Poesia (uma por dia) - 88
- Digo-te a bruma coada na cidade, para êxtase do porvir. Incito-te ao
levantamento do chão, onde adormecem lábios e pedras, murmúrios e
salivas - só para te ver transgredir as pautas.
- Digo-te uma luz ao fundo, numa campânula de sons em arco.
- Repara no cego.
- Repara no cão.
Quando chega a casa- imagino um cubículo de madeira - o cego das
esquinas mergulha as mãos no saco das bofetadas, retira-as para o tampo
da mesa e conta o abandono a que o votaram em cada moeda coitadinha.
- O cego das esquinas. O tempo de rastos.
- Quem anda a montar o tempo?
- São os donos dos prédios altos que fazem esquinas para cegos.
- São os fazedores de cegos, os vendedores de concertinas.
Embora a braços com os primeiros (?) sintomas de uma cegueira muito funcional, estou a gostar muito desta tua série de poesias diárias, Rogério!
ResponderEliminarAbraço!
Mª João
Sabia
Eliminarque gostaria
ou não fossem poetas
«[...]e conta o abandono a que o votaram em cada moeda coitadinha.»
ResponderEliminarSec. XXI e cada vez mais e mais altos prédio, cada vez mais vendedores de concertinas...
Contassem os "cegos" bofetadas, mas é mesmo moedas "coitadinhas", o que a maioria conta.
Lídia
Salva-se a alma,
Eliminarpor cada moeda-bofetada
há cegos com telefonias
alegrando ruas... é que as concertinas pagam elevados IVAs
Abraço de camaradagem
ResponderEliminarAbraço
EliminarUm poema diferente. Onde o poeta não se prende em floreados. É cru e duro.
ResponderEliminarUma pedrada no charco da nossa indiferença.
Um abraço e bom fim de semana
Cru e duro
Eliminarcurto e puro
Há moedas/esmolas dadas a 'cegos' que são como bofetadas!
ResponderEliminarO 'nosso' Poeta sabe usar as metáforas como ninguém...
Um abraço a ambos.
O Mar
Eliminaré nosso irmão