Tema da redacção: "Quando falo de autoridade, não falo de autoritarismo, mas de uma ordem capaz de ajudar a valorizar a liberdade como um bem essencial (...)" - José Machado Pais, no Público de hoje (não disponível on-line)
A minha mãezinha que é pessoa sabedora e muito carinhosa não me deixa pôr o pé em ramo verde mas faz tudo com muito jeitinho para eu aprender a ter juizinho e a fazer escolhas sozinho que não sejam escolhas tolas que é aquilo que mais acontece quando as mães deixam fazer tudo aquilo que a gente quer e no fim nem sabemos aprender a gostar nem a aproveitar coisas que não conhecemos e ficamos sempre a querer as mesmas e a ter birras grandes para as ter que até fazem os adultos tremer.
Por exemplo - que é a exemplificar que é mais mais fácil explicar - quando minha mãe me punha comida no prato e eu torcia o nariz e dizia que aquilo não queria ela respondia "come o que te apetecer e o que não gostares pões à beira do prato" e isso acontecia com uma mão cheia de coisas que já não lembro bem mas há uma que eu ainda recordo e que é o pimento vermelho que agora até adoro. Sempre me servia pimento vermelho e sempre eu dizia não gostar e ela sempre respondia com a mesma resposta que a gente põe à beira do prato quando não gosta. Até que um dia no fim da refeição ela teve um desabafo sem nenhum ar de estar a desabafar quando disse como se estivesse a falar com outra pessoa que este rapaz que era eu era um niquento. Dias depois a mesma cena e eu lembrando que me tinha chamado niquento provei um pimento e me soube tão bem que até pedi mais à minha mãe que fez aquela carinha bonita e exclamou que o pimento não me iria furar a tripa. E não furou pois ainda aqui estou e com pena de ver todos os dias autoritariamente esconderem pimentos vermelhos e os portugueses a ficarem cada dia mais niquentos mas com falta - ignorada - de tais pimentos.
Rogérito, à memória de minha mãe
Ó Rogérito
ResponderEliminarLi como é habitual uma das tuas excelentes redacções como também é habitual. Pus-me a pensar nas tuas metáforas (também habituais) e essa coisa do pimento vermelho (se fosses benfiquista dizias encarnado)e como de horticultura não sou lá muito entendido, fui à procura e encontrei isto:
"Pimentões vermelhos são simplesmente os verdes que amadureceram. Os que colhidos ainda verdes não ficam vermelhos, pois amadurecem somente no pé. Como os pimentões ficam mais doces com a maturação, os vermelhos são mais doces.
Novas variedades foram desenvolvidas por melhoramento genético. Hoje há no mercado um predomínio de pimentões híbridos, de cores e formatos variados, com maior resistência a doenças, maior produtividade, precocidade e uniformidade nos frutos. Mesmo entre os verdes e os vermelhos, muitos são híbridos. Os de cor e estilo diferentes são cultivados em estufas e têm alto preço. É o caso dos amarelos, verdes-limão, creme, chocolate, roxos e laranja, entre outros".
Aqui: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090125062011AAB53Uv
Numa boa "muqueca" meto esses pimentos todos...
ResponderEliminarRecomendo uma segunda leitura e pode substituir o pimento por outro qualquer... alimento ou condimento... Vai ver que retira a carga politica sem perder o valor inicial que lhe quis dar.
Aproveite também para ler o artigo de quem me inspirou.
Uma redação a preceito, como ainda hoje a rapaziada podia escrever, só que não me parecem para aí virados, agora até já se escreve só com kkkkk
ResponderEliminarÉ verdade, há dias li um texto só com kkk, não sei se pela forma como eles são dispostos em mancha gráfica isso terá algum significado, às tantas já inventaram algum código e eu ainda ando a ver se lobrigo algum comboio a passar aqui na linha do Oeste, a antiga linha, que ainda viajei todo enfarruscado com o pó do carvão a arder para fazer vapor.
Bem, o k já era utilizado bastante nas primeiras comunicações digitais dos radioamadores, anos 80, mas agora esta coisa baralha-me, não sei se será necessário tentar perceber antes que passe de moda.
Quanto às questões da autoridade e autoritarismo e quejandos fiquei logo com os neurónios à procura de informação armazenada já com 40 e tal anos, então não é que fiquei 3 semanas privado de sair do quartel por causa duma intrigacezita desse calibre?
Ora bem, mas a ideia era propor-se a esta malta nova que vejam se se põem a pensar um pouco mais na vida, que vão ter que ser eles a descalçar a bota em que o homem se tem andado a meter.
Pois sim, a revolução está em curso, silenciosamente, mas está, não sei é se alguém ainda tem algo de pedagógico e de capacidade de liderar com autoridade sem autoritarismo, hummm
elas ( as mães) bem sabem o que não se aprende nos livros...
ResponderEliminarMães especiais com recordações especiais. Lindo o relato e a lição.
ResponderEliminarUm grande bj Rogério.
Adoro as suas redacções.
ResponderEliminarSe calhar é por ainda escrever com «cç» que elas me sugerem outras leituras.
beijo
Pimentos à parte. A tua Mãe aprendeu pelo mesmo livro do que a minha.
ResponderEliminarE que bem que ambas aprenderam!...
:)
O Rogérito é uma criatura digna cheia de ideias muito acertadas!
ResponderEliminarEdição cuidadosa e muito interessante.
(Pimentos é comigo...)
bj
"niquento(a)"... Não me é estranho como não me é estranho o "põe na beira do prato".
ResponderEliminarAs mães "antigas" eram diferentes, as famílias eram diferentes. Tudo era diferente!
A autoridade dos pais, (é dessa que aqui se fala) é indissociável do acto de educar mas hoje os jovens, sabem tirar partido do estado de "esgotamento" dos pais que não têm tempo para os filhos.
Recordo-me de um dia ter ouvido numa reunião, um pai muito cheio de razão dizer que não podia estar sempre a contrariar o filho, pois só estava com ele duas horas por dia: "não vou estar sempre a ralhar-lhe.Se o que ele mais gosta é de jogar no computador, deixo-o jogar, é a maneira de o ver sossegado".
Recomendava-se que os pais controlassem o tempo gasto pelas crianças (8/9anos) em jogos no computador...
L.B.
Era assim mesmo, sim senhor! "Não gostas? Põe à beira do prato!" ... Eu não gostava de feijoada, mas também acabei por gostar. Agora de pimentos nunca gostei e continuo a não gostar... Se calhar, se fosse filha da sua Mãe, talvez já gostasse...
ResponderEliminarOlá meu amgio. Bela homenagem. Confesso que tive que buscar o significado de niqueto no dicionário. AH, agora entendi rss.
ResponderEliminarAbs,
Rogério,
ResponderEliminarEmbora ande muito cansada e ande menos pela net estes dias, adorei o que li, as metáforas que elevam o texto e a conclusão final.
Deixo beijos
Branca
Pois, não gostas põe na beira do prato, mas nós aqui em casa se não comêssemos ficávamos com fome...
ResponderEliminarLogo a seguir fechava-se a tasca e até à ceia não havia mais nada...
Politicamente é possível ter tempo para ouvir, falar e brincar com os nossos meninos. Se hoje não lhes dermos o nosso tempo perdemos definitivamente a viagem com eles.
Autoridade será esse crescimento diário, chamar a atenção de tantas escolhas, mas deixar que cada um assuma pelo que fez ou escolheu e retire as conclusões óbvias.
Tantas escolhas que outros fazem e que nos prejudicam a todos. Mesmo pondo para o lado (...),sofremos.