão económica decorrente da pandemia de COVID-19 e as “medidas estabilizadoras” dos mercados e de “ajuda” económica decididas pelas autoridades norte-americanas – e outras, como a Comissão Europeia. Operações como a febril especulação nos mercados financeiros e actividades desenvolvidas sob a capa de “filantropia” estão na base dos níveis obscenos de riqueza dos 12 plutocratas, transformados em vedetas sociais pela comunicação social corporativa.

Chuck Collins e Omar Ocampo, Inequality.org/adaptação O Lado Oculto

Pela primeira vez na história dos Estados Unidos os 12 indivíduos mais ricos do país ultrapassaram uma riqueza conjunta de um bilião de dólares (um milhão de milhões). No dia 13 de Agosto, os doze somavam uma fortuna de 1,015 biliões de dólares – cinco anos do produto interno bruto (PIB) de Portugal.

Este é um marco preocupante na história norte-americana em termos de riqueza e poder concentrados e que traduz, além disso, um agravamento brutal das desigualdades. Trata-se de um inimaginável poder económico e político concentrado nas mãos de uma dúzia de indivíduos. Do ponto de vista de uma sociedade autónoma e que se diz democrática estamos perante uma dúzia oligárquica, uma dúzia despótica.

Os doze membros da lista são os seguintes: Jeff Bezos, dono da Amazon, com 189 400 milhões de dólares; Bill Gates, Microsoft e outros negócios, designadamente em saúde pública no quadro da “vacinação global”, com 114 mil milhões; Mark Zuckerberg, dono do Facebook, com 95 500 milhões; Warren Buffett, da Berkshire Hathaway, com 80 mil milhões; Elon Musk, da Tesla, com 73 mil milhões; Steve Ballmer, que foi parceiro e sucessor de Gates na Microsoft e é dono da equipa de basquetebol Los Angeles Clippers, com 71 mil milhões; Larry Ellison, da Oracle, com 70 900 milhões; Larry Page, do Google, com 67 400 milhões; Sergey Brin, da Alphabet e ex-presidente do Google, com 65 600 milhões; Alice Walton, do grupo comercial Walmart, com 62 500 milhões; Jim Walton, da família proprietária do grupo Walmart e dono do maior banco do Arkansas, com 62 300 milhões; Rob Walton, presidente do grupo Walmart, com 62 mil milhões de dólares. 

Um dos elementos mais interessantes da ultrapassagem da fasquia do bilião (trilião, segundo as designações anglo-saxónicas) é o facto de a riqueza combinada da dúzia de plutocratas ter aumentado 283 mil milhões de dólares, quase 40%, desde o dia 18 de Março deste ano, em pleno início da pandemia de COVID-19.

O rei da pandemia

Elon Musk, o dono da empresa de automóveis eléctricos Tesla e de um conglomerado económico em termos de produção de acumuladores de electricidade, tem sido o maior aproveitador do período pandémico, uma vez que conseguiu fazer triplicar a fortuna de 24 600 milhões em 18 de Março para 73 mil milhões em 13 de Agosto – um crescimento de 48 500 milhões ou 197%. A esta explosão de riqueza também não deve ser estranho o facto de o golpe fascista da Bolívia, já elogiado por Musk com a frase "damos o golpe onde e quando quisermos”, ter potenciado o acesso da Tesla às maiores reservas mundiais de lítio – elemento essencial para a produção de baterias eléctricas.

Também Jeff Bezos, co-fundador da Amazon, grupo em cuja sede muitos trabalhadores se vêem obrigados a recorrer a sistemas de caridade para poderem alimentar as famílias, tem sido um dos grandes beneficiados com a pandemia. Em 13 de Agosto a sua fortuna foi avaliada em 189 400 milhões de dólares, um aumento de 76 mil milhões ou 68% desde 18 de Março.

Mark Zuckerberg também não tem de se queixar do novo coronavírus. Em 13 de Agosto a sua fortuna valia 95 500 milhões, mais 40 800 milhões ou 75% que em 18 de Março.

Durante a primeira fase de confronto da sociedade com o novo coronavírus, de 1 de Janeiro a 18 de Março, a riqueza colectiva dos doze diminuiu, é certo, em 96 mil milhões de dólares. Mas a situação foi rapidamente ultrapassada e no fim de Março as perdas estavam recuperadas, para se iniciar então uma fase explosiva de nova abundância. A única excepção é a de Warren Buffet, que em 13 de Agosto estava cerca de dois mil milhões abaixo dos seus níveis de Março. Nada que não seja neutralizado em breve.

A ajuda à especulação

Em 18 de Março de 2020 iniciaram-se, recorda-se, os confinamentos e os bloqueios económicos - com os seus dramas históricos de desemprego; nos Estados Unidos essa fase coincidiu também com as acções monetárias da Reserva Federal (FED, Banco Central) alegadamente para “estabilizar os mercados”. Começaram então a registar-se ganhos impressionantes nos mercados financeiros, em contra-corrente com os recuos profundos na economia.

As circunstâncias revelam duas realidades: as medidas tomadas pela Reserva Federal tiveram como destinatários principais as elites financeiras, nas quais avultam os doze mais ricos; e estas castas não perderam tempo a utilizar os fundos em operações especulativas, obtendo dividendos astronómicos que nada têm a ver com a produção e a economia real.

Em paralelo, os doze – ou muitos entre eles – fizeram constar grandes feitos nas suas actividades filantrópicas, retirando os ganhos especulativos aos impostos para os empregar em “doações” a partir das quais extraem novos dividendos não só fiscais mas também sociais, políticos e propagandísticos.

Alguns dos plutocratas são membros do grupo “Giving Pledge”, comprometidos com a promessa solene de que vão doar pelo menos metade da sua fortuna antes de falecerem. Um estudo do Institut for Policy Studies realizado dez anos após essa solene promessa – intitulado “Giving Pledge at 10” – revela que a riqueza combinada dos que assim se comprometeram com a “filantropia” duplicou nesse período. Entre os doze oligarcas, os proprietários de cinco das sete maiores riquezas fizeram a promessa solene de doação: Gates, Buffett, Zuckerberg, Ellison e Musk.


3 comentários:

  1. Um bom artigo, esclarecedor, que devia ser lido sobretudo por aqueles que ainda se iludem com a benemerência de alguns desses multimilionários.
    Obrigado.
    Boa Noite.

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  2. Do alto da minha dorida insignificância e da minha imensa pequenez, te garanto que nada disto é novidade para mim. Podia nem sequer recordar os nomes de todos eles, podia não saber exactamente quantos eram, nem conhecer as percentagens do aumento das respectivas e obscenas fortunas mas, assim que a pandemia começou a delinear-se, estava segura de que isto iria acontecer.

    Abraço grande para ti e Teresa!

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  3. Já minha avó dizia que a desgraça de uns era a ventura de outros.
    Amanhã finalmente é o dia . Desejo boas notícias para vós.
    Abraço para os dois.

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