O elétrico ia como sempre ia, àquela hora. Ia meio vazio e a nove-à-hora. Minha mãe ia enfadada porque não me dava calado pois eu ia lendo tudo o que era anúncio, letreiro ou aviso, de nariz encostado contra o vidro, vaidoso e exuberante pelos meus precoces conhecimentos de leitura
Chegando o revisor picou o bilhete* que minha mãe lhe estendera e quando ia para passar à frente, deu um passo atrás, questionando-me directamente:
- "E o menino que idade tem?"
- "A minha mãezinha disse-me para eu dizer que tenho quatro", e estendi de repelão a mão com cinco deditos trémulos, mas bem esticados...
Debaixo do bigode farto, de inspiração republicana, o revisor esboçou um largo (e cúmplice) sorriso.
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* Bilhete foi um título de transporte único até 1976. Foi graças à Revolução de Abril que apareceu o passe-social e foi preciso esperar 22 anos para que uma proposta fosse colocada e aprovada e o passe passasse a ser gratuito até aos 13 anos.
Mudar o mundo não custa muito, leva é tempo!
Uma história deliciosa do menino Rogérito, que desde pequeno não aceitava a mentira e lutava com os seus dedinhos pela VERDADE!!!
ResponderEliminarLembrar-me-ei sempre da estória que uma amiga e colega de turma, e mais tarde colega de quarto (como costumávamos dizer), me contava. Um dia uma senhora bateu à porta. Queria falar com a mãe. E ela, prazenteira, respondeu: a minha mãe disse-me para eu dizer que não está em casa!!
ResponderEliminarUma menina de 8 ou 9 anos que gostava da verdade!
Atualmente uma advogada muito conhecida na região onde vive.
É assim mesmo, Rogérito :)
ResponderEliminarBeijinho