15 agosto, 2011

Texto inapropriado (1)

Começo esta minha nova rubrica de textos inapropriados ao dia-a-dia (neste, por nada ter a ver com férias) para citar e transcrever parte de um artigo, publicado em dois lados, que costumo seguir. (aqui e aqui) Reporta-se à conferência, na sua passagem pelo Brasil, do filósofo húngaro István Mészáros, “Crise estrutural necessita de mudança estrutural”, realizada na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e enquadrada nas comemorações dos 70 anos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. O Salão Nobre da Reitoria foi tomado por uma maioria jovem que recebeu Mészáros com entusiasmo e sonoras palmas. O texto merece leitura integral, bem como os oportunos comentários colocados neste site. Eis algumas passagens:


“(...) Existe e deve existir esperança”, diz o filósofo. Apesar do retrato de destruição apresentado por Mészáros e vivenciado quotidianamente dentro da própria estrutura capitalista da sociedade, faz-se o esforço de pensar o futuro, não apenas como um desejo sonhador, mas sim como uma tarefa necessária para mudar o sistema.

(...)Mészáros (...) aponta como soluções já tentadas na história: a saída social democrata, socialismo evolutivo, o Estado de Bem Estar Social e a promessa da fase mais elevada do socialismo. “O denominador comum de todas essas tentativas fracassadas – a despeito de suas diferenças principais – é que todas elas tentaram atingir seus objectivos dentro da base estrutural da ordem sociometabólica estabelecida”. Pensar a mudança sem erradicar o capital, portanto, seria deixar latente a possibilidade do capital voltar, ser “restaurado”. A mudança, para Mészáros, precisa ser estrutural e radical, como ele bem especificou para a plateia, extirpando o capital pela raiz (...)

12 comentários:

  1. como alguem que viveu a 1 parte de uma vida ainda nao muito longa num regime comunista, devi dizer que por experiencia propria, nao funciona. E uma falsidade.

    Sera o Capitalismo o melhor? Nao sei, as opurtunidades sao maiores, mas sera o melhor sistema nao acredito.

    Haver um melhor sistema, podera aparecer uma nova maneira de pensar em que se consiga uma maior igualdade social e de niveis de vida elevados? Bem isso e extremamente dificil por duas simples razões ( na minha opiniao)

    A primeita o facto basico e inevitavel que o nosso planeta nao tem recursos suficientes para o efeito, dai a necessidade de um sistema quase de sobrevivencia do mais forta

    e a segunda o facto talvez evitavel mas muito dificil que o ser humano e na sua maioria essencialmente egoista


    Adorei o texto e mais uma vez obrigada por me dar a conhecer mais um autor

    Bjinhos
    Paula

    ResponderEliminar
  2. Querida Paula, apenas três apontamentos:

    Primeiro - Vale a pena ter esperança e acreditar na mudança. Ao longo de milhões de anos houve vários sistemas, o capitalismo é o mais recente, mas as coisas foram mudando sempre. Acho que a marcha da humanidade não parou aqui...

    Segundo - Aquilo que chama a sua experiência vivida num regime que chama comunista o filosofo chama "uma promessa da fase mais elevada do socialismo". Ele, parece estar de acordo consigo quando diz que fracassou. Mas também diz a razão do fracasso ao dizer, que tal como outros sistemas, tentou "atingir seus objectivos dentro da base estrutural da ordem sociometabólica estabelecida." Temos que saber o que é lá isso de "sociometabolismo" (eu acho que tenho ideia do que seja)para o compreender melhor...

    Terceiro - A sua última afirmação caracteriza muito bem o capitalismo pois é este que coloca em risco, pelo uso ganancioso e descontrolado, os recursos do planeta que, de outro modo, seriam (e serão) suficientes...

    FINALMENTE, uma coisa que a Paula não comentou. Um sistema que extirpasse o capital, mas também não tem mal. Também não imagino. Por isso é que é necessário que existam filósofos...

    Beijo e agradecimentos pelo comentário

    ResponderEliminar
  3. Muito simples de perceber um ponto.
    A continuarmos neste sistema, sabemos perfeitamente como sera o nosso futuro.
    Maneiras de desacelerar este processo, uma delas, tirar as palas que nos puseram, para podermos ver em outras direcçoes e assim termos consciencia de que o crescimento economico nunca podera ser perpetuo (como quase todos afirmam)sem causar prejuizo a outros, os mais "fracos".
    Ou seja, estamos mesmo numa verdadeira selva e e o salve-se quem puder.Enquanto a maioria de nos, fizer parte deste mecanismo, e assim que vai ser.
    E estou a ser otimista, porque parto do pressuposto, que com esta consciencia, poderemos mudar ou pelo menos desacelerar esta destruiçao produzida pelo dito "crescimento economico".

    ResponderEliminar
  4. Caro Rogerio

    O mais interessante disto tudo e que estamos presos a conceitos, criados por nos, e que a qualquer altura, em teoria os poderiamos alterar/mudar.

    esperanca , nunca a perco :) afinal de contas e apesar de tudo, e talvez mais devagar do que o esperado, temos evoluido de sistema em sistema, pode ser que algum dia se aprenda com os erros todos.

    E ja agora obrigada pelos comentarios no meu. Fez la um com uma sugestao agradavel :) ( nao se pode so filosofar sem de vez em quando brincar)

    Bjinhos
    Paula

    ResponderEliminar
  5. não sendo um individuo com formação académica, penso que tenho no entanto desenvolvido alguma capacidade analítica.
    Com 18 anos de idade, isto á cerca de 25 anos atrás (sem conhecer Marx ou outros)eu questionava para os meus botões como seria possivel perpetuar um sistema que requeria um crescimento exponencial constante e em que a tendencia já se mostrava, no sentido de criar um fosso entre a necessidade de produzir sempre mais e a respectiva capacidade de serem consumidos.(Percebe-se a função do crédito no prolongamento do sistema).Mas o ponto importante é a extirpação do capital...
    Venho desenvolvendo mentalmente dentro da minha capacidade não académica alguns conceitos a que no seu conjunto chamo de SOCIEDADE VOLUNTÁRIA. Deixo uma pequena descrição generalista para apreciação.
    A SV é uma sociedade sem classes, na SV não existe o conceito de propriedade.Todos os individuos são livres de participar ou não na construção da sociedade conforme a sua vontade. Não pode ser exercida qualquer forma de violencia fisica ou psicologica sobre o individuo.Todas as pessoas possuem uma capacidade para o exercicio de uma função, normalmente reconhecida pelo prazer obtido pelo individuo na sua realização.
    Todos os bens materiais ou progressos sociais evolutivos conseguidos pela sociedade são distribuídos pelos indivíduos que dela fazem parte.
    Numa sociedade voluntária a tendência não é para a concentração de indivíduos em enormes aglomerados, sendo que a maioria das necessidades são preenchidas localmente.
    A sociedade voluntária exerce a sua actividade e satisfaz as suas necessidades em compreensão, respeito e parceria com o meio ambiente que o rodeia e no essencial que o suporta.
    A SV abandona o perfil de produção massiva constante que implica o consumo massivo constante.

    Todas as contribuições para uma visão mais nitida ficam desde já agradecidas.Obrigado.

    ResponderEliminar
  6. Juntamente com o texto inapropriado também li o texto apropriado da homilia dominical...

    Parece que ainda tens a juventude suficiente para ter esperança...

    Eu, desde muito novo, gostava das homilias porque era o sinal que a missa estava a acabar e era a altura de abrir os olhos para ver as meninas a sair da missa...

    Abraço,
    António

    Tens toda a razão com a coincidência, com o pormenor de...

    não haver coincidências.

    Obrigado pela visita e comentário!

    ResponderEliminar
  7. Ideologias à parte e apenas fazendo um exame de consciência, a este sistema, só pode estar muito mal... quando 8% dos habitantes do Planeta são proprietários de 80% da riqueza mundial (esta estatística até deve estar desactualizada)
    Impressiona quando os recursos naturais que já cá estavam no tempo dos dinossauros e antes da espécie humana existir... poderem pertencer apenas a alguns... temos o caso da água onde, em certos países onde foi privatizada, para ter acesso a este bem indispensável à vida, tem um custo equivalente ao que certas famílias têm de rendimento num ano, o que provoca o não acesso e o aumento de doenças e de todos os problemas que se possam imaginar.

    Também será interessante olhar o caso de Portugal... estamos a ser postos "na prensa" dos impostos, na perda de todos os direitos (sempre difícil de alcançar um meio termo e é sempre fácil resvalar para os extremos) mas alguns, nem sentem nada e quando
    falamos num país pobre sem recursos como é possível que... 9 milhões de euros saiam Diariamente para Paraísos Fiscais.
    Este sistema está todo errado, isto não é viver numa sociedade equilibrada, é viver num Mundo mafioso, porque o grande problema nao está em ganhar dinheiro, seja através de trabalho físico ou intelectual... o erro está no supremo egoísmo de ganhar milhões à custa de outros seres humanos e, pouco a pouco, uma minoria se ir apoderando de todos os recursos do Planeta Terra, muitas vezes, poluindo, e retirando sustentabilidade ao Planeta para a sobrevivência das próximas gerações.
    Só pode dizer que esta escravatura comandada por 8% é boa, quem não quiser pôr a mão na consciência, e aqui não há desculpa porque todos nascemos com uma.

    enfim... escrevi demais... :)

    Bjos

    ResponderEliminar
  8. ....extirpando....pela raíz.
    Sem chance no caso brasileiro.

    A história deixa raízes , a árvore é enorme e frondosa, mas os frutos, os comem os que ainda sugam das raízes da alma brasileira - tão cheios de poder e como há excedente em frutos embora mal distribuídos, o povo come o que pode como pode e transforma os frutos menos viçosos em doces.

    No Brasil tudo se transforma.

    ResponderEliminar
  9. Pois é! E como se faz? Complexo! Muito complexo!

    E assustador também.

    ResponderEliminar
  10. ... pois meu caro
    saber o que não se quer já seria bom.Esperança sem luta contra o que não se quer é chover no molhado.
    Extirpar o capital pela raiz? Pois bem - mas entretanto é preciso sair à rua contra a acumulação indevida da riqueza nas mãos de um punhado de parasitas distribuir o essencial ... só que o capital sabe que não bastam estômagos vazios para que se façam revoluções
    de corpo inteiro e depois filosofar é preciso mas entretanto
    também por cá no terreno das realidades concretas é preciso actuar - e o Passos Coelho já nos deu motivos fortes e promete mais.
    Na verdade por cá as troikas andam à solta a soldo dos impérios financeiros.Vamos convidar o filósofo citado para participar nas próximas manifestações populares - organizadas

    Abraço

    ResponderEliminar
  11. Caro Rogério
    Quanto a mim há uma "ferramenta" perfeitamente adequada à compreensão dos fenómenos actuais.
    Onde estão os Marxistas? Terá havido algum fenómeno novo que não possa ser comprendido a partir desta teoria.
    Como Saramago explica mais abaixo num extracto dum texto que o meu caro (ao exemplo do que tem feito e muito bem desde o seu passamento) publicou, não eram as ideias que eram más "quem falhou foram os homens".
    Excelente a sua iniciativa de provocar a discussão ideológica, tão necessária.
    Abraço

    ResponderEliminar
  12. Corremos o risco de que no dia em que aprendermos com os erros, ja nao haja a minima habitabilidade neste planeta, o unico que temos...por enquanto...
    Esperança, sim, pois penso ser um sentimento que nos leva a agir.
    Mas a consciencia e conhecimento por outro lado, alerta-nos para a urgencia em mudar este sistema em que a humanidade vive e quer perpetuar.
    E isto e a realidade... com esperança na mudança.

    ResponderEliminar