25 janeiro, 2021

Sobre o que se passou, ligou-me com voz ...

 A meio da manhã, ligou-me com voz cansada, plena de desânimo e com pergunta de desnorte.

Sobre cansaço, respondi-lhe com poema de Brecht.
Sobre a derrota, respondi-lhe com Galeano.
Sobre o "e agora?", citei-lhe o João

Tendo caído a chamada, fiquei a meio de um poema meu, actualizado tendo em conta a circunstância..


SONHO À VISTA
(a caminho da terra da Utopia)
Os mostrengos são cada vez mais numerosos
E rodeiam a nau voando
Não três, mas mil vezes, e mais raivosos
Na ré, de pé,
O mesmo homem do leme
Que depois de ter tremido, já não treme
Gritando o grito que o poeta lhe colocou na voz 
No mastro real,
Também igual,
Está o mesmo gajeiro
No ponto mais alto do navio, será o primeiro
A dar noticias, quando as houver que dar 
Naquela travessia
Decidida
Que ousaram desafiar
Se empenhando com todo o seu ser e querer
As ondas são vagas de meter medo
Se houvesse medo de lhes ter
A fome roer-lhes-iam a entranhas
Se houvesse sentir entranhas a roer
A incerteza espalhar-se-iam com os ventos
Se houvesse que a sentir nesses momentos
Tudo o que de mau, escuro e duro
Lhes diziam ir acontecer, aconteceu
Mas nem um só esmoreceu
(embora muitos ficassem pelo caminho
por tão dorido e sofrido ele ser)

As sereias, desistentes,
Mergulharam em desafinado cantar
Um dia, irá acontecer
O céu, agora de breu, irá clarear
O mar, agora alteroso, irá amainar
E chegará enfim a noticia esperada
Do alto da nau gritada
Sonho à vista
Sonho à vista, será o grito repetido,
Por quem sofrendo ali chegou
Rogério Pereira 

16 comentários:

  1. Ah, Rogério, que desilusão! Foi uma noite de nervos... Estou deveras preocupada com o rumo deste país!

    Beijinho e saúde

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    1. E somos dois
      e mais
      alguns milhões
      que é preciso por em sintonia...

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  2. Gostei dos textos, detestei os resultados, continuo enfurecida com a divisão da Esquerda!

    Boa semana

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    1. Estar vivo NÃO chega, BNG.
      É penoso ouvir os lamentos da Esquerda Portuguesa.
      É necessário analisar URGENTEMENTE com CABEÇA e SEM UTOPIAS a razão do naufrágio de Marisa Matias e João Ferreira.

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    2. Mas isso para ti Teresa, foi surpresa?
      Desde o princípio que vaticinaste quem seria o vencedor e até quem ficava em segundo, terceiro e quarto lugares.

      Continuar sim. Esse é o caminho certo enquanto o barco da esperança não se afunda qual Titanic!

      Força, Rogério e todos quantos se empenham na luta, mas atenção: há que fazer remodelação nos velhos e bolorentos conceitos da cassete de antigamente.

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    3. Estamos vivos, não vamos desanimar!
      E o João não naufragou (logo, volto)
      E quanto à cassete
      está arrumada, definitivamente

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    4. João Ferreira não naufragou teve um pouco menos de votos (2.525 menos) que na eleição presidencial anterior, em certos concelhos teve mais votos, Marinha Grande, Évora, Vila Viçosa, Cuba, Mértola. Devido à abstenção João Ferreira até teve mais percentagem 4,32 que nas anteriores 3.95.

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    5. Em Oeiras, onde me mexo e não paro
      o resultado foi quase dobrado
      E no Distrito de Portalegre até cresceu... quem diria?

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    6. Tu nem acreditas, Janita, acabei agora mesmo de ver o filme britânico 1958 „A última noite do Titanic“.

      O resultado das eleições presidenciais não são surpresa para ninguém. A única surpresa foi o resultado do Tiago Mayan Gonçalves, que teve quase tantos votos como a Marisa Matias. Afinal os „lábios vermelhos“ não lhe valeram de nada.

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  4. Vou responder assim:

    Acordai
    acordai
    homens que dormis
    a embalar a dor
    dos silêncios vis
    vinde no clamor
    das almas viris
    arrancar a flor
    que dorme na raíz


    Acordai
    acordai
    raios e tufões
    que dormis no ar
    e nas multidões
    vinde incendiar
    de astros e canções
    as pedras do mar
    o mundo e os corações


    Acordai
    acendei
    de almas e de sóis
    este mar sem cais
    nem luz de faróis
    e acordai depois
    das lutas finais
    os nossos heróis
    que dormem nos covais
    ACORDAI !



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    1. Meu Pássaro Azul
      leio
      até meio...

      ...e quase a terminar
      dei comigo
      a cantar!

      Acorde-mo-nos
      uns aos outros

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  5. Gostei do poema. As eleições de ontem? Apenas mais um prego na urna da minha fé. Um dia alguém me disse, que cada povo tem o governo que merece. Depois de ontem interrogo-me: Será verdade?
    Abraço e saúde

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    1. Nenhum povo merece
      o mal que alguém tece

      Acorde-mo-nos
      uns aos outros!

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  6. Já passou!
    Agora há que analisar e começar a preparar as próximas.
    Desventuras não duram para sempre.
    Beijo, boa semana.

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