A Maria João tinha prometido ligar-me hoje. Enquanto esperava que o fizesse ia recordando as suas múltiplas queixas e pensando o quão dolorosa era a sua inibição de se refugiar na escrita e comentar-nos nos nossos espaços . Toca o telemóvel. Atendo-a. Dá-me a tão ansiada notícia. Vai ser operada no próximo sábado ao olho onde a cegueira é total. Quinta-feira, levo-a ao Egas Moniz, para teste ao Covid, exigência prévia a qualquer acto médico. Está confiante (e eu também)!
Falar da sonetista e não deixar um seu poema seria imperdoável. Escolhi este, pelo significado:
Dei-vos a flor das armas que não tinha
- ou tinha e quereria nunca usar... -
E a dupla imensidão desta alma minha
Num corpo que a mal sabe resguardar.
Entreguei-vos a espada, sem bainha,
Na baioneta, pronta a disparar,
E ninguém reparou que ela, sozinha,
Se transformava em flor pr`a vos cantar,
Por isso já não sei se arma, ou se flor,
Mas seja ela aquilo que ela for,
Ninguém pode negar-lhe a dupla vida
E, ao entregá-la com tão grande amor,
Com ela disparei, sem mágoa ou dor,
Um verso em flor por pétala caída...