19 janeiro, 2017

Ary? Ele anda por aí, de punho erguido contra o medo, declamando seus poemas com versos pintados de fresco

(reeditado)

A cidade é um chão de palavras pisadas

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

José Carlos Ary dos Santos

6 comentários:

  1. Tenho toda a obra. Gosto das canções.
    O medo? Não sei. Não é agora o mesmo, é de outra natureza e advém dos sucessivos erros cometidos na governação, ao longo das últimas décadas. É um medo dos que não atinge o povo. Esse já não tem medo. Perder o que não se tem, não dói nada.
    Vê quanta panela de sopa se faz por aí para entreter a fome dos pobres? Hoje ouvi um dizer, com toda a naturalidade, que se não comer dois ou três dias, não lhe faz mal nenhum. "A gente habitua-se" - acrescentou com leveza. De que medo fala agora?

    Lídia

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    1. Duplo engano, cara Lídia
      - o medo não se racionaliza
      - o povo cada vez tem mais medo

      O medo é instintivo e até útil. Com medo, sobrevive-se. Não é uma questão de habituação, mas de sobrevivência.



      Escrevi um dia (14 outubro, 2013):

      «Depois de criança, o medo é o que resta numa mente mal desperta, adormecida, submissa... O medo nunca cresce por dentro, mas é por dentro que tolhe e imobiliza.

      Sair do medo não tem qualquer segredo: frequentemente basta um acto de coragem!

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  2. Saudades destes dois.
    O medo, continua a ser uma chaga aberta no peito de todos nós. Todos? Decerto que não, onde há medo há sempre alguém que o provoca. Esses não o temem. Usam-no em seu proveito
    Abraço

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    1. Até esses terão medo
      que tarde ao cedo
      se acabe esse medo
      e se finde tal proveito

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  3. Temos que vencer o MEDO na era da crise dos refugiados, do Brexit e de um Donald Trump na Casa Branca.

    AGORA, temos que provar a nossa coragem em tempos turbulentos.

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  4. O Ary anda por aí, sim, com os versos tão vivos como se tivessem acabado de nascer.

    Quanto ao medo... também anda por aí, cada vez mais tornado omnipresente, cada vez mais bem camuflado e, infelizmente, menos dependente das nossas humanas fraquezas e do nosso "imaginário"...

    Abraço!

    Mª João

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