Em Outubro de 2011, exactamente há dez anos, escrevia eu:
«Pode um homem procurar identidades com outro, até lhe assumir os tiques e procurar imitar-lhe palavras e ir até a um limite que a outros poderá parecer ridícula manifestação de perda da sua própria personalidade? Claro que pode. Pode e não surpreende. (...) Mas não valorizo isso mais do que o valor em si mesmo, dos comportamentos que nos deveriam levar a identificar e a copiar quem admiramos. Em criança, garanto-vos que já fui "Tarzan", "Capitão Fantasma", "Pincipe Valente", "Tom Sawyer" e até "Mandrake. Juro-vos que nunca quis ser "Tin-Tin" ou o "Homem de Borracha".A humanidade estaria melhor se procurasse seguir os seus heróis, sabendo-os escolher. A humanidade estaria melhor se todos copiássemos humanos que valorizaram a marcha humana (...) Tudo isto porque descubro a sobrevivência em mim dessa tendência de criança e "brinco" a sentir, para já, identidades com o meu herói Saramago. Dou comigo a sentir a grata satisfação de ter frequentado a mesma escola. Dou comigo a ter o prazer de também ter, como ele, curiosidade por sinaleiros...Na sua autobiografia pode ler-se "Já eu tinha 13 ou 14 anos quando passámos, enfim, a viver numa casa (pequeníssima) só para nós: até aí sempre tínhamos habitado em partes de casa, com outras famílias."»
E acrescentava que a mim também me aconteceu viver assim... e referia ter vivido em quartos alugados. Há pouco descobri que eu e Saramago vivemos na mesma Rua, não sei se no mesmo prédio, não sei se no mesmo quarto, naturalmente em tempos diferentes. Isso mesmo, na Rua Carrilho Videira, e ia jurar, que os personagens do seu livro são os personagens que eu descreveria se fosse eu a escrever "Clarabóia"...
A HOMILIA DE HOJE É ENCENADA
PS: vou enviar esta homilia às companhias de teatro cá de Oeiras, e junto-lhe um desafio! Boa?
Cá estou... dorida como se tivesse sido atropelada por um camião TIR, mas disposta a tentar teclar qualquer coisa, letrinha a letrinha emuuuuuito devagarinho, que tenho os braços que mal os posso mexer.
ResponderEliminarPor instantes vibrei, imaginando que nos disponibilizasses o Clarabóia inteirinho :)
Quanto às identificações, claro que todos as temos pontualmente, mas não estou muito de acordo contigo quanto à ideia de copiar/mimetizar este ou aquele herói, apesar de saber muito bem que tudo o que criamos enquanto escritores, por exemplo, já foi criado por outros escritores antes de nós, de uma forma diferente, no entanto...
Claro está que na Arte de Talma, tudo muda e as coisas funcionam exactamente assim, mimetizando. Os artistas/actores vestem a pele dos seus personagens com o rigor que lhes for possível.
Abraço, agora sim, com muito cuidadinho; estou toda partidinha...
Vê se tens juízo... a quem muito se preza toda a gente espera. Faz um interregno para evitar atropelamento...
EliminarQuanto a copia/mimetizar... esquece, pois não é isso que acontece. Era assim, enquanto menino...
Eu enquanto artista, no palco da vida, desempenho o papel de Minha Alma
E aqui vai o livro, a teu pedido
https://pt.scribd.com/document/363344904/Claraboia-Jose-Saramago-pdf
Abraço com jeito
:D OBRIGADA!!!
EliminarGostei desta claraboia.
ResponderEliminarQuanto a copiar heróis estaria feita num tempo em que só conhecia a Padeira de Aljubarrota e Joana D´Arc!
Gostava dos heróis masculinos mas não de os imitar! :)
Abraço
Joana D´Arc?
EliminarLivra! Morrer queimada
Quanto à Padeira...
essa faz-nos falta
Abraço
faça força, envide todos os seus esforços, actue, ainda há muito para fazer, Rogério. Saramago é um bom exemplo de força de vontade. esse sim, subiu a pulso na vida, mediante o seu esforço e vontade de aprender.
ResponderEliminarTambém tive os meus heróis, mas nunca me apaixonei por heroínas.
O "Príncipe Valente" foi o meu preferido, mas quem admirei mesmo foi Inês de Castro, heroína da vida real. Acredita?
Um abraço.
Se acontecesse, ser eu celebrado pelo meu centenário e Saramago fosse o septuagenário que por aqui anda lutando por mudar o Mundo, ele me admiraria por ter subido a pulso na vida...
EliminarQuanto a mulheres heroínas, por razões muito actuais diria que a minha referência vai para quem produziu frase assim:
"antes ser rainha por um dia do que duquesa toda a vida".
Abreijo
Creio que falar do que mais nos afeta (individual e coletivamente), na escrita, é uma atitude, acima de tudo, honesta. Pensar em lírios e escrever rosas é que não presta. Estão carregadas de honestidade, as personagens de Saramago. É por isso que são admiráveis.
ResponderEliminarLídia
Certo, querida amiga.
EliminarÉ por isso que tanto admiro Saramago.
Abraço