01 maio, 2012

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar" - Eduardo Galeano

Não era este o titulo e o texto inicialmente pensados para o dia de hoje. Quase até à hora de editar, mantive a duvida entre falar da esperança, de como ela se vai desgastando (e de dar alguns contributos para evitar que aconteça tal) ou escolher escrever sobre a minha própria descrença ao ver a loja, aberta, com uma procura fora da necessidade comum, com consumidores ávidos de serem, eles próprios, comprados por um elevado desconto e afirmar que o capital não é tonto. Desisti disso. Desisto também, em cima da hora, de reescrever todo o texto de Juan Somavia (presidente da Organização Internacional do Trabalho, no Público de hoje, com o titulo “Este não é um 1.º de Maio qualquer"). Lendo bem esse escrito, acabo por perceber que entre o seu discurso e o de Arménio Carlos vai apenas o temperamento das palavras, pois as usa mais buriladas e leves. Não reescrevendo tudo, cito passagens. Estas: 
"O modelo de crescimento actual considera o trabalho como um custo de produção, que deve manter-se o mais baixo possível, para aumentar a competitividade e o lucro. Os trabalhadores são vistos como consumidores de todo o tipo de empréstimos, em vez de terem uma participação legítima na riqueza, através dos salários, para cuja criação contribuem. […] Os governos gastaram milhares de milhões de dólares para garantirem a [recuperação dos bancos]. Os trabalhadores não receberam o mesmo tratamento. […] Enquanto os bancos são grandes de mais para abrir falência, [as pessoas] são pequenas de mais para serem tomadas em conta. […] Avançar para uma nova era de justiça social exige cooperação, diálogo e, acima de tudo, liderança. Uma liderança impulsionada por valores humanos – e principalmente, pelo valor chave: o respeito pela dignidade do trabalho e dos trabalhadores.” 
O que eu queria mesmo era falar de meu irmão Eduardo. De como se inebria com iniciativas novas, de gente nova. De como falou e fala sobre este mundo grávido, sobre a esperança. Não concordo com tudo o que diz e faz. Contudo, dou-lhe a tolerância que dou a todos os românticos.  Filhos do mesmo pai, temos dessa paternidade heranças não de todo iguais. Apesar de seus actos desalinhados, sei que ele sempre esteve e estará do meu lado. É da família. Familia onde a discordância nunca a tornará desavinda.... 



Galeano, inebriado... Eu vou para a Alameda e ele anda por qualquer lado.

19 comentários:

  1. Afinal o que ouvi de manhã àcerca das lojas Pingo Doce era mesmo verdade para todo o país. Vergonhoso! Vi gente bem humilde com pressa de ir para lá, o que me custa entender, porque sou uma funcionária pública, classe a que cada vez mais são retirados direitos e subsídios e não tenho tão fácilmente 100 euros para gastar num dia, mesmo que me descontem neles os tais 50 anunciados pelo grupo Jerónimo Martins. Afinal, se calhar este povo tem o que gosta e o que merece.

    Vou a correr para a praça, já está na hora e ainda tenho que fazer uma viagem de 10 minutos. Logo volto para comentar melhor.

    Beijos.
    Branca

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  2. Ora aí está um autor latino-americano (uruguaio), que eu ADORO!
    Vale a pena ler a análise política das suas obras.

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  3. Eu concordo em absoluto com o Galleano, mas acabado de regressar a Lisboa e enfrentando o cenário montados pelo sr. Alexandre, pergunto-me se não será possível mudarmos de povo. Começo a pensar que talvez precisemos mais de um povo novo, do que de outro governo, com outras políticas. Aparentemente, povo está satisfeito e basta um bocado de folclore para se sentir feliz. Mesmo que as suas atitudes signifiquem um profundo desprezo por quem trabalha.
    Foi o mais deprimente 1º de Maio da minha vida...

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  4. A publicidade inventa as coisas mais desconexas.

    E aconteceu...e mais vai acontecer.

    Belo texto muito bem trabalhado!

    Abraço,

    Maria Luísa

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  5. A Utopia está onde estão os nossos olhos.

    Abraço

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  6. As páginas do facebbok enchem-se de fotografias do Pingo Doce e acabei de ver um vídeo montado com o 1º de Maio de 1974 e o 1º de Maio de 2012, nos supermercados do Jerónimo Martins, publicado por um Monárquico.
    Claro que tudo isto é uma caricatura porque as ruas da baixa do Porto assistiram a um grande desfile de trabalhadores e a uma grande concentração, mas haviam algumas lojas comerciais abertas, embora poucas e nada apaga a vergonhosa feira que se realizou nos supermercados, pelo que vejo nas fotos, porque na verdade não vi, nao fiz uma compra no dia de hoje.

    Beijos, volto ainda logo.

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  7. Meu amigo:
    Só o título tão bem escolhido para este seu post já diz tudo.
    É ainda a utopia que me faz caminhar, mesmo quando vejo o nosso povo a vender-se por alguns tostões.
    Galeano escreveu:
    «Quando as palvras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar.»
    Fico à espera!

    Beijinhos

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  8. Admiro a ambos. Fico feliz com os contrapontos que constato, ora um e ora outro. Gosto.
    Um grande bj

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  9. "...o mais deprimente 1º de Maio da minha vida...", palavras do Calos Barbosa de Oliveira, que faço minhas.
    A vergonha que eu senti!
    Que povo é este!?
    Abraço, amigo Rogério

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  10. Concordo plenamente com Eduardo Galeano....
    Cumprimentos

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  11. O Rogério e muitos outros blogistas não gostam do povo alemão!!!

    Mas enquanto os alemães foram às ruas contra a austeridade da Angela Merkel com os países como a Grécia e Portugal, o nosso povo invadiu o Pingo Doce e, apesar da miséria que reina em Portugal por causa da Merkel, milhares de pessoas gastaram mais 700€ em compras.

    Vamos lá ver de que fala na sua próxima posta, meu caro Rogério!

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  12. Caro Rogério,

    Depois de me ter perdido pelo Facebook à volta deste 1º de Maio de 2012 e pela surpresa que lá me fizeste, voltei aqui para ouvir com toda a calma e todo o tempo merecido o Eduardo Galeano. O vídeo é fabuloso e partilho com ele a esperança nos jovens de hoje. Há uma geração muito consciente daquilo que quer, uma geração que infelizmente este governo quer obrigar a emigrar, mas que resiste o mais que pode e na qual acredito, é uma das minhas utopias, nalguns casos certezas.

    Beijos

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  13. manífico...adorei o teu texto e ouvir o teu irmão falar assim ...ateé me arrepiei. Nem imaginava que ele estava na wiki...
    Maravilha, Meu beijo
    BShell

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  14. Também penso que é muito importante sentir, aliás, para mim é muito difícil separar as duas coisas e suponho que sinto primeiro e só depois quero racionalizar o que sinto... mas o mundo ainda não está grávido de um novo... suponho que ainda haverá muito sofrimento até ele ser concebido...

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  15. A sério, é com dor no ciração que o escrevo, começo a procupar-me pouco com o que acontece ao "bom povo português"!!

    Cada qual tem o que merece..e se nós nos abstemos , se votamos continuadamente em quem mente, se fazemos figuras tristes como as de ontem...então que assim seja!!

    para a liberdade , nada há pior que escravos felizes.

    Partilhei o vídeo.

    Bom dia, maigo.

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  16. Galeano tem sabedoria!
    Prefiro as suas sábias palavras aos 'faits divers' dos noticiários.
    Ainda bem que mudadte de ideias.
    Há certs coisas que cansam, pela estupidez que transportam.

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  17. Coitados dos que não sonham

    dos que são apenas

    o que os olhos veem

    Abraço amigo

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  18. Tive um especial prazer ao ouvir Eduardo Galeano, e por várias razões, sendo que a mais pequena não foi a sua enorme juventude.
    Há ali muito pano para mangas.
    Obrigado pela partilha, Rogério.

    Abraço

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