Se necessário fosse fazer prova-de-vida da actualidade de Marx, ela aí está, no extenso título escolhido de entre as tantas propostas de reflexão que povoam a palestra de Sérgio Ribeiro, feita na manhã de sábado passado, no Congresso Marx em Maio, e que este edita no seu blogue, em seis posts [desde aqui, a introdução, a este último]
Sérgio Ribeiro: uma palestra, esforçada, tornando clara a dissertação...
Antes de ir falar, encontrámos-no no bar, eu bebi um café ele um chá. A rouquidão abafava-lhe a voz. Estava por isso desolado. Disse-lhe coisas banais, em tom de recomendação: "Fala pausado e com o micro no tom mais alto e colocado", dizia sentencioso, tentando depois imprimir-lhe confiança como se ele dela necessitasse: "Vai tudo correr bem". E correu. Desde o principio, agarrou a assistência, com sua ironia bem colocada. Quando chega à passagem em que refere que Marx tinha a "perfeita consciência que o mundo é feito de mudança… como dizia o marxista Luís de Camões" a assistência sorria. Eu também...
Hoje calhou falar disto e ir buscar o soneto do poeta citado. Redobra-se a admiração por tão poética definição do processo histórico e da sua dialéctica:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.Luís Vaz de Camões
Caro Rogério,
ResponderEliminarHoje desci à civilização. Não posso deixar de comentar a citação. Marx parece um bruxo: "o crédito acelera as erupções violentas (as crises), levando a um sistema puro e gigantesco de especulação e jogo”
Obrigada por me ter dado a outra ideia do poema de Camões. Mais cegos que ele, custa a ver.
Beijinho
Que coisa linda encontrei por aqui.
ResponderEliminarE fala em mudanças no tempo. Que interessante. Eu tão longe, escrevi
uma coisa semelhante, só que não me assemelho a ele, de forma alguma
mas é estranho o meu conteúdo no poema.
Quem foi o poeta que "Patético" o
fez lembrar?
Quem? Gostava muito de saber e me
impressionou muito o poema que escreveu...muito...
Abraço e obrigada,
Maria Luísa
Cara Maria Luísa, com o risco de desviar a atenção do meu próprio post, transcrevo aqui a parte inicial do seu poema:
ResponderEliminarPatético
Tudo passa e se renova
Não há hora derradeira e final
Há apenas a mudança da vida
O passar de gerações.
Muda o cambiante das cores
E o vento traz uma canção diferente
E o mar fica gritante e dorido
Adivinha a mudança.
As formigas recolhem ao celeiro
Não as vemos
Caminhando nas pequenas estradas
Feitas por elas.
Camões gostaria de a ter lido
Amigo Rogério
ResponderEliminarParabéns pela tua escrita e pelo teu blog.
Interessante forma de tratar assuntos fundamentais para a compreensão da nossa vida da sociedade e transformá-la para melhor, sempre melhor.
Um grande abraço
Eduardo
Há Homens que vêem sempre mais alto e melhor, talvez por isso são tão incompreendidos.
ResponderEliminarBeijinhos e bom fim de semana
Li o post e não sei que estranha ligação fizeram os meus neurónios... fiquei a cantarolar a Pedra Filosofal... o que vale já estou habituada a estas intromissões do meu inconsciente... um traquina que sai à travessa da dona...
ResponderEliminarNão será um comentário ao nível do post... mas, por vezes, acho graça ao efeito e às ligações inconscientes que um post pode provocar :)
Bjos
Por motivos relacionados com a saúde de meu marido, que tem requerido cuidados redobrados, não tive possibilidade de vir ao computador, nem sequer para agradecer e retribuir a tua visita.
ResponderEliminarPeço desculpa de recorrer ao “copy & paste”, mas doutra forma não poderia dizer, a todos e a cada um: Obrigada!
(Por sorte preparei a semana passada um post para publicar amanhã, domingo, Dia das Mães no Brasil.)
Obrigada pela amizade e carinho.
Beijinhos
Excelente post....
ResponderEliminarUm abraço
.
ResponderEliminar.
. trago.Lhe um abraço de domingo .
.
. mariano .
.
. respirável .
.
.
Na verdade uma excelente conjugação de arte e vida.
ResponderEliminarCamões!... Sempre único.
Hoje gostei mais deste terceto:
"E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía."
L.B.
De fato, sob um olhar mais subjetivo, Camões estava certo desde lá, idos de 1500... chego então a pensar que em verdade nada muda... as coisas se sucedem e se alternam a intervalos de tempo e se tornam óbvias a um vivente mais observador e favorecido por um ponto de vista atemporal.
ResponderEliminarSerá? As vezes "piro na batatinha"... rsrrsr...
Gostaria de ter teu brilhantismo e tua cultura.
Beijokas.
uma miscelânia muito interessante de economia e poesia.. e parabens por ter conseguido copiar o chefe santos com minúsculas...
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