19 maio, 2012

Unidade da esquerda (ou das esquerdas) as oportunidades reais e as fracturantes. Algumas reflexões - Parte I


Carvalho da Silva (PCP), Henrique Neto (PS) e J. Ferreira do Amaral (Independente),
discutindo "Perspectivas e Caminhos para o Desenvolvimento", in Seara Nova nº 1714

Um espaço de diálogo, um património de unidade - Foi há poucos meses, descobri que a revista "Seara Nova" não tinha morrido. Vencida a dificuldade de a encontrar à venda, lá a encontrei e comprei para logo de seguida lhe fazer a assinatura. A linha editorial mantinha-se aberta a todas as tendências, o que não foi surpresa. Também não foi novidade perceber que não só esse espaço é aberto como é promotor do diálogo e como é diversificado o leque das personalidades que compõe a comissão de honra que preside ao seu aniversário. O primeiro número adquirido, além de oferecer o texto a que se refere a foto (que bem podiam ser as linhas orientadoras de um programa comum de esquerda) relembrou-me, através de uma "mesa redonda" com António Reis (PS) e Fernando Correia (PCP),  a própria história da revista, desse património de unidade entre as várias tendências e de como a revista desenvolveu um papel para além da mera edição, designadamente nas diversas fases da luta antifascista e nos combates eleitorais. Hoje é relevante o papel da revista e a discussão produzida, mas são difíceis as condições em que se desenvolvem. Num tempo em que a unidade inclusiva (de toda a esquerda) requer um espaço para se aprofundar fora do contexto da luta politico-partidária é expectável que se venha a dar maior dinâmica à "Seara Nova". Que tal se faça no âmbito da comemoração dos seus 90 anos e com o mutuo respeito e consideração pelas diferenças de opinião. Estas só são imutáveis se não nos soubermos escutar.


A homenagem prestada a José Tengarrinha, mostrou que há momentos para o respeito e para a admiração 
mutua entre aqueles que, não tendo as mesmas "ideias", estão disponíveis para se reencontrarem

Um momento de reencontros - Há muito que não aconteciam reencontros entre pessoas que por várias razões seguiram caminhos distintos e/ou filiações partidárias diferentes. Essas diferenças não impediram abraços, cumprimentos de respeito e conversas alongadas por onde certamente deambularam as memórias que ligavam o homenageado aos que ali apareceram. Muitos e diversos, havia certamente motivações de estar bem diferenciadas. Mas estavam ali muitos que se uniram em tempos tão difíceis como aqueles que estamos a atravessar. Diria, citando Saramago "se o mundo alguma vez conseguir ser melhor, só o terá sido por nós e connosco." e quem quiser que se exclua... Aconteceu, de seguida, o cruzar-se a memória desse momento com o lugar de diálogo que durante tanto tempo juntou gente diversa num combate comum. Memórias do próprio Tengarrinha... na "Seara Nova" 

Continua

3 comentários:

  1. Caro Rogério
    Um texto lucido e necessário. Para já subscrevo, esperando a continuação.
    Abraço
    Rodrigo

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  2. «Temos razão, a razão que assiste a quem propõe que se construa um mundo melhor antes que seja demasiado tarde, porém, ou não sabemos transmitir às pessoas o que é substantivo nas nossas ideias, ou chocamos com um muro de desconfianças, de preconceitos ideológicos ou de classe....»

    José Saramago

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  3. Rogério: Pelas alminhas! Afasta-te dos bancos de jardim


    O Palácio da Ventura

    Sonho que sou um cavaleiro andante.
    Por desertos, por sóis, por noite escura,
    Paladino do amor, busca anelante
    O palácio encantado da Ventura!

    Mas já desmaio, exausto e vacilante,
    Quebrada a espada já, rota a armadura...
    E eis que súbito o avisto, fulgurante
    Na sua pompa e aérea formosura!

    Com grandes golpes bato à porta e brado:
    Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
    Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

    Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
    Mas dentro encontro só, cheio de dor,
    Silêncio e escuridão -- e nada mais!


    Antero de Quental

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