15 fevereiro, 2021

E NÃO É QUE EU NUNCA FALEI DE VACINAS?!...

A SAÚDE PÚBLICA
À MERCÊ DOS NEGÓCIOS E DA CEGUEIRA GEOPOLÍTICA

Não vou falar do que não sei, passo a palavra ao José Goulão:

A saga das vacinas em Portugal está distorcida. Centra-se na condenável batota para adulteração das listas de prioridades da vacinação que, apesar da sua gravidade, funciona como cortina de fumo para esconder aspectos muito mais inquietantes do processo, o principal dos quais é a submissão do governo e a abdicação da vontade própria perante a inconcebível e corrupta estratégia de selecção, compra e distribuição conduzida pela Comissão Europeia. Uma estratégia que se guia sobretudo pelo lucro e pela secundarização da saúde pública, desvalorizando e silenciando eventuais riscos associados.

«O governo português prefere não ter voz na questão das vacinas da Covid-19. Remetendo-se à velha e nefasta posição de “bom aluno”, sobretudo em tudo quanto diz respeito à imposição ilegítima do federalismo, arrasta os portugueses e o seu combate à pandemia para uma estratégia discricionária e prejudicial, centrada em volumes de negócios, em monopólios abusivos, em fantasmas e fundamentalismos geopolíticos – deixando a saúde pública à mercê de entidades cuja preocupação principal é a distribuição de dividendos aos accionistas e a recompra das suas próprias acções.

Os resultados estão à vista. Falha retumbante e permanente nos prazos de entrega assumidos pelo monopólio dos gigantes da indústria farmacêutica na sequência de contratos parcialmente secretos e que os fabricantes das vacinas nunca tencionaram cumprir, sabendo que terão sempre tolerância para o fazer. Não é por acaso que os principais colossos da fabricação de vacinas conseguem amealhar anualmente quase quatro mil milhões de dólares em fugas aos impostos. Como igualmente não é por acaso que a Comissão Europeia tenha assumido, em nome dos governos dos Estados membros, que os fornecedores de vacinas escolhidos a dedo – fugindo às próprias regras de mercado – estejam isentos de qualquer responsabilidade em eventuais danos de saúde sofridos pelos cidadãos vacinados.

Esta é, de facto, a corrupção que mina profundamente o processo europeu de vacinação contra a Covid-19. A viciação das listas das prioridades é, neste quadro, um dano colateral, mais uma manifestação da corrupção nacional instaurada e enraizada ao longo de anos e anos de gestão do chamado bloco central.

Monopólio

A Comissão Europeia, entidade não eleita que há quase um ano vem fracassando estrondosamente na defesa da saúde dos cidadãos europeus perante a pandemia de Covid-19, assumiu autoritariamente a condução do processo de vacinação em nome dos governos dos 27. 

A falha no combate à pandemia não é surpresa, sabendo-se que as pessoas nunca foram a preocupação da Comissão, como demonstram a generalização da política de austeridade e o descrédito absoluto do mito da “Europa dos cidadãos”.

Por isso, entregar-lhe uma questão de vida ou de morte como é a da vacinação é um erro pelo qual os governos deverão ser responsabilizados. Uma irresponsabilidade que assume proporções de atentado contra a saúde das populações e mina o tremendo e desumano esforço que está a ser desenvolvido pelos profissionais do sector.

Como era de esperar, a Comissão Europeia entregou um processo tão sensível como o da vacinação ao monopólio dos gigantes farmacêuticos, neste caso representados pela alemã e norte-americana Pfizer em aliança com alemã BioNTech; e pela norte-americana Moderna, guiada por Bill Gates & Cia e protegida pela chamada “Aliança das Vacinas” (GAVI), na chefia da qual foi empossado recentemente Durão Barroso – e fica tudo dito. Como terceiro vértice do negócio, a Comissão tolerou a britânica e sueca AstraZeneca.

Os contratos acordados, e que estabelecem o compromisso de fornecimento de centenas de milhões de doses de vacinas, são parcialmente secretos. Informações sobre os seus conteúdos foram remetidas aos membros do Parlamento Europeu em versões censuradas.

O que diz bastante sobre a transparência do processo.

Bruxelas não se dignou explicar aos cidadãos as razões deste monopólio; em seu entender nem tem de fazê-lo. Sabe que as pessoas estão dramaticamente ansiosas pelas vacinas, pelo que não se questionam sobre quem e como as fabrica. E dispensam até a informação que lhes é devida por parte de quem fez as escolhas. Como já há muito vem dizendo o inevitável criminoso de guerra Henry Kissinger, não há como situações de medo e desconhecimento para que as pessoas se coloquem de bom grado sob poderes discricionários e autoritários.

As entidades seleccionadas para constituir o monopólio têm uma particularidade em comum: fabricam as vacinas contra a Covid-19 segundo metodologias que nunca foram experimentadas em seres humanos e, neste caso, nem mesmo testadas em animais.

Em causa estão a tecnologia do ARN mensageiro (mRNA), no caso da Pfizer e de Moderna; e a utilização de adenovírus de chimpanzé, no caso da AstraZeneca. Se isso é absolutamente seguro, na verdade não se sabe bem. As agências reguladoras que respondem perante a Comissão Europeia e os governos postulam que sim, que não há perigo. No entanto, basta consultar a base de dados de ensaios clínicos da Biblioteca Nacional dos Estados Unidos para ficar a saber-se, através do exemplo da Pfizer, que as vacinas da Covid-19 estão a ser ministradas ainda em período de testes. Percebe-se nessa documentação que a fase experimental iniciou-se em 29 de Abril de 2020; a fase das primeiras conclusões terminará somente em 3 de Agosto deste ano de 2021; e a data prevista para conclusão do estudo é apenas 31 de Janeiro de 2023.

“Incidências”

Apesar da situação de emergência que o mundo atravessa – e até por causa disso - um salto no escuro como este exige mais prudência verificada do que tranquilizações apressadas. Exige, sobretudo, informação e esclarecimento, que não são o forte deste processo.

Não é necessário investigar muito fundo através da internet para se perceber que existem casos de sintomas registados após a vacinação merecedores de explicações mais satisfatórias do que “situação normal”, “coincidência” ou “a vacina não pode induzir a Covid-19”.

Em Israel, por exemplo, onde decorre a mais vasta campanha de vacinação realizada até agora, com utilização do produto da Pfizer, 12400 dos 189 mil vacinados testaram depois positivo à Covid-19 (6,2%), 69 dos quais já após as duas doses: 5,3% até ao sétimo dia, 8,3% entre o oitavo e o 14º dia, 7,2% entre o 15º e o 21º dia e 2,6% entre o 22º e o 28º dia.

Por outro lado, no Sistema de Registo dos Efeitos Adversos das vacinas contra a Covid-19 do CDC dos Estados Unidos, VAERS, foram inseridas 9645 incidências até 22 de Janeiro, entre as quais 329 casos mortais, em pessoas que receberam vacinas da Pfizer e da Moderna. Trata-se de uma base de dados aberta e passiva onde são inscritos voluntariamente os casos registados – e que constituem uma pequena parte da realidade. O CDC considera que os números “estão dentro do esperado” e que não permitem deduzir que exista uma relação de causa e efeito entre a vacinação e os efeitos registados. Outras agências de controlo de doenças, designadamente a britânica e a europeia, procedem exactamente da mesma maneira perante a apresentação de situações adversas surgidas depois da vacinação.

Alargar horizontes

Na sua ânsia de conduzir o processo de acordo com os interesses que serve, os dos gigantes da indústria de medicamentos, a Comissão Europeia pôs claramente o carro à frente dos bois e arrastou os governos dos Estados membros numa estratégia infundamentada e sanitariamente arriscada.

Tendo em conta que está em causa o bem mais precioso das pessoas, a sua saúde, a Comissão Europeia e os governos não poderiam nem deveriam encerrar-se num processo estanque entregue a um monopólio pouco fiável em termos de respeito pela condição humana.

Tanto mais que, nos mais puros termos de mercado, existe ampla concorrência em relação à Pfizer, à Moderna e à AstraZeneca. Alguma dela com a vantagem de não ter aproveitado a ocasião para inventar através do recurso a metodologias nunca experimentadas em seres humanos e optar pela imunização à Covid-19 segundo modos mais tradicionais e cientificamente comprovados de produção de vacinas. É o caso, entre outros exemplos, da Coronavac chinesa e da Sputnik V russa. Que estão também elas em fase experimental, porque reduziram o período de duração dos testes e, no caso da russa, saltou também a fase de experiência em animais. Porém, têm a vantagem de resultar de métodos conhecidos e já com décadas de existência e prática, portanto com um histórico de efeitos e incidências menos sujeitos ao risco do desconhecido. A saúde de milhões de pessoas mereceria pelo menos que se pensasse nessas variantes.

Alargando horizontes, a Comissão Europeia proporcionaria uma capacidade de escolha informada aos cidadãos e reforçaria a quantidade, minimizando os riscos de ruptura de abastecimentos.

A Coronavac e a Sputnik V, no entanto, têm a inultrapassável desvantagem de desafiarem o garbo geopolítico ocidental, que pretende convencer as suas opiniões públicas de que sociedades tão “maléficas” não são capazes de produzir medicamentos pelo menos tão bons e eficazes como os dos monopólios farmacêuticos “civilizados”.

Que não seja por isso. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, há quase 200 processos no mundo para produção de vacinas contra a Covid-19. Situação que aconselharia a Comissão Europeia e os Estados membros a estudar mais atentamente esses casos e a pesar de maneira muito mais fundamentada e eficaz a defesa do interesse que deveria estar no topo de tudo: a saúde pública. 

Há, evidentemente, mais por onde escolher do que a Pfizer, a Moderna e a AstraZeneca com o seu penoso cortejo de atrasos, incumprimentos, garantias insuficientemente fundamentadas e ameaças para cidadão ver. A abundância prometida e contratada de centenas de milhões de doses transformou-se numa arrastada entrega de milhares, aos poucos e arrancada a ferros.

Por isso existem governos, certamente não tão “bons alunos” como o de Lisboa, que começaram a traçar caminhos próprios para cuidar da saúde dos seus. O húngaro, do famigerado Orban, comprou vacinas russas e chinesas; o sueco, farto de tanta espera, está a fazer o seu próprio contrato bilateral com a AstraZeneca; a Alemanha – a própria Alemanha, imagine-se – encara a possibilidade de fabricar a Sputnik V moscovita.

A estratégia da Comissão Europeia começa a abrir rombos. O receio é que o governo português se lhe mantenha fiel até ao naufrágio anunciado.»


 

10 comentários:

  1. Tudo muito bem explicadinho, mas eu já sabia que a Sputnik V moscovita e a Coronavac são as que oferecem menos perigos e não estão ligadas ao DAS KAPITAL. Enfim, só veem em frente, alguns senhores, poucos, felizmente.

    Fábio Costa

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  2. Um bom texto. Concordo com tudo. Mas, fico à espera até ver qual a vacina que me toca lá para Abril ou Maio.
    Um abraço

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  3. Um bom texto, sem dúvida muitíssimo pertinente.

    Estou na linha da frente graças à doença coronária, à avançada insuficiência cardíaca, à anti-coagulação e à DPOC; não tarda, a vacina está literalmente a bater-me à porta, e mentiria se dissesse que me não sinto apreensiva e, acima de tudo, muito pouco confiante na eficácia do inovador ARNm.
    Sei muito bem que a tão desejada imunidade de grupo terá de passar pela vacinação. Também sei que a imunidade de grupo conseguida pela exposição natural (sem vacinas, porque as não havia) nos custou entre 50 e 100 milhões de vidas humanas, em 1918, e sempre fui uma acérrima defensora da vacinação... PORÉM, se confio na Ciência, não confio nem um bocadinho nas grandes companhias farmacêuticas. E se não for por mim que temo, já que estou bem consciente de que não tenho grande esperança de vida, é pelos que têm a vida inteira pela frente que aqui me atrevo a juntar-me a quem lança a semente da dúvida, não em relação às vacinas em geral, mas em relação a esta específica vacina.

    PS - Rogério, Continuo sem saber muito bem como vim parar a esta conta e não faço a menor ideia de como voltar a entrar na anterior... abraço!

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    1. "se confio na Ciência, não confio nem um bocadinho nas grandes companhias farmacêuticas", e já somos dois!

      Pouco interessa o modo em como chegas, o que vale é que aqui chegaste

      E és sempre bem-vinda
      querida amiga!

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  4. Confio na ciência, mas existem aqueles que duvidam, pois dizem que tudo foi muito rápido. Só que não estamos naquela época das vacinas para o Tétano, Antirrábica, Tuberculose, Varíola, Poliomielite e muitas outras anteriores. A medicina evoluiu muito e o mundo inteiro uniu-se nessa pandemia. E se não houvesse vacinas atuais, se converteria em problema, também. O que morreria de gente seria um absurdo. O mundo andou em todos os aspectos.
    Sou 100% a favor das vacinas. O que acontecerá às pessoas que não farão a vacina, não sei...

    Uma boa semana.

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    1. Olá Tais, bem-vinda!

      Concordamos em quase tudo. Por exemplo na sua afirmação:
      "A medicina evoluiu muito e o mundo inteiro uniu-se nessa pandemia."
      - evoluiu? sim, muito
      - uniu-se? não
      e o longo texto explica, muito bem explicadinho o que terá acontecido...

      Ah! e também sou 100% a favor das vacinas!

      Boa semana, querida amiga!

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    2. Talvez expressei-me mal, uniu-se no 'descobrimento de uma vacina', nos esforços para diminuir essa pandemia! No restante...não!
      Boa semana, com paz e saúde!

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