24 março, 2018

Poemas sujos...


No mesmo dia, da água e da poesia, um meu amigo homenageava Bocage, nós dávamos a conhecer Arménio Vieira. À coincidência da data, juntam-se outras a tal ponto que, se me dessem a ler Bocage e Arménio, em poemas anónimos, eu diria serem do mesmo autor.

Sobre o poeta cabo-verdiano, prémio Camões (que ele próprio refere não lhe ter acrescentado nem fama nem pecúlio) leu Domingos Lobo um texto de um estudo seu (que deve ser lido, aqui) e do qual extraio este naco:
«Ainda de O Brumário, encontramos o mais transgressor dos poemas de Arménio Vieira, recolhidos nesta antologia: Poema Sujo em Jeito de Rap. O poeta alerta-nos para o peso das palavras, para o medo que ainda continuamos a ter delas, mas são apenas palavras mesmo quando se referem e definem os actos mais íntimos da nossa condição. O poeta, tal como os nossos trovadores das cantigas de escárnio e maldizer, dos séculos XII e XIII, ou os nossos pré-românticos do século XVIII – Bocage é um dos poetas eleitos de Vieira -, cultores de poemas eróticos e satíricos, não desdenhariam subscrever. Neste poema em forma de Rap – e essa circunstância formal é já uma transgressão do poeta, investindo nessa particularidade, também ela rebelde, da cultura popular urbana. Não tenhamos, portanto, medo das palavras, quem tem medo das palavras, interroga o poeta?, perante esta variante anti-lírica da sua poesia.»

12 comentários:

  1. Como vai sendo habitual aos domingos, estou de saída e terei de cá voltar para ler o estudo de Arménio Vieira, mas... Bocage? A escrita de Bocage conheço eu desde menina e, embora não tenha lido muitos dos seus poemas ditos "sujos", conheço-lhe bem as características melódicas; era um homem da musicalidade poética, fosse ela "suja" ou nem por isso.

    Tens a certeza de que aquele poema à água é dele? Não to pergunto pelos "folhos e entrefolhos", que não seria por aí que eu poria dúvidas, mas porque está mais martelado do que vinho de contrafacção e, ponta acima, ponta abaixo, de verso coxo - quase paralítico... - e tão musical quanto estaria uma peça de Chopin tocada por mim, que nunca aprendi a tocar instrumento nenhum...

    Como te disse, terei de cá voltar, não sei se ainda hoje, ou se só amanhã. Então, farás o favor de me esclarecer, se para tanto te sobrarem paciência e alguns minutos.

    Abraço!

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    1. Não tenho a certeza
      mas a fonte é segura
      a menos
      que tenha, na pressa,
      também metido a pata na poça

      mas se aquele não serve
      outros há que servem o meu texto

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    2. Obrigada, Rogério! Escansão perfeita do decassílabo heróico, no que respeita às alternativas que aqui apontas.

      Abraço!

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  2. Porque umas vezes vale mais a palavra, outras vezes o palavrão.
    Bem achado.
    Abraço do porco-rei

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  3. Não tenho medo das palavras, mas até por profissão evito as menos adequadas,

    Bom domingo

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    1. Até por profissão
      não devia ser marginalizado
      qualquer género literário

      inadequados a plateias
      que detestam palavras feias
      como se todas as palavras ditas
      não pudessem ser bonitas

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  4. Sujas são as ideias por trás de palavras limpas.

    Beijinhos, Rogério :)

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  5. Quando cá voltar a D. Maria João, voltarei também, para ficar elucidada, já que não conseguindo ouvir, com nitidez, as palavras 'sujas' ditas pelo senhor de cabeleira branca, não pude aquilatar da semelhança entre o poeta criolo e Bocage, que escreveu sonetos maravilhosos.

    Um abraço.

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    1. Quanto ao som
      a recolha é minha
      e eu não sou bom

      Arménio é
      ...e foi dele o Prémio Camões
      foi pois!

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