Esta foi uma das fontes que sequei |
PRODUZIR CERVEJA SEM ÁGUA
O meu primeiro dia de trabalho foi o da minha apresentação e ficou para sempre registado na memória da Minha Alma que assim me recorda: “Lembras-te de teres chegado atrasado por a entrada estar bloqueada por manobras de um camião gigante carregado de equipamentos para a implantação da fábrica? Lembras-te da surpresa de teres sido recebido por um teu companheiro de lutas antigas, que te explicou o desafio, as tarefas prioritárias até ao arranque da fábrica? Lembras-te?
Claro que me lembrava. A entrada, para a Quinta do Grajal, era servida por uma florida azinhaga que partia da Estrada da Carregueira e terminava no portão de acesso à quinta centenária e a atravessava. A pouca distância, do lado esquerdo, uma casa apalaçada, onde funcionavam os serviços administrativos da empresa, dois ou três gabinetes destinados às chefias e, ainda um refeitório. Do lado direito da azinhaga, a uma maior distância, ficava um estábulo, uma vacaria e um casarão que servia de dormitório ao pessoal que trabalhava na quinta.
Alegóricamente, estava perante um real caso de como a indústria invadia o espaço rural, violando-lhe a bucólica vivência e cultura.
Mais tarde, uns poucos meses, deixei de levar para a família, diariamente, o leite da última ordenha da tarde, pois os animais ou foram abatidos ou vendidos e todo o pessoal dispensado.
Talvez porque sofri com isso, por raiva minha, passado pouco mais de um ano, a fábrica encerraria e a marca Cergal passou a ser produzida pela Sociedade Central de Cervejas.
Sim, a culpa foi minha, pois sequei todas as fontes ali e à volta em toda a serra e ... sem água não há cerveja.
Continua
Em resposta ao teu comentário:
ResponderEliminar„Como não tenciono escrever livros 📚 continuo a ler obra editada.
Já li dois capítulos de „NÃO CULPEM MAIS NINGUÉM, SOU EU O CULPADO". O capítulo desta noite — desapareceu‼️„
Afinal, tornou a aparecer e eu li-o novamente.
Que bom saber
Eliminarque continuas a ler
(meu texto tem manhas a se insinuar para repetidas leituras)
Sinceramente, não sou especialista em cervejas, nem sequer em bebê-las, pois bebo muito pouca. Às refeições bebo vinho e fora delas mato a sede com água.
ResponderEliminarParece-me que a localização da Cergal na zona de Belas seria uma boa ideia, pois é ali à volta que se encontram os mananciais que alimentam o Aqueduto das Águas Livres. Já dei vários passeios por Belas e Caneças e admirei as construções do aqueduto que se encontram espalhadas por aquelas encostas. É claro que também já comi uns saborosos fofos de Belas na casa que os produz.
O Aqueduto das Águas Livres ainda está a uso, embora a água que ele transporta seja uma ínfima parte de toda a água que agora é fornecida pela EPAL. É uma colossal obra de engenharia, que não se limita à espetacular arcaria sobre o Vale de Alcântara (a qual resistiu ao terramoto de 1755, apesar de estar "a cavalo" de uma falha sísmica!), e foi integralmente paga pelo povo. O rei D. João V, por quem tenho muito pouca consideração, era o soberano mais rico de toda a Europa no seu tempo, graças ao ouro do Brasil, mas não investiu um chavo no aqueduto e criou um imposto de propósito para pagar a sua construção. O Aqueduto das Águas Livres é do povo, que foi quem o pagou.
Muito provavelmente terá sido esse quadro que levou a tal localização... mas, na verdade, a Venda Seca (e todos os fontanários) estava seca.
EliminarA água é uma matéria prima indispensável ao cozimento do malte e do lúpulo...
A água era, a todo o momento, usada na linha de enchimento, para a lavagens de garrafas (lembro que naquele tempo a garrafa não sendo "tara perdida" era reutilizada no processo.
Mas, como refiro com a minha ironia, água não havia e eu sou o culpado (sequei a serra)
Abraço
Vou acompanhando os episódios, neste, quase poderíamos dizer que "a cerveja foi um problema na tua vida".
ResponderEliminarDiz antes que a água (quase) foi um problema da minha vida...
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