10 janeiro, 2017

Arremedo de poema, com salva ao fundo

ROSAS AMARELAS
(Arremedo de poema, com salva ao fundo)
Esvaziadas do momento
as pedras, mantêm memória
de um outro tempo
alheando-se deste
enquanto este se alheia delas
das pedras

Nem a erosão dos salinos ventos
apagam vestígios dos mares nunca dantes navegados
e dos arrojados mareantes que deram
como foi escrito, tantos mundos ao Mundo

Outros são os tempos 
onde, Portugal, que já foi o centro do Mundo
hoje se assume como periferia
orgulhosamente
ao invés do que tanto podia ser
nesta Europa de mal-lhe-querer

As pedras não exultam
perante tratados e pactos
nem reclamam
se tais actos rompem 
a iconografia, o imaginário
o sonho
de um povo

Os claustros não choram
perante fúnebres exéquias
São pedras,
(com povos dentro)

Entre um tempo e outro
pelo caminho ficou o sonho
da Jangada de Pedra

Que aconteceu aqui?

O olhe que não,
olhe que não
passou
a um olhe que sim,
olhe que sim
A terra voltou a deixar de pertencer a quem a trabalha
E a Democracia
passou a ser essa, esta
que dia a dia se suicida 

Ai Portugal, Portugal
Onde os cravos da nossa esperança?

Podem rosas amarelas
por serem belas
tomarem o lugar da flor de Abril?
(A resposta é uma salva de 21 tiros)
Rogério Pereira

4 comentários:

  1. Gostei do poema, mas acho-o muito desencantado, Rogério.
    De novo censura, lápis azul? Só se nós deixarmos.
    Não deixe que a força de esvaia, camarada.
    Se o 'olhe que sim' resultar, porque não, porque não, mudar o paradigma e continuar a lutar? Se a luta continua, há que lutar.
    Ânimo, Rogério, o caminho faz-se caminhando e olhando em frente.

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  2. Excelente o poema.
    A resposta? Decididamente não.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  3. Não sabendo como te responder melhor, respondo-te com outro poema, do qual nunca me esqueci, embora sendo muito pouco dada a memorizar tudo o que escrevo...

    Abraço!

    DEMOCRACIA(S)

    (Soneto em decassílabo heróico)

    Que capa ostentas tu, Democracia?
    Conforme à “barricada” lhe convém,
    assim te vais vestindo de ousadia,
    ou de odalisca presa em pleno harém

    Pois se, acaso, te abraça a tirania,
    a capa desbotada é que irá bem
    com essa com que a astuta oligarquia
    disfarça a escravatura em que te tem

    Mas, sendo uma questão de perspectiva,
    dizer que és mesmo tu, vendo-te assim,
    louvada por alguns, quando cativa,

    Não sei, Democracia, se és, pr`a mim,
    mera lembrança de outra que vi, viva,
    vestida de vermelho e... livre, enfim!


    Maria João Brito de Sousa, 16.07.2015 – 15.04h



    ResponderEliminar