Não era este o titulo e o texto inicialmente pensados para o dia de hoje. Quase até à hora de editar, mantive a duvida entre falar da esperança, de como ela se vai desgastando (e de dar alguns contributos para evitar que aconteça tal) ou escolher escrever sobre a minha própria descrença ao ver a loja, aberta, com uma procura fora da necessidade comum, com consumidores ávidos de serem, eles próprios, comprados por um elevado desconto e afirmar que o capital não é tonto. Desisti disso. Desisto também, em cima da hora, de reescrever todo o texto de Juan Somavia (presidente da Organização Internacional do Trabalho, no Público de hoje, com o titulo “Este não é um 1.º de Maio qualquer"). Lendo bem esse escrito, acabo por perceber que entre o seu discurso e o de Arménio Carlos vai apenas o temperamento das palavras, pois as usa mais buriladas e leves. Não reescrevendo tudo, cito passagens. Estas:
"O modelo de crescimento actual considera o trabalho como um custo de produção, que deve manter-se o mais baixo possível, para aumentar a competitividade e o lucro. Os trabalhadores são vistos como consumidores de todo o tipo de empréstimos, em vez de terem uma participação legítima na riqueza, através dos salários, para cuja criação contribuem. […] Os governos gastaram milhares de milhões de dólares para garantirem a [recuperação dos bancos]. Os trabalhadores não receberam o mesmo tratamento. […] Enquanto os bancos são grandes de mais para abrir falência, [as pessoas] são pequenas de mais para serem tomadas em conta. […] Avançar para uma nova era de justiça social exige cooperação, diálogo e, acima de tudo, liderança. Uma liderança impulsionada por valores humanos – e principalmente, pelo valor chave: o respeito pela dignidade do trabalho e dos trabalhadores.”
O que eu queria mesmo era falar de meu irmão Eduardo. De como se inebria com iniciativas novas, de gente nova. De como falou e fala sobre este mundo grávido, sobre a esperança. Não concordo com tudo o que diz e faz. Contudo, dou-lhe a tolerância que dou a todos os românticos. Filhos do mesmo pai, temos dessa paternidade heranças não de todo iguais. Apesar de seus actos desalinhados, sei que ele sempre esteve e estará do meu lado. É da família. Familia onde a discordância nunca a tornará desavinda....
Galeano, inebriado... Eu vou para a Alameda e ele anda por qualquer lado.
Afinal o que ouvi de manhã àcerca das lojas Pingo Doce era mesmo verdade para todo o país. Vergonhoso! Vi gente bem humilde com pressa de ir para lá, o que me custa entender, porque sou uma funcionária pública, classe a que cada vez mais são retirados direitos e subsídios e não tenho tão fácilmente 100 euros para gastar num dia, mesmo que me descontem neles os tais 50 anunciados pelo grupo Jerónimo Martins. Afinal, se calhar este povo tem o que gosta e o que merece.
ResponderEliminarVou a correr para a praça, já está na hora e ainda tenho que fazer uma viagem de 10 minutos. Logo volto para comentar melhor.
Beijos.
Branca
Ora aí está um autor latino-americano (uruguaio), que eu ADORO!
ResponderEliminarVale a pena ler a análise política das suas obras.
Eu concordo em absoluto com o Galleano, mas acabado de regressar a Lisboa e enfrentando o cenário montados pelo sr. Alexandre, pergunto-me se não será possível mudarmos de povo. Começo a pensar que talvez precisemos mais de um povo novo, do que de outro governo, com outras políticas. Aparentemente, povo está satisfeito e basta um bocado de folclore para se sentir feliz. Mesmo que as suas atitudes signifiquem um profundo desprezo por quem trabalha.
ResponderEliminarFoi o mais deprimente 1º de Maio da minha vida...
A publicidade inventa as coisas mais desconexas.
ResponderEliminarE aconteceu...e mais vai acontecer.
Belo texto muito bem trabalhado!
Abraço,
Maria Luísa
A Utopia está onde estão os nossos olhos.
ResponderEliminarAbraço
As páginas do facebbok enchem-se de fotografias do Pingo Doce e acabei de ver um vídeo montado com o 1º de Maio de 1974 e o 1º de Maio de 2012, nos supermercados do Jerónimo Martins, publicado por um Monárquico.
ResponderEliminarClaro que tudo isto é uma caricatura porque as ruas da baixa do Porto assistiram a um grande desfile de trabalhadores e a uma grande concentração, mas haviam algumas lojas comerciais abertas, embora poucas e nada apaga a vergonhosa feira que se realizou nos supermercados, pelo que vejo nas fotos, porque na verdade não vi, nao fiz uma compra no dia de hoje.
Beijos, volto ainda logo.
Resta-nos isso... a utopia.
ResponderEliminarMeu amigo:
ResponderEliminarSó o título tão bem escolhido para este seu post já diz tudo.
É ainda a utopia que me faz caminhar, mesmo quando vejo o nosso povo a vender-se por alguns tostões.
Galeano escreveu:
«Quando as palvras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar.»
Fico à espera!
Beijinhos
Admiro a ambos. Fico feliz com os contrapontos que constato, ora um e ora outro. Gosto.
ResponderEliminarUm grande bj
"...o mais deprimente 1º de Maio da minha vida...", palavras do Calos Barbosa de Oliveira, que faço minhas.
ResponderEliminarA vergonha que eu senti!
Que povo é este!?
Abraço, amigo Rogério
Concordo plenamente com Eduardo Galeano....
ResponderEliminarCumprimentos
O Rogério e muitos outros blogistas não gostam do povo alemão!!!
ResponderEliminarMas enquanto os alemães foram às ruas contra a austeridade da Angela Merkel com os países como a Grécia e Portugal, o nosso povo invadiu o Pingo Doce e, apesar da miséria que reina em Portugal por causa da Merkel, milhares de pessoas gastaram mais 700€ em compras.
Vamos lá ver de que fala na sua próxima posta, meu caro Rogério!
Caro Rogério,
ResponderEliminarDepois de me ter perdido pelo Facebook à volta deste 1º de Maio de 2012 e pela surpresa que lá me fizeste, voltei aqui para ouvir com toda a calma e todo o tempo merecido o Eduardo Galeano. O vídeo é fabuloso e partilho com ele a esperança nos jovens de hoje. Há uma geração muito consciente daquilo que quer, uma geração que infelizmente este governo quer obrigar a emigrar, mas que resiste o mais que pode e na qual acredito, é uma das minhas utopias, nalguns casos certezas.
Beijos
manífico...adorei o teu texto e ouvir o teu irmão falar assim ...ateé me arrepiei. Nem imaginava que ele estava na wiki...
ResponderEliminarMaravilha, Meu beijo
BShell
Também penso que é muito importante sentir, aliás, para mim é muito difícil separar as duas coisas e suponho que sinto primeiro e só depois quero racionalizar o que sinto... mas o mundo ainda não está grávido de um novo... suponho que ainda haverá muito sofrimento até ele ser concebido...
ResponderEliminarA sério, é com dor no ciração que o escrevo, começo a procupar-me pouco com o que acontece ao "bom povo português"!!
ResponderEliminarCada qual tem o que merece..e se nós nos abstemos , se votamos continuadamente em quem mente, se fazemos figuras tristes como as de ontem...então que assim seja!!
para a liberdade , nada há pior que escravos felizes.
Partilhei o vídeo.
Bom dia, maigo.
Galeano tem sabedoria!
ResponderEliminarPrefiro as suas sábias palavras aos 'faits divers' dos noticiários.
Ainda bem que mudadte de ideias.
Há certs coisas que cansam, pela estupidez que transportam.
Coitados dos que não sonham
ResponderEliminardos que são apenas
o que os olhos veem
Abraço amigo
Tive um especial prazer ao ouvir Eduardo Galeano, e por várias razões, sendo que a mais pequena não foi a sua enorme juventude.
ResponderEliminarHá ali muito pano para mangas.
Obrigado pela partilha, Rogério.
Abraço