21 outubro, 2014

Orlando Leitão (1931-2014) - in Memoriam

Foto editada na revista Sinapse
Há amigos que partem, sem nunca nos deixar. É uma questão de memória, daquela que queremos perpetuar, que não deixa que se apague nada. O Orlando era, além de amigo, um camarada. O Orlando era, além de amigo e camarada, um vizinho. Mesmo não o vendo, sentia-o perto. Sinto-o agora, mesmo sabendo que partiu. (ah, essa sensação inexplicável de que mesmo sabendo que partem, eles nos ficam para sempre na memória dos exemplos dados e das palavras sábias com que nos falavam da vida e da esperança).
De manhã, ao abraçar o Paulo (um dos filhos) dizia-me ele: "Morreu, pode-se dizer feliz: no meio da família, festejando o seu aniversário". Acho que tinha razão o Paulo, ele partiu feliz.

Quando me preparava para escrever este texto, procurei na net, algo que acrescentasse ao que sabia dele. Encontrei. Encontrei e comovi-me. Na revista da Associação Portuguesa de Neurologia (SINAPSE), a homenagem que lhe foi prestada, no congresso de 2003. Dos muitos testemunhos, aí referidos, escolho um (quase) ao acaso:
«Ao Orlando Leitão

Começo por citar Alberto Caeiro
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensar.
Não será esta a base de toda a semiologia que o Orlando
tão sàbiamente sempre defendeu? Seguramente foi esta a
pedra basilar do seu sucesso.
Como homem há a realçar a sua integridade, o desejo de
aventura e das viagens.
Termino com um excerto de um poema de Li Bai, poeta
chinês do séc. VIII
...Vou convidar os dragões
a beber um vinho delicado e raro
na grande taça da Ursa Maior.
Não busco riquezas nem honrarias
viajo pelo mundo,
quero apenas força em minha vida
Um abraço
Maria Cândida Maia » (*)
(*) Neurologista, um dos cerca de 50 especialistas 
que deram o seu testemunho, homenageando em 2003, o Dr. Orlando.

15 comentários:

  1. Muitas pessoas partiram definitivamente
    mas as suas palavras,conselhos,ensinamentos gravaram-se na nossa alma e vivem dentro de nós.
    Ao longo da nossa vida carregamos sempre as melhores amizades e as palavras mais sábias que cada um desses amigos nos legou.

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  2. Gostei de ler a sentida homenagem que aqui deixas.

    Que esteja em paz e, para ti, a minha solidariedade neste momento de perda

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  3. Soube da notícia, aqui. Morreu o homem íntegro, o médico notável, o cidadão exemplar e o comunista coerente.
    Fica-se sempre mais pobre, quando vemos os melhores partirem.

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  4. É bom quando alguém parte mas fica eternamente no nosso cobra, por algo que foi e nos deixou <3
    abraço

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  5. Confesso que não conhecia!
    Que descanse em paz!

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  6. Morrer, deixando obra digna e saudade nos que ficam, não é morrer.


    Um beijo

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  7. Bonita homenagem, Rogério.

    Os que se ama
    quando partem
    acompanham-nos
    ternamente
    na memória
    de hoje
    na memória
    do amanhã
    eternamente.

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  8. Carissimos
    Do vosso Pai era difícil não ser amigo já que ele era imensamente nosso amigo e disso sempre gostou de ser dando-lhe um prazer muito sentido
    Não sei se, dele, irei ter saudades já que a marca dele, para mim, não morreu e será sempre um exemplo e presença de inteligência,perseverança e rigor que nunca desaparece e disso sempre nos recordaremos
    Beijo para toda a família
    Luis Luciano

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  9. deixo ternamente na memória de orlando leitão um beijo sincero por ter existido como pessoa e como médico-- foi ele que deu o seu precioso e decisivo contributo para que eu retomasse a minha marcha e me acarinhasse com calor humano e dedicação desvelada!!!

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  10. POR IMPERDOAVEL LACUNA NÃO FIZ MEMÇÃO A PRATAS VITAL- A ACÇÃO CONJUNTA MÉDICO-CIRURGICA DE AMBOS FOI IMPORTANTISSIMA PARA O QUE,ATRÁS, FICOU ASSINALADO!

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  11. POR LAMENTÁVEL LAPSO NÃO MENCIONEI PRATAS VITAL A QUEM TAMBÉM AGRADEÇO POR ME TER OPERADO- POR ISSO FOI UMA ACÇÃO MÉDICO-CIRUGICA NO SEU TODO.

    GRATO A AMBOS!

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  12. Olá Rogério,
    Há muito que te tinha perdido o rasto. Ontém, por casualidade, o meu filho Rui (ex-Coopers também como nós)enviou-me uma elegia que publicaste honrando o nome do Orlando Leitão, pessoa que conheci por alguns anos, até que ele se reformou como médico...embora ainda mantivesse por una tempos uma actividade privada num consultório hospitalar. Ele acompanhou o Rui desde os 6 anos de idade.
    Vejo pelo teu blog que te mantens activo e com vontade de comunicar com este mundo conturbado, procurando assim manter alguma sanidade mental.
    Envio-te um abraço.
    Se apareceres por Lisboa terei muito gosto em tomar um café contigo.
    O meu contacto é vitorq@yahoo.com.br
    Depois te enviarei o número do meu tlm.
    Abraço
    Vítor Quinta

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  13. O percurso de DR. HUGO DE MENEZES
    Por Ayres Azancot de Menerzes

    Hugo de Menezes nasceu na cidade de São Tomé a 02 de fevereiro de 1928, filho do Dr Ayres Sacramento de Menezes.

    Aos três anos de idade chegou a Angola onde fez o ensino primário. Nos anos 40, fez o estudo secundário e superior em Lisboa, onde concluiu o curso de medicina pela faculdade de Lisboa.


    Neste pais, participou na fundação e direcção de associações estudantis, como a casa dos estudantes do império juntamente com Mário Pinto de Andrade ,Jacob Azancot de Menezes, Manuel Pedro Azancot de Menezes, Marcelino dos Santos e outros.


    Em janeiro de 1959 parte de Lisboa para Londres com objectivo de fazer uma especialidade, e contactar nacionalistas das colónias de expressão inglesa como Joshua Nkomo( então presidente da Zapu, e mais tarde vice-presidente do Zimbabué),George Houser ( director executivo do Américan Commitee on África),Alão Bashorun ( defensor de Naby Yola ,na Nigéria e bastonário da ordem dos advogados no mesmo pais9, Felix Moumié ( presidente da UPC, União das populações dos Camarões),Bem Barka (na altura secretário da UMT- União Marroquina do trabalho), e outros, os quais se tornou amigo e confidente das suas ideias revolucionárias.


    Uns meses depois vai para Paris, onde se junta a nacionalistas da Fianfe ( políticos nacionalistas das ex. colónias Francesas ) como por exemplo Henry Lopez( actualmente embaixador do Congo em Paris),o então embaixador da Guiné-Conacry em Paris( Naby Yola).


    A este último pediu para ir para Conacry, não só com objectivo de exercer a sua profissão de médico como também para prosseguir as actividades políticas iniciadas em lisboa.
    Desta forma ,Hugo de Menezes chega ao já independente pais africano a 05-de agosto de 1959 por decisão do próprio presidente Sekou -Touré.

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  14. Ainda em 1959 funda o movimento de libertação dos territórios sob a dominação Portuguesa.


    Em fevereiro de 1960 apresenta-se em Tunes na 2ª conferência dos povos africanos, como membro do MAC , com ele encontram-se Amilcar Cabral, Viriato da Cruz, Mario Pinto de Andrade , e outros.


    Encontram-se igualmente presente o nacionalista Gilmore ,hoje Holden Roberto , com o qual a partir desta data iniciou correspondência e diálogo assíduos.


    De regresso ao pais que o acolheu, Hugo utiliza da sua influência junto do presidente Sekou-touré a fim de permitir a entrada de alguns camaradas seus que então pudessem lançar o grito da liberdade.

    Lúcio Lara e sua família foram os primeiros, seguindo-lhe Viriato da Cruz e esposa Maria Eugénia Cruz , Mário de Andrade , Amílcar Cabral e dr Eduardo Macedo dos Santos e esposa Maria Judith dos Santos e Maria da Conceição Boavida que em conjunto com a esposa do Dr Hugo José Azancot de Menezes a Maria de La Salette Guerra de Menezes criam o primeiro núcleo da OMA ( fundada a organização das mulheres angolanas ) sendo cinco as fundadoras da OMA ( Ruth Lara ,Maria de La Salete Guerra de Menezes ,Maria da Conceição Boavida ( esposa do Dr Américo Boavida), Maria Judith dos Santos (esposa de um dos fundadores do M.P.L.A Dr Eduardo dos Santos) ,Helena Trovoada (esposa de Miguel Trovoada antigo presidente de São Tomé e Príncipe).


    A Maria De La Salette como militante participa em diversas actividades da OMA e em sua casa aloja a Diolinda Rodrigues de Almeida e Matias Rodrigues Miguéis .

    Na residência de Hugo, noites e dias árduos ,passados em discussões e trabalho… nasce o MPLA ( movimento popular de libertação de Angola).


    Desta forma é criado o 1º comité director do MPLA ,possuindo Menezes o cartão nº 6,sendo na realidade Membro fundador nº5 do MPLA .


    De todos ,é o único que possui uma actividade remunerada, utilizando o seu rendimento e meio de transporte pessoal para que o movimento desse os seus primeiros passos.
    Dr Hugo de Menezes e Dr Eduardo Macedo dos Santos fazem os primeiros contactos com os refugiados angolanos existentes no Congo de forma clandestina.

    A 5 de agosto de 1961 parte com a família para o Congo Leopoldville ,aí forma com outros jovens médicos angolanos recém chegados o CVAAR ( centro voluntário de assistência aos Angolanos refugiados).

    Participou na aquisição clandestina de armas de um paiol do governo congolês.
    Em 1962 representa o MPLA em Accra(Ghana ) como Freedom Fighters e a esposa tornando-se locutora da rádio GHANA para emissões em língua portuguesa.

    Em Accra , contando unicamente com os seus próprios meios, redigiu e editou o primeiro jornal do MPLA , Faúlha.

    Em 1964 entrevistou Ernesto Che Guevara como repórter do mesmo jornal, na residência do embaixador de Cuba em Ghana , Armando Entralgo Gonzales.


    Ainda em Accra, emprega-se na rádio Ghana juntamente com a sua esposa nas emissões de língua portuguesa onde fazem um trabalho excepcional. Enviam para todo mundo mensagens sobre atrocidades do colonialismo português ,e convida os angolanos a reagirem e lutarem pela sua liberdade. Estas emissões são ouvidas por todos cantos de Angola.

    Em 1966´é criada a CLSTP (Comité de libertação de São Tomé e Príncipe ),sendo Hugo um dos fundadores.

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  15. Em 1966´é criada a CLSTP (Comité de libertação de São Tomé e Príncipe ),sendo Hugo um dos fundadores.

    Neste mesmo ano dá-se o golpe de estado, e Nkwme Nkruma é deposto. Nesta sequência ,Hugo de Menezes como representante dos interesses do MPLA em Accra ,exilou-se na embaixada de Cuba com ordem de Fidel Castro. Com o golpe de estado, as representações diplomáticas que praticavam uma política favorável a Nkwme Nkruma são obrigadas a abandonar Ghana .Nesta sequência , Hugo foge com a família para o Togo.
    Em 1967 Dr Hugo José Azancot parte com esposa para a república popular do Congo – Dolisie onde ambos leccionam no Internato de 4 de Fevereiro e dão apoio aos guerrilheiros das bases em especial á Base Augusto Ngangula ,trabalhando paralelamente para o estado Congolês para poder custear as despesas familhares para que seu esposo tivesse uma disponibilidade total no M.P.L.A sem qualquer remuneração.

    Em 1968,Agostinho Neto actual presidente do MPLA convida-o a regressar para o movimento no Congo Brazzaville como médico da segunda região militar: Dirige o SAM e dá assistência médica a todos os militantes que vivem a aquela zona. Acompanha os guerrilheiros nas suas bases ,no interior do território Angolano, onde é alcunhado “ CALA a BOCA” por atravessar essa zona considerada perigosa sempre em silêncio.

    Hugo de Menezes colabora na abertura do primeiro estabelecimento de ensino primário e secundário em Dolisie ,onde ele e sua esposa dão aulas.

    Saturado dos conflitos internos no MPLA ,aliado a difícil e prolongada vida de sobrevivência ,em 1972 parte para Brazzaville.

    Em 1973,descontente com a situação no MPLA e a falta de democraticidade interna ,foi ,com os irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade , Gentil Viana e outros ,signatários do « Manifesto dos 19», que daria lugar a revolta activa. Neste mesmo ano, participa no congresso de Lusaka pela revolta activa.


    Em 1974 entra em Angola ,juntamente com Liceu Vieira Dias e Maria de Céu Carmo Reis (Depois da chegada a Luanda a saída do aeroporto ,um grupo de pessoas organizadas apedrejou o Hugo de tal forma que foi necessário a intervenção do próprio Liceu Vieira Dias).

    Em 1977 é convidado para o cargo de director do hospital Maria Pia onde exerce durante alguns anos.

    Na década de 80 exerce o cargo de presidente da junta médica nacional ,dirige e elabora o primeiro simpósio nacional de remédios.

    Em 1992 participa na formação do PRD ( partido renovador democrático). Em 1997-1998 é diagnosticado cancro.

    A 11 de Maio de 2000 morre Azancot de Menezes, figura mítica da historia Angolana e está sepultado no cemitério de Benfica em Lisboa (Portugal).

    Via http://cc3413.wordpress.com/2010/02/01/mpla/


    Consultar:


    http://www.hugomenezes.no.sapo.pt

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