09 outubro, 2021

DENTRO DE MIM

“Bacanal” (1920), Auguste Levêque

DENTRO DE MIM
Meu Contrário
que com Minha Alma
é casado
anda arrastando a asa
à Minha Persistência
que vive
em união de facto
com o Meu Ânimo

Minha Persistência
sente-se lisonjeada
e sem qualquer resistência
entrega-se ao acto
satisfazendo os prazeres
deleites e caprichos
de Meu Contrário

Minha Alma
nada enciumada
com o deboche
desafia Meu Ânimo
que já tinha tentado algo
a enrolarem-se

E foi assim
todos os quatro
uns por cima
outros por baixo
em deleites de afectos
carinhosos e ternos

Talvez seja isso
que explica meu sono
tão tranquilo
Meu Eu

16 comentários:

  1. Achei um poema bastante original, um final imprevisto dado o desassossego.

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  2. Ah, Rogério, que maravilha de desassossego interior!

    Redundou numa bela noite de sono? Ainda bem!

    Forte abraço!

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  3. Respostas
    1. Pessoano?
      Diria que enquanto escrevia
      outro nome me ocorria
      Bocage, pois então!

      Abraço

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  4. Se dentro de mim se encontram os quatro elementos.
    Não é aqui a questão.
    Identifiquei com o poema tão contraditório e original.
    Também eu durmo um sono tranquilo todas as noites.

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  5. Depois de tão grande orgia
    nos ter sido anunciada
    pensei que ​chegando o fim do dia
    fosse a sua noite bem mais agitada...

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    Respostas
    1. Mais agitada
      seria
      se tudo desatasse à estalada
      se Minha Alma se sentisse violada
      se Minha Persistência não fosse saciada
      Aí sim, entrava em tal agitação
      que, provavelmente, até cairia do colchão

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  6. Como consegue um sono tranquilo com tamanha libertinagem. :)

    Mas se o casamento entre o Seu Contrário e a Sua alma é aberto a tal saudável desassossego, quem sou eu para o questionar. :D

    Continue!!!

    Um beijinho

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