Tendo estado no S. Jorge na passada segunda-feira, não consigo reunir condições para lá regressar. Assim, resta-me seguir (e partilhar) exactamente as sessões que gostaria de acompanhar ao vivo e a cores. Por exemplo, hoje, andaria a saltar de sala em sala para "morder o ambiente" e, a dado passo, não perder esta entrevista. Neste site, salte de um para outro lado e, de seguida, não perca as respostas do entrevistado...
Stephen Ward: O jornalismo tem um dever global para com a humanidade e a democracia
Como sou especialista em ética, diria que temos de começar a concetualizar o jornalismo como um dever global para com a humanidade e a democracia. Sei que isto parece muito grandioso, mas isto não significa que não amem o vosso país ou que não escrevam sobre notícias locais. Significa apenas que, em caso de conflito, o nacionalismo e a estreiteza de perspetiva não se sobreponham a uma visão mais alargada. Isto significa também aprender a relatar questões globais. Porque os jornalistas vão andar por esse mundo, vão ter de escrever a partir de diferentes culturas e não vão compreender o que estão a relatar. Tive esse problema terrível quando era diretor em Vancouver, onde estávamos rodeados de minorias que tinham vindo para o país: asiáticos, vietnamitas, indianos… Na redação, éramos todos brancos e homens e isso era um problema. Por isso, tive de começar a enviar os meus repórteres para a universidade, para frequentarem cursos sobre a cultura e a língua desses povos. Depois, tentámos recrutar pessoas, mas, às vezes, elas ficavam um pouco nervosas com a cultura dominante: viam-nos, a nós media, como “os brancos”. Mas fizemos alguns progressos.
A segunda coisa mais importante, para a qual não tenho respostas – o que me está a deixar louco –, é aquilo a que chamo de ecologia social dos jornalistas. Como vão ser as redações para os jornalistas? Vão poder ter alguma palavra a dizer sobre a ética e sobre as histórias que fazem? Será que vão conseguir um emprego? E, se for o caso, será no ambiente ético que se pretende? Suspeito que, em muitos casos, não será. Mas não quero ser totalmente negativo. Ainda existem por aí organizações muito boas. Mas também há cortes no jornalismo e muita coisa negativa. E parece-me que a única forma de mudar isso é os próprios jornalistas organizarem-se, tornarem-se ativistas e criarem os seus próprios meios de comunicação.
Uma última questão é a desinformação e o terrível declínio da democracia, da comunidade democrática e do espírito democrático. Temos de aprender, enquanto jornalistas, como noticiar sobre pessoas que têm visões extremas e sobre o que consideramos de extremo. Como é que vamos noticiar os demagogos que promovem conspirações e o ódio? É preciso ser crítico e comprometido. Por isso, não sou um grande fã da neutralidade. Há alguns pontos no jornalismo relativamente aos quais se deve ser neutro. Mas acho que os jornalistas têm de encontrar uma forma de aliar os seus valores ao que esperam que a sociedade faça do mundo. No entanto, devem seguir uma boa metodologia, para que as histórias sejam tão exatas quanto possível. Mas se só se preocupam com a metodologia, falta-lhes o coração. Para ser um bom repórter, é preciso ter duas coisas. É preciso ter um desejo ardente de levar boas histórias às pessoas. É preciso querer fazê-lo, porque nos vamos encontrar em muitas situações difíceis. E também é necessário ter um outro lado, que é o de permitir que as histórias sejam postas à prova dos factos, da lógica e das perspectivas de outras pessoas.
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“…assim que o camelo enfiar o nariz na tenda, é preciso ter cuidado para que ele não se apodere de toda a tenda.”
ResponderEliminarEsta frase do jornalista canadiano alarga-se à situação política actual.
Uma entrevista digna de dar a conhecer aos teus leitores.