No mesmo dia, da água e da poesia, um meu amigo homenageava Bocage, nós dávamos a conhecer Arménio Vieira. À coincidência da data, juntam-se outras a tal ponto que, se me dessem a ler Bocage e Arménio, em poemas anónimos, eu diria serem do mesmo autor.
Sobre o poeta cabo-verdiano, prémio Camões (que ele próprio refere não lhe ter acrescentado nem fama nem pecúlio) leu Domingos Lobo um texto de um estudo seu (que deve ser lido, aqui) e do qual extraio este naco:
«Ainda de O Brumário, encontramos o mais transgressor dos poemas de Arménio Vieira, recolhidos nesta antologia: Poema Sujo em Jeito de Rap. O poeta alerta-nos para o peso das palavras, para o medo que ainda continuamos a ter delas, mas são apenas palavras mesmo quando se referem e definem os actos mais íntimos da nossa condição. O poeta, tal como os nossos trovadores das cantigas de escárnio e maldizer, dos séculos XII e XIII, ou os nossos pré-românticos do século XVIII – Bocage é um dos poetas eleitos de Vieira -, cultores de poemas eróticos e satíricos, não desdenhariam subscrever. Neste poema em forma de Rap – e essa circunstância formal é já uma transgressão do poeta, investindo nessa particularidade, também ela rebelde, da cultura popular urbana. Não tenhamos, portanto, medo das palavras, quem tem medo das palavras, interroga o poeta?, perante esta variante anti-lírica da sua poesia.»
Como vai sendo habitual aos domingos, estou de saída e terei de cá voltar para ler o estudo de Arménio Vieira, mas... Bocage? A escrita de Bocage conheço eu desde menina e, embora não tenha lido muitos dos seus poemas ditos "sujos", conheço-lhe bem as características melódicas; era um homem da musicalidade poética, fosse ela "suja" ou nem por isso.
ResponderEliminarTens a certeza de que aquele poema à água é dele? Não to pergunto pelos "folhos e entrefolhos", que não seria por aí que eu poria dúvidas, mas porque está mais martelado do que vinho de contrafacção e, ponta acima, ponta abaixo, de verso coxo - quase paralítico... - e tão musical quanto estaria uma peça de Chopin tocada por mim, que nunca aprendi a tocar instrumento nenhum...
Como te disse, terei de cá voltar, não sei se ainda hoje, ou se só amanhã. Então, farás o favor de me esclarecer, se para tanto te sobrarem paciência e alguns minutos.
Abraço!
Não tenho a certeza
Eliminarmas a fonte é segura
a menos
que tenha, na pressa,
também metido a pata na poça
mas se aquele não serve
outros há que servem o meu texto
Obrigada, Rogério! Escansão perfeita do decassílabo heróico, no que respeita às alternativas que aqui apontas.
EliminarAbraço!
Estes eu sabia que gostarias, e que dizes de Arménio?
EliminarPorque umas vezes vale mais a palavra, outras vezes o palavrão.
ResponderEliminarBem achado.
Abraço do porco-rei
Nestas lides de palavras porcas
Eliminarconsidero-me um... leitão
Não tenho medo das palavras, mas até por profissão evito as menos adequadas,
ResponderEliminarBom domingo
Até por profissão
Eliminarnão devia ser marginalizado
qualquer género literário
inadequados a plateias
que detestam palavras feias
como se todas as palavras ditas
não pudessem ser bonitas
Sujas são as ideias por trás de palavras limpas.
ResponderEliminarBeijinhos, Rogério :)
Isso Maria
Eliminarpareces Eu
Quando cá voltar a D. Maria João, voltarei também, para ficar elucidada, já que não conseguindo ouvir, com nitidez, as palavras 'sujas' ditas pelo senhor de cabeleira branca, não pude aquilatar da semelhança entre o poeta criolo e Bocage, que escreveu sonetos maravilhosos.
ResponderEliminarUm abraço.
Quanto ao som
Eliminara recolha é minha
e eu não sou bom
Arménio é
...e foi dele o Prémio Camões
foi pois!