15 maio, 2011

Reconstituindo o post roubado, depois da espera e do impossivel despertar da floresta...

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Em post anterior que levou sumiço, discorria eu sobre o que se passa na cidade e sobre a mentira de ser todo o povo, por igual, o culpado do gasto desenfreado. Do gasto e da dívida. Falava de coisa escondida, da corrupção e do dinheiro (e poder) envolvido e do sacrifício agora exigido. Na reconstrução desse post desaparecido, o mais fácil foi fazer com que o criativo colaborasse. Pelo apelo que lhe fiz, Jeronimus Bosch repintou-me o quadro da cidade onde as árvores não penetram. O humilhado e ofendido, do poder escorraçado pelos seus próprios irmãos, porque vertical era a sua posição contra a corrupção o compadrio e a maldade que grassava (e grassa) na cidade, também veio em meu socorro recuperando o que tinha escrito (1). O morto, que era citado, também não se negou (2). Tudo isto enquanto os vampiros concordam com os abutres apenas discutindo se as vitimas estão, ou não, no ponto exacto de votar. Se o seu próprio sangue está no ponto ou se será melhor a carne apodrecer, sendo assim mais fácil de comer. Com tal prestimosa ajuda, ficou-me apenas a tarefa de dizer, fundamentadamente, que a cidade não perderá a ética por afastar essas e outras aves agoirentas, nem por deixar de pagar as dividas que o povo da cidade não contraiu. Que não é verdade que seja imoral fazer com a dívida outra coisa que não seja torná-la tolerável com a capacidade de gerar proveitos com o esforço voluntário e heróico da cidade (3). Não sei se era importante ou consequente recuperar o escrito. Mas de qualquer modo aqui está o dito. De outra maneira, diferente da primeira...

AS AJUDAS FUNDAMENTAIS:
1 - João Cravinho não esconde a sua desilusão. Autor de um pacote legislativo que deixou no Parlamento antes de ir para Londres para a direcção do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, viu as suas propostas serem rejeitadas pela sua própria bancada, a do PS. - IN JORNAL O PÚBLICO, 27 de Julho de 2008
2 - O PEC é a factura que vamos pagar por anos e anos de saque organizado e contínuo dos recursos públicos, por uma vasta quadrilha pluripartidária que vive de comissões, subornos e tráfico de influências. As derrapagens, sempre as derrapagens… - SALDNHA SANCHES, IN SEMANÁRIO EXPRESSO, 10 de Abril de 2010
3 - É eticamente aceitável (a reestruturação da dívida)? - O capitalismo tem, na sua génese, a tomada de risco e em consequência a possibilidade de insucesso. No caso de iniciativas empresariais esse insucesso pode-se traduzir em processos de saneamento ou falência, que geralmente resultam na reestruturação de dívida dos credores da empresa. Ou seja, o processo de reestruturação de dívida é intrínseco a economias de mercado. Além desse exemplo note-se que, em economias de mercado, os bancos regularmente reestruturam os créditos que detêm sobre empresas e famílias em dificuldade. De facto, os bancos (e outras empresas) incluem na sua demonstração de resultados uma previsão das imparidades, que não é mais do que uma previsão dos hair-cuts que irão sofrer quando reestruturam a dívida dos seus clientes. É parte do dia-a-dia do negócio bancário. - RICARDO CABRAL, IN EXPRESSO, 26 de Abril de 2011

15 comentários:

  1. Caro rogério
    Tentando acompanhá-lo no esforço que fez para recuperar o post (gamado, sabe-se lá por quem)
    Aqui lhe deixo uma citação de Marx que na altura publiquei como comentário.
    Abraço

    “Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos a falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado".
    In kapital

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  2. Sobre as vicissitudes das economias de mercado sofro de uma "cegueira branca" irreparável. Porém os efeitos das políticas que as sustentam têm tido nos países mais débeis, economicamente falando, efeitos desastrosos no quotidiano das pessoas. Isso é, por demais, visível e atinge já proporções assustadoras numa camada significativa da população (no caso de Portugal). Penso que caminhamos no sentido inverso daquele que conduz aos valores mais elevados do humanismo (para nem sequer falar de doutrinas ou ideologias) - igualdade, justiça, ética, verdade... É uma ideia que se poderia aceitar como de senso comum, mas a cegueira de uns será o derrocada de uns e, (para mal dos nossos pecados) de muitos outros...

    Obrigada pelas "entradas" que vai sugerindo. São sempre muito úteis.

    L.B.

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  3. Porque esta crise prosseguirá
    por Wolfgang Münchau [*]

    Seja o que for que os europeus tentem para aliviar a crise, isso não funcionará: nem um resgate abrangente da banca, nem um veículo de uso específico [1] de €440 mil milhões a fim de proporcionar uma couraça protectora e nem um pacote de austeridade após o outro. Os spreads dos títulos e os índices dos credit default swaps continuam a elevar-se e o mercado do dinheiro está novamente a congelar-se.

    Isto nunca aconteceu antes para os políticos europeus, os quais no passado foram capazes de escapar com um bocado menos de esforço. Habitualmente uma declaração era suficiente para aplacar os mercados.

    O que está em andamento?

    Para começar, não há ataque especulativo, ainda que uma tal explicação possa ser conveniente. O que tem acontecido é que os investidores globais perceberam uma verdade subjacente profunda acerca da nossa crise de dívida soberana europeia – que no seu cerne não é de todo uma crise de dívida soberana e sim uma crise bancária altamente interconectada prestes a explodir. Há uma dinâmica em acção que os dados macroeconómicos não transmitem – e que a resposta política à crise não trata.
    http://www.resistir.info/crise/munchau_17jun10.html

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  4. Rogério
    Deixando um beijo de bom domingo.
    Estes ainda não pagam imposto( até ver...)

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  5. Convém ler também esta mensagem. Os gregos já nos podem ensinar qualquer coisa e para isso fizeram um filme. Para não falar nos islandeses, claro.

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  6. Alternativas à crise na UE:
    Direitos, produção, solidariedade e soberania
    Adivinhe quem é...

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  7. há quem sustente que nesta tragédia da divida dos países periféricos acabará por prevalecer a "sensibilidade e o bom senso"...

    face ao beco sem saida, acredita-se facilmente no que se deseja...

    abraços

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  8. Rogério...passando pra te deixar meus desejos de uma boa semana e dias melhores!

    desculpe minha ausência nos comentários, mas como a situação política de Portugal é pouco falada por aqui, não estou por dentro do assunto, sigo apenas através de blogs de amigos portugueses como o seu...então pra não falar bobagem, prefiro não comentar...rs
    mas o leio sempre...a cada post, e gosto e admiro muito a maneira como vc aborda o assunto, que fica leve, faz refletir e adoça o amargo dos dias com uma pitada doce de da tua poesia...

    Grande beijo!

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  9. Reconstituido e bem. A cidade sitiada precisa des postes como este.

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  10. Concordo com muito do que aqui escreve,Rogério, Nomeadamente quanto ao peso da corrupçã na crise. Permita-me que lhe recorde,entretanto uma coisa:
    Como já afirmei há tempos, num post intitulado Monopoly Games, o pior ainda está para vir. Quando a dívida americana se tornar incobrável, o mundo vai mudar definitivamente. Continuo a dizer que este é o século chinês. E com a chegada de um asático à presidência do FMI, as regras vão mudar drasticamente.

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  11. Olá Rogério

    Não vi o post desaparecido, mas este está óptimo!

    Quanto à esperança que o Povo acorde para os verdadeiros males da sociedade e do país, confesso que tenho muito, muito pouca... talvez acorde daqui a uns anos, quando isto estiver ainda bem pior do que agora. Desengane-se, pois, quem julga que chegámos ao fundo do poço... mas havemos de lá chegar, pois estamos bem lançados, e então o Povo acordará!

    Quanto ao desaparecimento dos posts, que no meu caso foram recuperados pelo blogger, digo-lhe que começo a acreditar na teoria conspiratória de que andam aviões a espalhar químicos que estupidificam as pessoas: não é que não me lembrei de que cada vez que publico um post recebo uma mensagem com o mesmo? E que embora os apague ficam 1 mês no "caixote do lixo"?

    Por acaso não foi preciso, mas aconselho a que faça o mesmo nas "Definições" do seu blogue, em "E-mail e Mobile", em "Endereço BlogSend"

    Abraço e boa semana

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  12. Sinto-me gratificado pelo esforço na reconstrução do meu post. Como podia não estar, se percebo que contribuo para a reflexão em tão preocupantes temas.

    Obrigado também pelos contributos e pela simpatia. São gestos que registo com emoção...

    É tão bom "sabermos" que não estamos sós. Não que tal seja novidade, mas sentir isso neste momento é muito importante.

    Bem hajam

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  13. Lamento que lhe tenham "fanado" um post, Rogério!

    Quanto à substância do texto, diria que ou paradigma de governação muda (não só em Portugal, mas no mundo desenvolvido)ou viveremos todos num "grande sarilho", gostaria de pensar que os homens aprendem com os erros, mas ...tenho alguma dificuldade em raciocinar de tal maneira!

    Abraço e boa semana

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  14. Porque está fora de quaisquer previsões a minha inscrição nas testemunhas de jeová
    acredito nos criativos
    que me fazem sonhar
    num mundo melhor
    nos que de uma pedra
    fazem um ramo de cravos
    e de um cravo uma pedra
    com vida por dentro

    Aceite mais um abraço amigo

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  15. Ainda bem que o texto foi reposto...depois de ter sido gamado!! Até aqui!!!A imagem da cidade está condizente com a situação! Não quero ser pessimista mas acho que os abutres não deixarão a "caça" farta e apetecível para todas as mandíbulas. Há Vícios criados que, dificilmente, passarão a virtudes...Penso que nem Santo António (o santo mais português faria um milagre) o que me leva a crer que estamos mesmo num beco sem saída!!
    Beijo e uma boa semana.
    Graça

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