(Pedro Tadeu, in Diário de Notícias, 13/04/2022) |
Quando o presidente da Ucrânia falar no Parlamento português, como está previsto acontecer daqui a uns dias, não vai pedir apenas um reforço do fornecimento de armas ao seu país, nem unicamente um aumento de sanções à Rússia.
Volodymyr Zelensky vai pedir aos deputados que levem Portugal a apoiar uma intervenção direta da NATO contra a Rússia e que essas tropas da Aliança Atlântica ajudem os ucranianos, no terreno, a combater as tropas russas. Ou seja, vai pedir que Portugal, membro da NATO, entre em guerra com a Rússia.
É isto que ele tem dito em inúmeras intervenções públicas, como aconteceu no Parlamento Europeu, logo no início da guerra, e em outros parlamentos nacionais. E é perfeitamente natural, na aflição de defender o seu país do ataque russo, que entenda que deva confrontar os políticos do ocidente com essa exigência.
Depois de fazer esse apelo, no final do seu discurso, o que irá certamente acontecer é que quase toda a sala de deputados portugueses se irá levantar em ovação, aplaudindo de pé as palavras de Zelensky – é a reação mais natural, dada a carga emocional que a qualidade do seu discurso transmite e a indignação que a situação humanitária na Ucrânia provoca, impulsionando todos nós para manifestações de solidariedade incondicional.
Nesse momento, no momento em que aplaudirem, vibrantes, o discurso de Zelensky, que estarão os deputados portugueses a aplaudir? Estarão a aplaudir, também, a parte do discurso do líder ucraniano que empurra Portugal, via NATO, a entrar em guerra com a Rússia.
Estarão a aplaudir, também, entusiasmados, o apoio à entrada no conflito dos seguintes países, todos membros da NATO: Albânia, Alemanha, Bélgica, Bulgária, Canadá, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estados Unidos, Estónia, França, Grécia, Hungria, Islândia, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Macedónia do Norte, Montenegro, Noruega, Países Baixos, Polónia, Reino Unido, República Checa, Roménia e Turquia.
Com a Ucrânia e a Rússia isso significaria que os deputados portugueses estarão também a aplaudir a possibilidade do conflito escalar, rapidamente, para uma luta entre 32 países o que é, literalmente, uma III Guerra Mundial – e o mais provável é que muitos outros países decidam ir atrás desse movimento, amplificando ainda mais a mortandade. E, de repente, em reação, a Rússia até pode conseguir apoios que agora não tem…
Estarão, ainda, a aplaudir uma escalada no conflito tão elevada que correrá o risco de levar os russos a utilizar armas nucleares – e Portugal passaria a ser um dos possíveis alvos.
Poder-se-á dizer que não é assim, que o aplauso dos deputados portugueses não será interpretado como um apoio a essa parte do discurso de Zelensky, restringindo-se a uma manifestação de simpatia para com a causa ucraniana, ignorando as propostas bélicas do presidente desse povo.
Isso tem outro problema, menos grave, mas pouco digno de um Parlamento democrático: transforma um assunto tão sério como a guerra na Ucrânia, com 4,5 milhões de refugiados e milhares de mortos, num assunto tratado com ligeireza e superficialidade pelos deputados.
Se assim fosse, os nossos parlamentares fariam a triste figura de se mostrarem prontos para aparecerem na fotografia a aplaudir o líder ucraniano, prontos para dizerem palavras bonitas sobre a heroicidade do povo ucraniano, prontos para acusarem Putin dos mais terríveis atos, prontos para tirarem dividendos políticos locais pela utilização da imagem e do discurso do globalizado Zelensky.
Porém, simultaneamente, os deputados portugueses evidenciariam indisponibilidade para assumirem as consequências lógicas e coerentes dessa atitude, transformando toda essa operação mediática numa hipócrita feira de vaidades.
Pode ainda dizer-se que o aplauso dos deputados portugueses ao pedido que Volodymyr Zelensky lhes fará de intervenção direta da NATO nos combates contra os russos não tem valor algum, que uma decisão dessas os ultrapassa, estará sempre nas mãos do Departamento de Estado norte-americano, nas dos governos do Reino Unido, Alemanha e França e que Portugal limitar-se-á a seguir as ordens dos poderosos do ocidente. Bem, nesse caso fico mais descansado, porque acredito que por ali, apesar de tudo, não se pretende a III Guerra Mundial – mas os deputados portugueses cairão, lamentavelmente, no ridículo e o povo ucraniano pouco ou nada ganhará com o espetáculo vazio que, em nome dele, será montado em São Bento.
O governo alemão já começa a ficar irritado com as imposições de Volodymyr Zelensky.
ResponderEliminarEssa é uma boa irritação.
EliminarQue a use para impor a paz
Que a use para influênciar seus parceiros europeus a irritarem-se
O nosso provincianismo não podia deixar de fora a possibilidade de fazer o mesmo que os vizinhos, se possível com uma televisão maior.
ResponderEliminarAntes provincianismo do que a COBARDIA política do governo alemão.
EliminarE neste caso a cobardia do governo alemão é...?
Eliminar… é não dar um pontapé no traseiro do embaixador ucraniano em Berlim, que incomoda com as suas imposições absurdas e a sua falta de educação. Diplomata de meia-tigela.
Eliminar👍
EliminarInteressante seria a Alemanha, cliente inestimável da Rússia, impor uma visita do Papa a Putin e anunciá-la com um duro discurso contra a corrida ao armamento instigado por Joy Biden
EliminarNem pensar desencadear uma guerra nuclear.
ResponderEliminarEstou farta desta guerra de vizinhos.
Claro que lamento a destruição e as mortes mas não posso ir além disso!
Abraço
Também eu lamento a destruição e as mortes, LEO.
EliminarSe eu não fosse uma mulher educada, ia muitíssimo além e dizia o que penso do presidente da UCRÂNIA 🇺🇦 do seu ministro dos negócios estrangeiros e do seu embaixador em Berlim. Uma Terceira Guerra Mundial está já em curso e a maioria ainda não se apercebeu ☠️ disso.
Eu não sou comunista nem amiga de Putin, contudo a paciência com estes três patetas tem limites.
EliminarComo dirigente associativo estou com a minha associação a preparar um evento em favor da Paz. Será no decurso da 1ª quinzena de junho. Espero que até lá algo de bom aconteça ou, que no mínimo, páre a escalada (desejos de um comunista!)
EliminarTudo isto é triste e muito complicado.
ResponderEliminar:(
É mesmo, mesmo muito triste!
EliminarÉ mesmo, mesmo muito complicado!
Beijo de um pacifista
Estou quase segura que a maioria dos nossos compatriotas ainda se não apercebeu minimamente do tremendo risco que o mundo corre ao ver em Zelensky um herói e aclamá-lo como tal.
ResponderEliminarSubscrevo até estas palavras da Teresa; "Uma terceira guerra mundial está já em curso e a maioria não se apercebeu disso"
Há pessoas, diariamente confrontadas com imagens de terror... com a emoção perde-se discernimento... e o pior pode acontecer...
EliminarEstamos em guerra.
ResponderEliminarConsidero a Rússia como agressora, mas também não me agrada o que o Ocidente está fazendo e espero que a NATO não se envolva directamente na guerra!!
Os EUA estão repetindo o mesmo erro cometido no Afeganistão , mas as consequências cairão não no território deles, mas na Europa!!
Que tenhas uma Páscoa de paz e carinho jun to aos teus.
Beijinhos
Visão lúcida e por mim subscrita.
EliminarFeliz Páscoa
Beijinhos