02 outubro, 2021

VOTAR PASSOU A SER UM ACTO REDUNDANTE?

 

Porque, e porque, e porque... por uma carrada de razões, resolvi partilhar:

«...quanto às histórias da substituição do território pelo mapa, nada consegue superar um conto de Jorge Luis Borges: os cartógrafos de um império, tentando satisfazer a ambição de representar o mundo com a máxima fidelidade, chegam ao absurdo de realizar um mapa do império na escala de 1:1. O mapa torna-se assim, progressivamente, o território.

Este modo de representação da realidade provoca uma desconexão. É o que acontece também com as sondagens que substituem, no cálculo dos eleitores, os resultados das eleições e tornam o acto eleitoral um acontecimento redundante porque se limita a cumprir uma destinação. E é, de maneira mais geral, o que se passa com a governação enquanto máquina de medir, calcular e reagir aos números. Os dirigentes políticos estão cada vez mais perante o mundo cifrado dos “indicadores” numéricos, dos scores. Afectados por esta ilusão hiperrealista, vão progressivamente perdendo de vista a realidade do território e deixam de saber o que se passa no país. Trata-se de um sinal eloquente da ascensão do biopoder — essa nova técnica do poder e forma de “governamentalidade”, analisadas por Foucault. Esta dissociação entre as representações quantificadas da situação política e a realidade é uma forma de entropia. Foi assim que a União Soviética implodiu, colapsou.

A entropia, esse fenómeno físico que afecta inevitavelmente a governação à imagem de um sistema termodinâmico, remete-nos para o imaginário cibernético que domina desde há bastante tempo as tecnologias de governo, do mesmo modo que cria nos eleitores a ilusão de que o resultado das eleições está decidido por um cálculo antecipado.»

António Guerreiro
Ler tudo no Público – Ípsilon 1 Oct 2021

11 comentários:

  1. Gostaria muito de saber responder, Rogério.
    Mas para isso precisava perceb er a pergunta.
    A sério, não estou a brincar. Não sei mesmo onde o Rogério quer chegar.
    Talvez amanhã haja alguém que me ilumine com um comentário.

    Boa noite, abraço.

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    1. É sempre espectável que alguém traga mais luz para um quadro deveras escuro: o da compreensão de quem deserta de um dever cívico e se abstém, ficando em casa (ou indo à praia).

      O texto é denso, mas preciso (talvez valha a pena lê-lo todo)

      Por mim diria, interpretando o lido, que o efeito da sondagem desmobiliza ao acto, muito ao estilo, "não vale a pena, o gajo já ganhou" e a votação desce....
      A sondagem é vista como a certeza, donde, para quê o gesto redundante...

      Abraço grande

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    1. Se na resposta já dada
      não acrescentei nada
      talvez surja alguém
      e deixe "a coisa" mais iluminada

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  3. António Guerreiro é um cronista importante é um homem de vasta cultura.

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  4. Não posso ler tudo; o artigo só se encontra acessível aos subscritores...

    Na minha opinião, as sondagens são apenas um dos muitos factores que têm vindo a alimentar a crescente abstenção. E, sem dúvida, têm o seu peso...

    Abraço!





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  5. As sondagens induzem à ausência?
    Há quem diga que sim mas não será só por aí.

    Abraço

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    1. Claro que não, a ausência
      também é pela descrença

      Abraço

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    2. AQUI também há sondagens e nas eleições legislativas do dia 26 de setembro de 2021 votaram 76% dos eleitores.

      NÃO quero ofender, mas o povo português sobretudo as mulheres têm pouca instrução política. Claro que há exceções.

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