29 janeiro, 2016

«Vamos brincar aos colantes?»

"Vô, queres brincar comigo?" A interrogação era muito menos uma pergunta e muito mais um pedido. Percebi-lhe no rosto que ficaria triste se não aceitasse. "Vamos lá!" disse, indo, ainda sem saber para onde. O rosto fechado abriu-se e o olhar rebrilhou. "Vamos brincar aos colantes!, vem comigo..." e eu fui.
Percorreu o corredor e entrou no quarto do fundo. Abriu o armário da estante e tirou uma pilha de livros. Escolheu o lugar onde os podia espalhar e escolheu um. Bem colorido, de figuras diversas, dispersas, e auto-colantes. "Então é assim: tu fazes-me uma pergunta ou mandas que eu faça uma coisa, se eu conseguir responder ou conseguir fazer, ganho um colante. Mas sou eu a escolher o colante que eu quiser!". Aceitei aquelas regras, assim como aceitaria, outras que fossem, as que o Diogo quisesse definir. Comecei. Ao fim de duas perguntas acertadamente respondidas e de um exercício bem resolvido, ele exclama "Vô, assim não vale. É tudo tão fácil que eu não sei se mereço escolher o meu prémio!". E lá continuámos, subindo eu a parada na exigência até que o seu peito ficou repleto de galardões. 
Quando aquilo acabou, com o exercício de descer as escadas de dois em dois degraus, sem saltos nem tropeços e até à porta da rua (única maneira de fazer com que se fosse embora), fiquei a pensar se todas as retribuições não deveriam ser assim: perante as coisas difíceis desta vida, sermos nós a premiar o nosso próprio mérito com colantes colocados no peito e com o respeito de quem estiver por perto...

15 comentários:

  1. Mostra que já tem princípios. Coisa que muitos homens não têm.
    Abraço e bom fim de semana

    ResponderEliminar
  2. Organização e método são características que nele já se notam.
    Os netos dão-nos muitas alegrias.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Organização e método
      que ele concilia
      com a anarquia

      É endiabrado
      "como ó diabo"

      Eliminar
  3. E o avô fez muito bem em ir brincar com o neto, que esses momentos a dois são únicos. Ainda hoje alguém me dizia: "do que lembro melhor dos tempos de criança são as brincadeiras"... :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As brincadeiras entre avós e netos são coisa muito sérias...
      por isso ficam nas memórias
      nas deles e nas nossas

      Eliminar
  4. Respostas
    1. Ah, essa verdade

      Diogo não pede, interroga
      Diogo não receia assumir a liderança
      Diogo prescinde da facilidade
      Diogo requer que eu valide cada sucesso
      e só depois Diogo se "amedalha"
      o que reflecte não não procura o auto-elogio

      Sem dúvida que eu tive uma lição de vida

      Eliminar
  5. A auto-avaliação!... Só mesmo uma criança para a fazer tão honestamente.

    já um adulto, manipula. Tem à mão estratégias de auto-promoção e um sistema complexo de julgamento que o levam a "ver-se" à margem das "leis" que reconhece para os outros mas não aplica a si próprio.

    O Diogo quer jogar, mas não um jogo qualquer. Só o que o confronta, o que o motiva e desafia... São assim todas as crianças. Mas, por vezes, os adultos não percebem.

    Beijinho aos dois

    Lídia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A minha grande vantagem (??)é
      que não me sinto adulto

      e sou eu o manipulado
      pelo meu "puto"

      Beijinho, dos doi

      Eliminar
  6. Assim deveria ser! Seria...se todos os adultos tivessem o sentido de dignidade e respeito por si e pelos outros, como o Diogo!
    Um menino de ouro esse seu neto, Rogério!

    Ainda ontem o levava a passear pela mão e já ele que lhe dá orientação!
    Que assim continue. Com lisura e princípios é que se ganham 'colantes'.

    Beijinhos enternecidos, para os meninos...
    Grande e Pequenino. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Hoje
      não amuando
      fiquei um tanto desolado

      o Diogo só procurou a avó

      (eu estava ocupado)

      Eliminar
  7. Um abraço grande para ambos!

    Mª João

    ResponderEliminar
  8. Como comentei da ultima para esta, abri bem os olhos pois estas coisas belas fazem-nos esquecer tudo.
    Que bela lição de vida!

    Beijinhos para ambos


    ResponderEliminar
  9. vemos nos mais novos aquilo que já fomos...

    ResponderEliminar