01 maio, 2015

Este 1º de Maio e uma mais que justificada dedicatória


Para vós o meu canto...

Para vós o meu canto, companheiros da vida!
Vós, que tendes os olhos profundos e abertos,
vós, para quem não existe batalha perdida,
nem desmedida amargura,
nem aridez nos desertos;
vós, que modificais um leito dum rio;
- nos dias difíceis sem literatura,
penso em vós: e confio;
penso em mim e confio;
- para vós os meus versos, companheiros da vida!
Se canto os búzios, que falam dos clamores,
das pragas imensas lançadas ao mar
e da fome dos pescadores,
- penso em vós, companheiros,
que trazeis outros búzios para cantar...
Acuso as falas e os gestos inúteis;
aponto as ruas tristes da cidade
a crivo de bocejos as meninas fúteis...
Mas penso em vós e creio em vós, irmãos,
que trazeis ruas com outra claridade
e outro calor no apertar das mãos.
E vou convosco. - Definido e preciso,
erguido ao alto como um grito de guerra,
à espera do Dia de Juízo...
Que o Dia do Juízo
não é no céu... é na Terra!

Sidónio Muralha

4 comentários:

  1. Olha, jovens aos montes!... Bom de ver e de ouvir. Ainda os há, como outrora, capazes de desencalhar o barco.

    Bj.

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  2. Muito bonito! Gosto de ler Sidónio Muralha.

    Viva o 1º de Maio livre! (que já não é...)

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  3. Bom dia
    Olha os jovens que caminham
    Acordaram e vão marchando.
    Os seus passos são a esperança
    De virar este tempo de mudança.
    Já viram na contra-dança
    As coisas que lhes roubaram
    Tantas promessas lhes fizeram
    Para depois os mandarem emigrar.
    É tempo de parar tão triste desgovernar.

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