31 março, 2014

É a dialética da natureza, onde nada sobrevive sem seu contrário...


Na natureza é tudo mais claro, e basta que se compreenda para o equilíbrio se dar. Em nós é mais difícil aceitar que precisamos dos nossos lobos para que não transformemos, a nossa alma num deserto de afectos e o nosso corpo numa aridez de gestos...

30 março, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 58 ( chove sempre, nos olhos de alguém...)

(ler conversa anterior)
Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu... 
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
A esplanada, coberta e abrigada, era por vezes escolhida para deixar escoar a nostalgia e ir conversando enquanto a chuva caía. Estávamos ali há tempo e o que nos ocorreu nada teve de diálogo nostálgico:
- "A chuva nunca mais acaba, não pára!" disse.
Olhei o céu e respondi como se pensasse para mim
-"Nos olhos de muita gente, não parará tão cedo..."

28 março, 2014

Redacções do Rogérito 18 - "Rogérito, veja se na Espanha foram nisso!!"

Tema da redacção: Se a História se escrevesse com ses

A senhora Graça que não é do Bairro da Graça aonde morava a Guidinha a qual eu considero quase prima disse-me e não foi por graça que se toda a oposição não tivesse tirado o tapete àquele outro primeiro ministro nunca tínhamos chegado e isto.
Como o p´ssor deu este tema eu só me alembra de pensar que se um tal tratado tramado e chamado de "Mais Triste" não tivesse sido assinado pelo tal primeiro ministro nós nunca tínhamos chegado a isto e depois veio o outro tratado também assinado por esse mesmo primeiro ministro a dizer um palavrão e que se a minha sôtora de português me ouvisse dizer "porreiro pá" eu já não estava cá e era posto na rua e era isso que lhe devia ter acontecido não só por ter dito o dito mas também pela asneira que foi feita e se isso tivesse acontecido nós não tínhamos chegado a isto. Se esses dois tratados não tivessem sido assinados não existiriam os PECs e se o primeiro não tivesse sido assinado não teríamos chegado ao segundo e sem o segundo não haveria o terceiro todos assinados com os outros a assinar e a colocar o tapete por baixo até que chegou o quarto em que resolverem tirar o tapete com o tal primeiro ministro a bradar aos céus e assim chegarmos a isto. 
O outro partido nunca alinhou com tratados nem PECs nem palmadinhas nos costados e até queria que se fizesse um referendo que se fosse feito o dito nunca chegaríamos a isto e por isso não entendo por que é exactamente aquele partido com que a Graça menos engraça e diz ser o culpado de tudo isto. Se a História fosse feita de ses nunca teríamos chegado a isto e agora para terminar quero deixar expressa uma dúvida que me resta porque seria que a senhora Graça diz que a Espanha não está à rasca é que um resgate resgate ela não tem pois se a Espanha tivesse um resgate a Europa apanhava um enfarte e mesmo assim não sei se escapa!
Rogérito
Há dois dias, em Madrid - se a Espanha não foi nisso, porquê isto?
 

O que a televisão não mostra, os jornais não falam e os comentadores omitem, existe. Existe sim senhor, e vai-se impôr ! - 3


No passado dia 12, houve uma intervenção que passou no Canal Parlamento, os outros canais, népia, tal como nos jornais. Também o colóquio organizado pelo grupo parlamentar «Renegociar a dívida - defender o Povo, defender o País» foi ignorado, com uma excepção ou outra... Passo aqui as principais intervenções.

27 março, 2014

"Lá se fazem, cá se pagam" disse a Ilda* - 1


A cara de Joana não engana. Traz a alma desenhada no rosto e na voz palavras claras. Palavras em tom por vezes de desgosto, outras vezes de calma reflexão e ainda outras, de ânimo e alento. Na foto acima, falava na maior manifestação de sempre, a 15 de Setembro de 2012. No vídeo abaixo descreve como cá as gerações pagam o que lá se faz. Sábado vou voltar a emocionar-me com esta minha candidata, na lista onde reside a esperança. É a quarta... Joana Manuel, de seu nome

26 março, 2014

«Porque não toleramos viver prisioneiros no próprio país, que é o nosso, porque não queremos que a soberania do povo continue a ser profanada, apelamos aos portugueses para que assumam o compromisso de tudo fazerem para que Portugal se liberte das amarras que o prendem e assim possamos retomar a caminhada por um “Portugal soberano e desenvolvido”.»


O que a televisão não mostra, os jornais não falam e os comentadores omitem, existe. Existe sim senhor, e vai-se impôr ! - 2

Fátima Campos Ferreira é esperta, quis esconder, mais não foi desta. Quase era. Nenhum dos principais convidados se referiu a antecedentes do Manifesto-dos-já-não-sei-quantos. Ninguém referiu que foi o PCP quem há três anos lançou a discussão, a colocou na agenda de todos os dias. Ela e os principais convidados mantiveram a omissão, mas na plateia não! E de lá surgiram palavras justas e esperadas:
 "Embora não tivesse nenhum nome a subscreve-lo, o PCP já se pronunciou em apoio ao manifesto, ao afirmar que só peca por tardio"(...) "o documento corresponde a uma tentativa séria de alternativa política".
Jorge Reis Novais, in Prós e Contras, ao vigésimo minuto (ver vídeo)

25 março, 2014

O wrestling, a galhofa, a simulação e a sova



Entre o wrestling e a "galhofa" as TVs lusas chamaram conhecidos e reputados "lutadores" para um campeonato nacional de manipulação de golpes. Estes jogos, baseiam-se em regras estranhas: o confronto quase sempre é com um adversário ausente,  pois o presente tem papel ambíguo, ou simula que ataca ou faz brilhar os golpes desferidos em outros inimigos. Os espectáculos são diários, mas a modalidade sobe ao rubro aos domingos, com dois combates planeados, considerados de luxo. 
Como todos os espectáculos, este combate combinado também vive das assistências. Na RTP1 a coisa estava fraca, próximo de "ir dar barraca" e, eis senão quando, um dos contendores puxa de golpes que não constavam da cartilha do adversário. Caldo entornado. A luta prolonga-se para além do ringue. Discute-se, fazem-se declarações, apostas e toda a imprensa dita de referência bota sentença. Uns dizem que o traído deu uma sova no traidor, outros dizem que foi este a levar uma grande coça. Empolgam-se os amantes do arco da governação, até mais não.

Enquanto este circo continua, eu luto. 
Sim, mas na rua,
longe do Campeonato Nacional de Wrestling.

24 março, 2014

O que a televisão não mostra, os jornais não falam e os comentadores omitem, existe. Existe sim senhor, e vai-se impôr !


«Há três anos, antes de quaisquer outros e enfrentando acusações e incompreensões, o PCP apresentou a renegociação da dívida como o único e indispensável caminho para evitar o rumo de afundamento e declínio que hoje temos confirmado.

Afirmámos então que só tínhamos a ganhar quanto mais cedo fizéssemos a renegociação da dívida.
Afirmámos então que a grande questão não seria tanto a de renegociar ou não renegociar, mas sim, perante a manifesta insustentabilidade dessa dívida, quando e em nome de que interesses essa renegociação se faria.

PS, PSD e CDS, ao longo dos últimos três anos, rejeitaram na Assembleia da República os sucessivos projectos de resolução apresentados pelo Grupo Parlamentar do PCP.
Mas a vida deu-nos e dá razão.

Três anos depois, há agora mais quem reconheça a natureza insustentável da dívida e as consequências devastadoras que lhe estão associadas. Impõe-se pois, antes de mais, o elementar reconhecimento de que o país poderia ter sido poupado a três anos de um profundo desastre.

Ontem como hoje, não desconhecemos as dificuldades e complexidades de uma reestruturação da dívida. Sabemos bem que uma tal opção exige um governo patriótico, que defenda intransigentemente os interesses do povo e do país e não os interesses usurários dos credores; um governo que ponha a vida dos portugueses à frente da dívida e que não ceda a chantagens, sabendo procurar aliados entre os países que hoje enfrentam dificuldades semelhantes.

(...) Em relação à dívida do país, em primeiro lugar, é preciso recordar que a dívida privada é superior à dívida pública, coisa que esses senhores sempre escondem.
Depois, é preciso também lembrar que Portugal, em 2007, antes da irrupção da fase mais aguda da crise, tinha uma dívida que rondava os 68 por cento do PIB.
O que se passou de então para cá para a dívida quase duplicar em percentagem do PIB?
Foi porque o Estado passou a gastar muito mais na saúde, no ensino, na investigação, na cultura, nas suas funções sociais? Não foi. Bem pelo contrário.
A subida em flecha da dívida pública, para além da quebra de receitas provocada por uma errada resposta à crise, deveu-se à monumental conversão de dívida privada em dívida pública. E nem é só o caso dos milhões enterrados nos bancos privados; são também os milhões que esses bancos ganham com o processo de extorsão montado a partir das regras de funcionamento do Banco Central Europeu,
que financia a banca privada a juros inferiores a 1 por cento para depois esta cobrar aos estados 4, 5 ou 6 por cento.


É desajustado falar-se em “perdão” quando nenhum perdão é devido, face à especulação a que sujeitaram o País.

O que se impõe é uma renegociação assumida por iniciativa do Estado português, na plenitude do seu direito soberano de salvaguarda dos interesses do País e do povo, assente num serviço da dívida compatível com o crescimento económico e a promoção do emprego, tendo como objectivo a sustentabilidade da dívida no médio e longo prazos.»

João Ferreira, ontem, na Apresentação dos candidatos às Eleições para o Parlamento Europeu

Maltratando os velhos, e vós continuais cegos!

A Malú Machado dirigiu-me esta imagem. Enviou-a do outro lado do Atlântico porque me achou sensível ao tema da violência dirigida aos velhos, com o distanciamento conivente dos muita gente. Aproveito a imagem para lembrar outra violência surda, a do empobrecimento, que é invisível a olho nu...
Obrigado, Malú.

23 março, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 57 (Afinal, Marx sempre escreveu poemas... )

(ler conversa anterior)

"...(sou) a favor do Tratado Orçamental... mas é preciso fazer uma leitura inteligente..."
Francisco Assis, in entrevista ao Expresso

"Pergunta-me, é possível cumprir o Tratado Orçamental? É, com um polícia a cada porta, porventura num estado de emergência..."
João Cravinho, hoje, ao DN

O cão rafeiro do senhor engenheiro desviou-se a tempo da pisadela na cauda, que a Gaby quase lhe dava. Eu suspendi o que ia dizer ao meu velho amigo, sobre a entrevista do Cravinho. E o pombo, espantado voou para ir pousar noutro lado. A Gaby dirigiu-se à mesa, erguendo-se de sopetão gerando a confusão e despertando todos para o que ia dizer. "Sabem?, ele tinha razão!" Percebi que se referia a mim, quando ela quase me cita: "Marx rima, mesmo sem rimar! Querem ouvir?" E sem esperar a resposta, leu:
"com desdém jogarei minha luva
bem na cara do mundo, e verei o colapso deste gigante pigmeu
cuja queda não sufocará meu ardor."
"Bem, não sei se goste... mas não tenho dúvidas quanto a este outro texto. É uma carta. Ora oiçam:
"Meu coração bem-amado:
Escrevo-te, porque estou só e me perturba sempre dialogar contigo na minha cabeça sem que o saibas e me possas responder.
Por má que seja a tua fotografia, presta-me esse serviço e compreendo agora como as efígies da mãe de Deus mais odiosas, as virgens negras, podem encontrar admiradores incansáveis. Nenhuma dessas imagens foi jamais tão beijada, olhada e venerada que a tua foto, que não reflete de modo algum a tua querida, terna e adorável doce figura. Mas os meus olhos, por ofuscados que estejam pela luz e tabaco, ainda a podem reproduzir não só em sonhos, mas também acordados.
Tenho-te, deslumbrante, diante de mim. Toco-te e beijo-te, da cabeça aos pés. Caio de joelhos na tua frente e gemo: « I love you, minha senhora... Amo-a de verdade muito mais que o Mouro de Veneza jamais amou... » O meu amor por ti, assim que te afastas apresenta-se-me pelo que é: um gigante que absorve toda a energia do meu espírito, toda a substância do meu coração. Sinto-me de novo um homem, porque tenho uma grande paixão..."
Karl Marx, in Jenny, a mulher de Karl Marx, de Françoise Giroud

22 março, 2014

Minha Alma, uma carta me escreveu (Meu Contrário também a leu) - 2


Meu Caro Eu, 
Estou mais uma vez desolada. Tenho acompanhado e até inspirado teus escritos e os escritos dos teus amigos e não percebo porque as almas andam afastadas das razões que explicam a imagem que te envio. Não que os poemas lhe passem ao lado, não que os textos não refiram a dor e até a raiva de que falava naquela outra minha carta. Mas não chega o desabafo, o lamento, o grito. Lembras-te do que o teu poeta dizia, num texto por ti citado onde comentava um matemático? Eu lembro, terminava assim: "o verdadeiro poeta era ele. Aquele homem superior onde sempre encontrei apenas um único desejo de missão: o de viver como se cumprisse um acto poético." Um matemático casando trigonometria com poesia, é possível. Como não ser possível casá-la com a economia? Não sei se Marx rima com poema... Fala-me disso, é preciso e vale a pena.
Um beijo da tua sempre querida
Minha Alma, tua amiga
Li atentamente, como faço sempre, a missiva de Minha Alma. Meu Contrário, que tinha lido comigo, segredou-me: "Não vai ser fácil explicar a gente formada em humanidades, com funciona a desumanidade e o que é o Tratado Orçamental". Não lhe respondi por não saber a resposta. Mas fiquei ciente de que é urgente e de que terei que arranjar uma boa prosa...
.

20 março, 2014

A primavera das mulheres puerís

(Reeditado)
imgem retirada daqui
I
O corpo
dengoso ia desenvolvendo
um andar, um caminhar, lento,
voluptuoso,
ao encontro do que parecia ser seu destino
Tirou os olhos do chão
sem os colocar no ar
Virou para dentro de si
esse seu olhar
Parecia não ter visto outra coisa,
enquanto a densa teia a envolvia,
do que a asa que lhe nascia,
e também a outra, em síncrono movimento
Feliz, nesse encantamento,
falava com outras, suas iguais...
Falava da cor das asas,
da beleza dos locais
para onde iria voar
e das flores todas em que iria pousar,
do céu para onde nunca olhara antes...
Dissertava sobre seus amantes,
com a alma em cio
ouvindo das demais
conversas tão parecidas, quase iguais
em palavras gargalhadas
pois só estas, e não as graves,
passavam as paredes aveludadas
do casulo, sem entraves

II
Chegado o momento,
a parede se rompeu e saiu
Exercitou o bater de asas,
segura como nunca se viu
Voou na direcção do éden
sem lá chegar, mergulhando antes
em nunca experimentada escuridão.

III
Abri o livro disposto a ler
uma página qualquer
Entre a página aberta e a outra,
ali estava ela
a mais bela borboleta
parecendo ainda sorrir
num sorriso pueril

Rogério Pereira, Março de 2011

19 março, 2014

Vinagrada (ou a verdadeira razão que baptiza este espaço)

(texto que me veio à ideia ao ler este post

Ele, criança, seguia os movimentos das mãos da mãe que com gestos lestos preparava a refeição. Naquele tempo, ou a falta de conduto ou a chegada do suão determinavam o que comer. E era mais difícil superar a penúria do que suportar aquele vento quente que abrasava tudo. A faca afiada ia cortando em pedaços todos os ingredientes. O tomate aos quartos, os pimentos em finas tiras transversais, como que para ornamentar. A cebola picadinha, picadinha. O alho ainda mais picado e o pepino, depois de feitas as rodelas, iam sendo também cortados em pedaços, uns maiores outros mais pequenos, como se obedecesse o corte a regras geométricas, precisas. A criança não tirava os olhos dos gestos, embora fossem exactamente os mesmos dos que foram antes, e antes, e nos outros dias até ali. A mãe pressentindo-lhe o insistente olhar, pergunta-lhe "queres, ajudar?" Ele abanou a cabeça, esboçando um leve sorriso de agrado. A mulher pousou a faca, passou as mãos pelo avental e arrastou o banco para perto da mesa. Ele subiu, sozinho e um pouco a custo. "Pica aqueles coentros" disse a mãe, enquanto pegava na pequena bilha de barro, com pequenas pedras brancas embutidas configurando desenhos de flores mal talhadas. Despejou na malga um pouco de água. Mesmo muito pouca, pois o que contava era a frescura. Temperou com um fio de azeite e quatro colheres de vinagre, juntou-lhe óregãos e bocados de pão migados à mão. A criança estendeu-lhe a pequena tábua com os coentros, para que os juntasse. Sentaram-se e a mãe serviu, depois de acrescentar uma pitada de sal. Comeram silenciosamente a vinagrada.
____________

Mantenho o gosto de cozinhar e, lembrando-me desses tempos, peço sempre a quem me olhe, que me ajude e ... pique os coentros.

Se todos os dias são dias de qualquer coisa, façamos qualquer coisa todos os dias...


Pai? Claro! Três vezes... e de cada vez, era assim...
(nervoso, mais por ela do que por mim)


E claro que fui, tudo isso que ela(s) diz(em) que eu fui...

18 março, 2014

Medeiros Ferreira, in memoriam (1942-2014)

"...nestes tempos confusos e perturbantes em que na opinião publicada há tanta patetice, ligeireza e superficialidade, a enorme cultura política, a inteligência viva e estimulante e a solidez intelectual de José Medeiros Ferreira vão fazer muita falta..."
Vitor Dias, in O Tempo das Cerejas 2
"...A sua análise nunca se confundia com a demagogia ou a propaganda. Basta ler as suas posições sobre Portugal e o estado a que isto chegou, sobre os epígonos do governo, ou sobre a Europa para percebermos a contingência negativa dos poderes, a debilidade dos líderes que se armam em senhores do mundo ou da comarca portuguesa..." 
Fernando Paulouro Neves, in Notícias do Bloqueio
"Portugal não podia ter bons resultados pela maneira inerte e passiva como entrou, sem um plano e uma estratégia próprias, sem qualquer pensamento crítico".
Medeiros Ferreira, citado pelo Expresso

Angela Merkel desvalorizou hoje as divisões entre o Governo e o PS. Eu também!


Seguro entrou seguro da "divergência insanável". Durante cerca de três horas foi (certamente) divergindo insanavelmente, e saiu seguro como entrou repisando a tal "divergência insanável". A Merkel relembrou que o PS também assinou. "Tá no papo", pensou ela. "Tá no papo", penso eu também.

Nunca julguei poder comungar com a Angela a mesma opinião. Só que ela... gosta. Eu não!

16 março, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 56 (classe média)

(ler conversa anterior)
«Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos...»

Na esplanada, a algazarra fazia-se em tom moderado. Uma voz se destacava, de quando em quando, lá da mesa das professoras, onde a conversa era acalorada. Discutiam-se comportamentos e definições do que era, seria, a classe média. 
- "Falam do seu poema", disse o engenheiro acariciando, distraidamente, o cão rafeiro. "Olhe, acho que estão a confrontar os comentários de ontem com os que tinham deixado o ano passado..." Concentrei-me, e apercebi-me que assim era. De repente, perguntou-me, mudando de assunto:
- "Correu bem? Foi aplaudido o seu discurso?"
- "Como sabe que fiz uma intervenção?"
- "Ao certo, ao certo, não sabia. Mas sabendo a responsabilidade que tem... correu bem?"
- "Fiz má gestão do tempo, não cheguei à parte fundamental, onde citava Álvaro Cunhal..." 
- "Citava o Álvaro? E qual a citação?
- "Se fôssemos dizer: não devemos entender-nos com ninguém que nos ataque, então não nos entendemos com ninguém. Todos nos têm atacado. Portanto é necessário ver que, embora todos nos ataquem, há homens que não são comunistas, que têm preconceitos anticomunistas, mas que podem vir a ter uma posição de cooperação connosco...", dito na Marinha Grande, em 1976
- "Exactamente o contrário do que dizia Kopler!"
- "Não exactamente! Mas haverá sempre alguém preferirá matar-me, a escutar-me..."
- "Alguém como a personagem do seu poema?"
- "Como a personagem do meu poema!"

15 março, 2014

Reestruturação da dívida. Não vale a pena escrever, se o que pudesse ter escrito já está dito!

Reestruturação da dívida: 70 descobrem, agora, a pólvora. Não faz mal, tarde vem o que nunca chega...

«...podendo deixar de sublinhar que o País poderia ter sido poupado a três anos de profundo desastre, o Manifesto agora divulgado – ainda que pecando por tardio e tendo como subscritores alguns dos responsáveis pela espiral de consequências decorrentes do Pacto de Agressão – é uma confirmação mais da indispensável renegociação da dívida e a ruptura com o actual rumo político e da urgência de interromper a acção do governo.

Com diferenças em vários aspectos com a proposta do PCP – por exemplo, a não consideração de um corte substancial do volume da Dívida, mesmo se falam lateralmente de «perdão» de parte da dívida, a restrição da reestruturação à dívida ao sector oficial salvaguardando a dívida ao sector privado institucional, ou uma expectativa não fundada numa mutualização significativa da dívida pela União Europeia, a partir de uma iniciativa eleitoralista da Comissão Europeia (um Relatório sobre a criação de um fundo europeu de amortização da dívida antes das eleições para o Parlamento Europeu, a 25 de Maio!), o que os subscritores do manifesto agora vêm reconhecer é a necessidade da renegociação.
Uma renegociação que, para o PCP, deve ser assumida por iniciativa do Estado português, na plenitude do direito soberano da salvaguarda dos interesses do País e do povo, assente num serviço da dívida compatível com o crescimento económico e a promoção do emprego, tendo como objectivo a sustentabilidade da dívida no médio e longo prazos.

Há muito que o PCP proclama que a Renegociação deve ser acompanhada por uma ruptura com as orientações da política de direita, de que aliás alguns dos subscritores foram executantes, e a concretização de uma política de crescimento e emprego, de desenvolvimento económico e social do País. Também há muito que o PCP, na sua intervenção política sobre o assunto, propõe, como fizeram agora os signatários, como exemplo e grelha possíveis de uma renegociação da Dívida, a reestruturação da Dívida da Alemanha no pós-guerra!»

14 março, 2014

Poesia (uma por dia) - 61

(Reedição)


CLASSE MÉDIA
Temendo a greve, o marido
já tinha saído
Ela, deixou a agua a correr, na temperatura requerida
Preparou o que vestir, a langerie, a blusa garrida
e aquela saia rodada
A banheira transbordava
Escoou-a um pouco para que lhe coubesse o corpo
Estendeu-se, languidamente,
deixando que o quente, lhe amainasse a pressa
Não esqueceu os sais com odores de flores
E assim ficou, longos minutos
até despertar para o tempo
em gestos resolutos
Massajou o cabelo, com desvelo
depois de lhe deitar o champô com odor a maçã
Passou pela pele o creme de amêndoas
e no rosto o costumado anti rugas, levemente aromatizado
Vestiu-se., fez o penteado
e treinou a silhueta, olhando-se de perfil, detrás e de frente
Esboçou um riso, contente
Na cozinha, preparou um chá de jasmim
Hesitou, entre este, e a prateleira de cima do frigorífico
onde, alinhados, estavam os iogurtes, ricos em bifidus
muito coloridos
e não açucarados
Optou por o de  morango aos pedaços
Trincou uma tosta com doce de frutos silvestres
e meteu na mala a caixa de chicletes
Antes de sair, fechou a janela
não fossem os pólens entrarem por ela
Apressou-se, ia chegar atrasada
à esplanada
Chegou, gabaram-lhe  o ar e o trajar
os cheiros, o penteado e o sorriso
E entrou na conversa sobre os horrores da moda, o preço das extensões, dissertando pelos inconvenientes de se ter um filho, no ponto preciso
surge-lhe uma chamada
Era o marido anunciando que fora despedido
Num gesto impensado desligou
Perguntaram-lhe quem era
Respondeu - alguém que se enganou...
Tranquila,
pediu um gelado com sabor a baunilha
Rogério Pereira

13 março, 2014

A Igreja, um aniversário e um funeral... registo, para memória futura

O ANIVERSÁRIO

"Este Papa, o seu discurso e a sua conduta parecem desejar outro modo de ser Igreja, recuperando a expressão "revolucionário" para o trânsito das ideias comuns, como necessidade e como urgência. E di-lo e fá--lo com a simplicidade de quem ainda acredita na força de um humanismo redentor. Devo dizer aos meus Dilectos que este Francisco redespertou-me ressonâncias antigas, como as da reflexão colectiva e da releitura daqueles, como Bertrand Russell (Por Que não Sou Cristão), cujo ateísmo ou agnosticismo não dificultou a pesquisa do sagrado para o reencontro com a própria condição..."
Escrito, citando Baptista Bastos, em Julho 2013
O FUNERAL

"Mas dói ver a Igreja (que rejeita estar limitada à sacristia) remetida à missão de ir colando os cacos da alma que este regime vai destroçando."
Um texto meu, de Fevereiro de 2013

12 março, 2014

A reestruturação da dívida foi no pós-guerra, com a Alemanha derrotada e a tentar emergir do nada...


Há coisas que não se percebem, a menos que se perceba aquilo que não dá para entender. A foto acima, refere-se ao Acordo de Londres, assinado em Março de 1953, ao qual se seguiria o perdão da dívida. 
Naquela época, cerca de 70 países cobravam dinheiro da Alemanha – dívidas contraídas em parte antes e em parte depois da guerra. No total, o país devia 30 biliões de marcos, e economizar e pagar aos poucos não era uma alternativa viável. Pelo contrário: a economia alemã precisava de investimentos, a fim de que a reconstrução e o crescimento pudessem ser financiados.

11 março, 2014

Reestruturação da dívida: 70 descobrem, agora, a pólvora. Não faz mal, tarde vem o que nunca chega...

Sob um titulo inspirado "Que luz vem do farol? Que nos dizem os faroleiros?" escrevi dois textos (aqui e aqui) ainda a barca levava um rumo que, a olho nu, não deixava adivinhar que encalhasse ou viesse a naufragar. Setenta personalidades percebem agora que a barca precisa de manobra, dizendo o mesmo que há muito já dizia um faroleiro:
«...Face à situação insustentável que está criada e aos seus possíveis desenvolvimentos nos próximos tempos, o PCP considera que o Estado português deverá assumir, em ruptura com a actual política, as seguintes posições:
A renegociação imediata da actual dívida pública portuguesa – com a reavaliação dos prazos, das taxas de juro e dos montantes a pagar – no sentido de aliviar o Estado do peso e do esforço do actual serviço da dívida, canalizando recursos para a promoção do investimento produtivo, a criação de emprego e outras necessidades do país.
A intervenção junto de outros países que enfrentam problemas similares da dívida pública – Grécia, Irlanda, Espanha, Itália, Bélgica, etc – visando uma acção convergente para barrar a actual espiral especulativa, a par da revisão dos estatutos e objectivos do BCE e da adopção de medidas que visem o crescimento económico, a criação de emprego e a melhoria dos salários.
A adopção de uma política virada para o crescimento económico onde a defesa e promoção da produção nacional assuma um papel central – produzir cada vez mais para dever cada vez menos. Com medidas imediatas que visem o reforço do investimento público, a aposta na produção de bens transaccionáveis e por um quadro excepcional de controlo da entrada de mercadorias em Portugal, visando a substituição de importações.»
 Desse mesmo ano, trago um outro texto, este que, pela actualidade, agora reedito:

A ética, inspiradora do acordo, 
 numa sociedade muito próxima do inferno 

Chama-se a atenção para os valores da ética. Quem deve paga. Paga o que deve, quem deve. Mas quem deve? Não é conhecido o motor gerador de tanta dívida, nem os seus operadores. Alguns dizem, com veemência, que terá sido quem viveu acima das suas possibilidades e que todos somos culpados. Outros, que terão antes sido os que fomentaram e promoveram a cultura do consumismo, lucrando com os negócios. Estes terão grande parte das culpas dentro da culpa geral. Os negócios, esses, foram dentro da ética e em conformidade com os seus valores. O problema terão sido os excessos. Quem assim não pensar sai fora do paradigma do entendimento normal, passa a ser um anormal e, como tal, deverá ser ou marginalizado ou omitido, porque tudo o que dirá (por repetitivo) deixa de fazer sentido. Chegamos assim, perto da bancarrota e, mais uma vêz com toda a límpida ética, foi "negociado" o resgate da dívida. Foi um bom acordo, dizem uns. Foi o acordo possível, dizem outros. Atendendo à crise, foi uma inevitabilidade, dizem em coro uns e outros. Quem assim não pensar sai fora do paradigma do entendimento normal da inevitabilidade inevitável. Reestruturar a dívida? Sabem o que isso significa? Significa a catástrofe e, pior, significa deixar de ser reconhecido nas relações internacionais como país com ética. Seriamos um país caloteiro. Quem pensar o contrário nem merece ser falado quanto mais escutado.

DOCUMENTAÇÃO USADA PARA ESTE POST (se confia no texto, nem precisa consulta)
"...a entrevista de João Cravinho ao Público de hoje: «a grande corrupção considera-se impune e age em conformidade e atinge áreas de funcionamento do Estado, que afectam a ética pública». A reconfiguração neoliberal do Estado, com a entrada de privados em novos sectores em que, dada a natureza das actividades, é necessário desenhar complexos contratos, é uma das fontes do problema. A fraqueza e falta de autonomia do Estado do bloco central face aos grandes grupos privados com cada vez mais poder e o défice de escrutínio democrático destas relações cada vez mais promíscuas colocam-nos assim numa situação difícil. Juntem a isto a hegemonia de um discurso que subestima e despreza a ética do serviço público e os profissionais e as práticas que a podem sustentar. Ficamos sem recursos intelectuais para traçar as linhas entre o que se pode comprar e vender e o que não se pode nem deve comprar e vender. Finalmente, temos evidência empírica e argumentos plausíveis mais do que suficientes para associar a corrupção ao problema das gritantes desigualdades no nosso país. (postado por Ladrões de Bicicletas, em 27 de Julho de 2008)
O PEC é a factura que vamos pagar por anos e anos de saque organizado e contínuo dos recursos públicos, por uma vasta quadrilha pluripartidária que vive de comissões, subornos e tráfico de influências. As derrapagens, sempre as derrapagens… (um dos últimos artigos de Saldanha Sanches, publicados no Expresso)
O que é uma reestruturação da dívida soberana? - "O capitalismo tem, na sua génese, a tomada de risco e em consequência a possibilidade de insucesso. No caso de iniciativas empresariais esse insucesso pode-se traduzir em processos de saneamento ou falência, que geralmente resultam na reestruturação de dívida dos credores da empresa. Ou seja, o processo de reestruturação de dívida é intrínseco a economias de mercado. Além desse exemplo note-se que, em economias de mercado, os bancos regularmente reestruturam os créditos que detêm sobre empresas e famílias em dificuldade. De facto, os bancos (e outras empresas) incluem na sua demonstração de resultados uma previsão das imparidades, que não é mais do que uma previsão dos hair-cuts que irão sofrer quando reestruturam a dívida dos seus clientes. É parte do dia-a-dia do negócio bancário." - economista Ricardo Cabral , Semanário Expresso

10 março, 2014

Austeridade?, é uma casa muito engraçada, não tem portas, não tem nada... nem sequer uma janela por onde sair dela...


Continua a converseta da saída. Uns dizem às segundas, quartas e sextas, que o que é adequado é uma saída limpa. Para depois virem dizer às terças, quintas e sábados, que é mais seguro que a saída seja negociar um programa cautelar. Outros dizem ao inverso, na alternância dos dias. A imprensa edita, e o colunista comenta. No domingo, Costa, inventa ao estilo "quadratura do circulo", sessões de fisioterapia numa metáfora que só ele entende. Mas o gajo é gajo e afirma "Vencemos a primeira parte da crise. Decidimos que queríamos continuar a partilhar uma moeda em comum. Agora temos que fazer para que euro produza efeitos comuns aos Estados". Vencemos? Decidimos? O cínico quer nos fazer crer que fomos nós a escolher...  e a jornalista chama tímido ao que eu penso, escrevo e edito (O PCP fala timidamente num referendo para sair do euro). E até o google está feito com esta gente. Coloque na pesquisa: "Saída à islandesa" e vai ter uma surpresa!

09 março, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 55 (Jornalismo de merda - assim mesmo, sem aspas)

(ler conversa anterior)
... Vários anos volvidos, a RTP enviou para Kiev um seu funcionário para fazer a reportagem dos acontecimentos que agora estão a ter lugar. Não há palavras para descrever com rigor o seu desempenho desde que chegou a Kiev. Ele escamoteia factos essenciais que hoje já todo o mundo conhece, como a identidade política dos atiradores furtivos; ele não presta a menor informação sobre a composição do poder político saído da Praça Maidan, quando hoje já toda a gente conhece o curriculum dos participantes desse governo; ele fala da Ucrânia como se a Ucrânia fosse apenas Kiev ou até mais limitadamente a Praça Maidan, omitindo propositadamente a realidade complexa do país; ele esconde as medidas que o governo saído do golpe já tomou relativamente à parte que não o apoia; ele não dá a menor informação sobre o que pensa e o quer a outra parte da Ucrânia. Em suma, ele foi para a Ucrânia numa pura missão de propaganda tão inútil quanto estúpida, porque com os meios de informação que hoje estão para todo o mundo à disposição de um clik é perfeitamente possível saber o que ele tenta esconder. Mas nem por isso o protesto deverá ser menos vigoroso, quanto mais não seja por ele lá estar à nossa custa na prestação de um serviço público que vergonhosamente deturpa com o seu facciosismo vulgar.
J.M. Correia Pinto, in "Politeia"
 Ainda há jornalismo decente - dedicado, objectivo, honesto - daquele que reporta factos sem usar adjectivos nem tirar conclusões. E depois há o jornalismo de merda - assim mesmo, sem aspas - como o de José Rodrigues dos Santos, o enviado especial da érretêpê à Ucrânia. Não tem nada a ver. 
Fernando Campos, in "O Sítio dos Desenhos"

O sol amigo não compareceu e a manhã estava cinzenta. Todos estavam. As professoras falavam entre si, excepto a Gaby, que falava para o seu iPad como se conversasse com gente. "Não tem nada a ver!" dizia de si para si. Eu e o velho engenheiro trocámos olhares na cumplicidade, pois já tínhamos lido. Mantivemo-nos calados talvez esperando a pergunta óbvia que a Gaby iria lançar. E lançou: "Vocês lembram-se do Carlos Fino?"
Ninguém lhe respondeu, e ela parecia também desligada da resposta pois a tinha no próprio texto, bastava abrir o link que a levava ao "Politeia"...

08 março, 2014

Ainda a data!

O Dia Internacional da Mulher, celebrado com um texto de Sophia (como há muito não lia)


Mónica é uma pessoa tão extraordinária que consegue simultaneamente: ser boa mãe de família, ser chiquíssima, ser dirigente da «Liga Internacional das Mulheres Inúteis», ajudar o marido nos negócios, fazer ginástica todas as manhãs, ser pontual, ter imensos amigos, dar muitos jantares, ir a muitos jantares, não fumar, não envelhecer, gostar de toda a gente, gostar dela, dizer bem de toda a gente, toda a gente dizer bem dela, coleccionar colheres do séc. XVII, jogar golfe, deitar-se tarde, levantar-se cedo, comer iogurte, fazer ioga, gostar de pintura abstracta, ser sócia de todas as sociedades musicais, estar sempre divertida, ser um belo exemplo de virtudes, ter muito sucesso e ser muito séria.

Tenho conhecido na vida muitas pessoas parecidas com a Mónica. Mas são só a sua caricatura. Esquecem-se sempre ou do ioga ou da pintura abstracta. Por trás de tudo isto há um trabalho severo e sem tréguas e uma disciplina rigorosa e constante. Pode-se dizer que Mónica trabalha de sol a sol.

De facto, para conquistar todo o sucesso e todos os gloriosos bens que possui, Mónica teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.

A poesia é oferecida a cada pessoa só uma vez e o efeito da negação é irreversível. O amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o encontra mais. Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo cada dia, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir a negação todos os dias.
Isto obriga Mónica a observar uma disciplina severa. Como se diz no circo, «qualquer distracção pode causar a morte do artista». Mónica nunca tem uma distracção. Todos os seus vestidos são bem escolhidos e todos os seus amigos são úteis. Como um instrumento de precisão, ela mede o grau de utilidade de todas as situações e de todas as pessoas. E como um cavalo bem ensinado, ela salta sem tocar os obstáculos e limpa todos os percursos. Por isso tudo lhe corre bem, até os desgostos.


(ler tudo)
 
Sophia de Mello Breyner Andresen 
"Retrato de Mónica" in Contos Exemplares

06 março, 2014

93º Aniversário do PCP - Bandeira Comunista erguida aqui, pelos versos do Ary

A bandeira comunista

Foi como se não bastasse
tudo quanto nos fizeram
como se não lhes chegasse
todo o sangue que beberam
como se o ódio fartasse
apenas os que sofreram
como se a luta de classe
não fosse dos que a moveram.
Foi como se as mãos partidas
ou as unhas arrancadas
fossem outras tantas vidas
outra vez incendiadas.

À voz de anticomunista
o patrão surgiu de novo
e com a miséria à vista
tentou dividir o povo.
E falou à multidão
tal como estava previsto
usando sem ter razão
a falsa ideia de Cristo.

Pois quando o povo é cristão
também luta a nosso lado
nós repartimos o pão
não temos o pão guardado.
Por isso quando os burgueses
nos quiserem destruir
encontram os portugueses
que souberam resistir.

E a cada novo assalto
cada escalada fascista
subirá sempre mais alto
a bandeira comunista.
 Ary dos Santos

"As revoluções começam sempre nas ruas sem saída."


"Quem tem piedade de nós? Somos uns abandonados? Uns entregues ao desespero? Não, tem que haver um consolo possível. Juro: tem que haver."
Clarice Lispector
"Sendo assim, as revoluções não concernem a pequenas questões, mas nascem de pequenas questões e põem em jogo grandes questões."  
Aristóteles 
"O que chamamos democracia começa a assemelhar-se tristemente ao pano solene que cobre a urna onde já está apodrecendo o cadáver. Reinventemos, pois, a democracia antes que seja demasiado tarde."
José Saramago

Diz o Miró a Darwin, o que Darwin diz a Miró: Esta gente até mete dó!


Miró anda em bolandas de cá para lá e de lá para cá. Miró custou uma pipa de massa ao pagode e continua encaixotado, à espera de ser leiloado. Darwin veio, mas, depois da Gulbenkian o ter mostrado, hoje é malparado. Falemos de Darwin, pois o caso Miró é bem conhecido. E é assim:

Carnaval? Hoje foi assim... como todos os dias (sei que não viram o que podiam ter visto)



Palhaços, pois
E que pensam vocês que sois?
 

05 março, 2014

Desmanipulando - III


A imagem da esquerda ostenta um dramático apelo, um SOS com um pedido aflitivo à prece: "Pray for Venezuela", lê-se. Bem mandado, estava eu a meio da reza, e Deus puxa-me pelo braço. "É pá, pára! Metem-me nestas coisas, mas Eu nada tenho a ver com elas".... e colocou-me na mão a imagem da direita, dizendo-me: "É pá, isto lá na Síria, deixou de ser notícia, mas está a ser usado..." Dito isto Deus foi-se embora e... não sei se volta.
Acho que o Mundo está entregue ao Diabo!

Mas... (já agora) é boa hora! É hora de actualizar coisas ditas. Dizia eu que, na Venezuela, o grande cismo do "chavismo" com o passado, foi o envolvimento da população em actos de cidadania, e falava que as eleições passaram de uma participação de 60%, em 1993,  para 80,9% na última eleição de Chaves, em 2012. Chaves faleceu, mas Maduro não fez decrescer muito a intervenção, venceu com uma taxa de participação de 78,71%. A guerra aberta e a encoberta (re)começou nas eleições municipais, com a taxa de participação a descer ao nível da participação "tuga": 59% (apesar do  PSUV e seus aliados ganharem 196 prefeituras, enquanto a coligação da direita se ter ficado pelos 53).

Moral conclusiva? Tire-a, depois do escrito e de ver o vídeo:

04 março, 2014

Carnaval? Hoje foi assim... como todos os dias



Palhaços!*

Hoje foi mais uma vez assim
Foliando, iludindo o destino conhecido
Aparentando máscaras

Assumidos e não desenganados
--
Estamos como estamos, não o sendo
Se bem que parecendo
Não, não foi opção
Fomos empurrados, sem audição
Para tal condição
--
Palhaços, pois
E que pensam vocês que sois?

Rogério Pereira
* reedição de 2011, revista

Ucrânia, procuremos centrarmo-nos na omissa realidade para perceber o que se passa e não sermos apenhados desprevenidos com uma (eventual) desgraça

Se quiser, pode ficar-se pelas imagens... mas, para conhecer, tem mesmo que ler (imagens "roubadas" a um Viriato)

Em tempos idos, ainda sob a égide da censura que nos impunha a ditadura, dizia-me um amigo "lá em casa só entram o Diário da Manhã e o Novidades, leio o sentido contrário do que está escrito e fico com o retrato exacto de qualquer facto". Hoje, quase temos de fazer o mesmo, mas na realidade não precisamos, basta navegar um pouco...:
«Eu, no ano passado, disse aos emissários europeus que sem um referendo sobre a integração na UE, a Ucrânia estava à beira da cisão»
Piotr Simonenko, Primeiro Secretário do Comité Central do Partido Comunista da Ucrânia, in ANÓNIMO SÉCULO XXI
«Apesar de fazer parte da luta ideológica, não há nada mais revoltante do que a deturpação dos factos. Uma coisa são as declarações de ciência, outra os juízos de valor. Cada um faz os juízos de valor que entender, pelo menos, enquanto não for proibido, mas os factos são factos e não adianta deturpá-los porque eles continuam lá tal como aconteceram quando ocorreram.»

«Aliás, como a opinião pública é completamente dominada pelos media e estes estão a soldo da ideologia expansionista do Ocidente, uma ideologia hipocritamente assente na democracia, direitos humanos, estado de direito, etc, hoje já ninguém recorda os compromissos assumidos perante a URSS de Gorbatchov pela América e pelas potências ocidentais depois da extinção do Pacto de Varsóvia e da retirada das tropas soviéticas da Alemanha: a garantia de que os ex-países do Pacto de Varsóvia não integrariam a NATO. »
 
«Dirão alguns, agrilhoados numa visão fechada do "nós" contra o "outro" (o "mau"): a Rússia é imperialista, a Rússia é perigosa. A esses, respondo com um exercício.
Imaginem que os Estados Unidos tinham ficado sem uma parcela do seu território, entregue a um país vizinho e onde ficaram milhões de americanos. Imaginem que nesse território os EUA tinham conservado uma base naval fundamental para os seus interesses estratégicos. E imaginem, finalmente, que os EUA, com algum fundamento, sentiam que os "seus" norte-americanos e a base naquele tal território estavam em risco. Ficavam quietos? Brincamos, é?»

03 março, 2014

Lutando contra a rejeição liminar da discussão que tarda, exactamente desde 1997

imagem extraída de um folheto de 1997, leitura obrigatória

Os comentadores encartados fogem dos cenários, simples hipóteses que sejam, que possam servir para aprofundar questões técnicas e políticas sobre as consequências de permanecer ou sair. Na altura própria (1997) fizeram o mesmo e voltaram as costas ao referendo. Hoje continuam, uns porque ficaram expostos ao reconhecimento do erro e à assumpção da responsabilidade de ter empurrado o país para este rumo desgraçado. Outros, porque não são mais que zelosos representantes dos credores e dos que vão engordando com o cerco das inevitabilidades. Acabarão por entender-se? Sim, como sempre... o objectivo de uns e outros é prolongar o baile de máscaras de agressivos discursos desentendidos, mas que no fundo preservam o mesmo!  Ambos usarão a rejeição liminar da discussão necessária e concentrarão a discussão em aspectos marginais. Dirão de outras propostas que são irrealistas, radicais, irresponsáveis e não sei que mais. Tiremos-lhes as máscaras: É que só há dois caminhos: "Ou se desvaloriza a moeda ou se desvalorizam salários. Não há milagres!"

02 março, 2014

Loucos



Memórias da História mostram como a queda pode ser grande
Nascidos nas asas do tempo
Quando todos estão dormindo, 
os barcos partem para o mar
Parecia que as respostas eram fáceis de encontrar
"Demasiado tarde" os profetas choram
As ilhas estão afundando, teremos por destino o céu
(...)
Roger Hodgson - Supertramp