12 maio, 2012

Marx em Maio: "“(...) se o sistema de crédito é o propulsor principal da superprodução e da especulação excessiva, acelera o desenvolvimento material das forças produtivas e a formação do mercado mundial. (Ao mesmo tempo,) o crédito acelera as erupções violentas (as crises), levando a um sistema puro e gigantesco de especulação e jogo”, (citação de Sérgio Ribeiro)

Se necessário fosse fazer prova-de-vida da actualidade de Marx, ela aí está, no extenso título escolhido de entre as tantas propostas de reflexão que povoam a palestra de Sérgio Ribeiro, feita na manhã de sábado passado, no Congresso Marx em Maio, e que este edita no seu blogue, em seis posts [desde aqui, a introdução, a este último]

 Sérgio Ribeiro: uma palestra, esforçada, tornando clara a dissertação...
Antes de ir falar, encontrámos-no no bar, eu bebi um café ele um chá. A rouquidão abafava-lhe a voz. Estava por isso desolado. Disse-lhe coisas banais, em tom de recomendação: "Fala pausado e com o micro no tom mais alto e colocado", dizia sentencioso, tentando depois imprimir-lhe confiança como se ele dela necessitasse: "Vai tudo correr bem". E correu. Desde o principio, agarrou a assistência, com sua ironia bem colocada. Quando chega à passagem em que refere que Marx tinha a "perfeita consciência que o mundo é feito de mudança… como dizia o marxista Luís de Camões" a assistência sorria. Eu também... 
Hoje calhou falar disto e ir buscar o soneto do poeta citado. Redobra-se a admiração por tão poética definição do processo histórico e da sua dialéctica:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões 

12 comentários:

  1. Caro Rogério,

    Hoje desci à civilização. Não posso deixar de comentar a citação. Marx parece um bruxo: "o crédito acelera as erupções violentas (as crises), levando a um sistema puro e gigantesco de especulação e jogo”

    Obrigada por me ter dado a outra ideia do poema de Camões. Mais cegos que ele, custa a ver.

    Beijinho

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  2. Que coisa linda encontrei por aqui.

    E fala em mudanças no tempo. Que interessante. Eu tão longe, escrevi
    uma coisa semelhante, só que não me assemelho a ele, de forma alguma
    mas é estranho o meu conteúdo no poema.
    Quem foi o poeta que "Patético" o
    fez lembrar?
    Quem? Gostava muito de saber e me
    impressionou muito o poema que escreveu...muito...

    Abraço e obrigada,

    Maria Luísa

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  3. Cara Maria Luísa, com o risco de desviar a atenção do meu próprio post, transcrevo aqui a parte inicial do seu poema:

    Patético

    Tudo passa e se renova
    Não há hora derradeira e final
    Há apenas a mudança da vida
    O passar de gerações.

    Muda o cambiante das cores
    E o vento traz uma canção diferente
    E o mar fica gritante e dorido
    Adivinha a mudança.

    As formigas recolhem ao celeiro
    Não as vemos
    Caminhando nas pequenas estradas
    Feitas por elas.

    Camões gostaria de a ter lido

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  4. Amigo Rogério
    Parabéns pela tua escrita e pelo teu blog.
    Interessante forma de tratar assuntos fundamentais para a compreensão da nossa vida da sociedade e transformá-la para melhor, sempre melhor.
    Um grande abraço
    Eduardo

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  5. Há Homens que vêem sempre mais alto e melhor, talvez por isso são tão incompreendidos.

    Beijinhos e bom fim de semana

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  6. Li o post e não sei que estranha ligação fizeram os meus neurónios... fiquei a cantarolar a Pedra Filosofal... o que vale já estou habituada a estas intromissões do meu inconsciente... um traquina que sai à travessa da dona...
    Não será um comentário ao nível do post... mas, por vezes, acho graça ao efeito e às ligações inconscientes que um post pode provocar :)

    Bjos

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  7. Por motivos relacionados com a saúde de meu marido, que tem requerido cuidados redobrados, não tive possibilidade de vir ao computador, nem sequer para agradecer e retribuir a tua visita.
    Peço desculpa de recorrer ao “copy & paste”, mas doutra forma não poderia dizer, a todos e a cada um: Obrigada!
    (Por sorte preparei a semana passada um post para publicar amanhã, domingo, Dia das Mães no Brasil.)
    Obrigada pela amizade e carinho.
    Beijinhos

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  8. .

    .

    . trago.Lhe um abraço de domingo .

    .

    . mariano .

    .

    . respirável .

    .

    .

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  9. Na verdade uma excelente conjugação de arte e vida.

    Camões!... Sempre único.

    Hoje gostei mais deste terceto:

    "E, afora este mudar-se cada dia,
    Outra mudança faz de mor espanto:
    Que não se muda já como soía."

    L.B.

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  10. De fato, sob um olhar mais subjetivo, Camões estava certo desde lá, idos de 1500... chego então a pensar que em verdade nada muda... as coisas se sucedem e se alternam a intervalos de tempo e se tornam óbvias a um vivente mais observador e favorecido por um ponto de vista atemporal.
    Será? As vezes "piro na batatinha"... rsrrsr...
    Gostaria de ter teu brilhantismo e tua cultura.
    Beijokas.

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  11. uma miscelânia muito interessante de economia e poesia.. e parabens por ter conseguido copiar o chefe santos com minúsculas...

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