Porque, e porque, e porque... por uma carrada de razões, resolvi partilhar:
«...quanto às histórias da substituição do território pelo mapa, nada consegue superar um conto de Jorge Luis Borges: os cartógrafos de um império, tentando satisfazer a ambição de representar o mundo com a máxima fidelidade, chegam ao absurdo de realizar um mapa do império na escala de 1:1. O mapa torna-se assim, progressivamente, o território.
Este modo de representação da realidade provoca uma desconexão. É o que acontece também com as sondagens que substituem, no cálculo dos eleitores, os resultados das eleições e tornam o acto eleitoral um acontecimento redundante porque se limita a cumprir uma destinação. E é, de maneira mais geral, o que se passa com a governação enquanto máquina de medir, calcular e reagir aos números. Os dirigentes políticos estão cada vez mais perante o mundo cifrado dos “indicadores” numéricos, dos scores. Afectados por esta ilusão hiperrealista, vão progressivamente perdendo de vista a realidade do território e deixam de saber o que se passa no país. Trata-se de um sinal eloquente da ascensão do biopoder — essa nova técnica do poder e forma de “governamentalidade”, analisadas por Foucault. Esta dissociação entre as representações quantificadas da situação política e a realidade é uma forma de entropia. Foi assim que a União Soviética implodiu, colapsou.
A entropia, esse fenómeno físico que afecta inevitavelmente a governação à imagem de um sistema termodinâmico, remete-nos para o imaginário cibernético que domina desde há bastante tempo as tecnologias de governo, do mesmo modo que cria nos eleitores a ilusão de que o resultado das eleições está decidido por um cálculo antecipado.»
António Guerreiro
Ler tudo no Público – Ípsilon 1 Oct 2021
Gostaria muito de saber responder, Rogério.
ResponderEliminarMas para isso precisava perceb er a pergunta.
A sério, não estou a brincar. Não sei mesmo onde o Rogério quer chegar.
Talvez amanhã haja alguém que me ilumine com um comentário.
Boa noite, abraço.
É sempre espectável que alguém traga mais luz para um quadro deveras escuro: o da compreensão de quem deserta de um dever cívico e se abstém, ficando em casa (ou indo à praia).
EliminarO texto é denso, mas preciso (talvez valha a pena lê-lo todo)
Por mim diria, interpretando o lido, que o efeito da sondagem desmobiliza ao acto, muito ao estilo, "não vale a pena, o gajo já ganhou" e a votação desce....
A sondagem é vista como a certeza, donde, para quê o gesto redundante...
Abraço grande
também não percebi muito bem
ResponderEliminarSe na resposta já dada
Eliminarnão acrescentei nada
talvez surja alguém
e deixe "a coisa" mais iluminada
António Guerreiro é um cronista importante é um homem de vasta cultura.
ResponderEliminarSim, mas dirige-se sempre a quem, além de ter cabeça, usa-a
EliminarNão posso ler tudo; o artigo só se encontra acessível aos subscritores...
ResponderEliminarNa minha opinião, as sondagens são apenas um dos muitos factores que têm vindo a alimentar a crescente abstenção. E, sem dúvida, têm o seu peso...
Abraço!
Isso mesmo!
EliminarO artigo,
só explica o mecanismo
Abraço amigo
As sondagens induzem à ausência?
ResponderEliminarHá quem diga que sim mas não será só por aí.
Abraço
Claro que não, a ausência
Eliminartambém é pela descrença
Abraço
AQUI também há sondagens e nas eleições legislativas do dia 26 de setembro de 2021 votaram 76% dos eleitores.
EliminarNÃO quero ofender, mas o povo português sobretudo as mulheres têm pouca instrução política. Claro que há exceções.