31 janeiro, 2024

AS PROPOSTAS DOS PARTIDOS PARA A SEGURANÇA SOCIAL

Eugénio Rosa, Economista (artigo publicado no DN)

"Dois alertas. No primeiro, vamos analisar apenas as propostas que já são de conhecimento público. No segundo, a consistência dos valores apresentados. Como o Governo tem ocultado os dados da Segurança Social (o Relatório e Contas - Parte II de 2022 ainda não foi divulgado) teve de se utilizar dados de 2021, por isso os valores são indicativos, mas já dão uma ideia do impacto financeiro das propostas. 

A proposta do PSD é a de fixar como valor máximo do Complemento Solidário para Idosos 820€. Mesmo que o CSI possa ter esse valor máximo, não significa que o idoso receba esse valor. Em 2023 o valor do CSI era 488€, mas o valor médio pago foi 140€ (12 meses). E isto porque, para além do rendimento do idoso, é também considerado uma parcela do rendimento dos filhos. Se as atuais condições de concessão do CSI se mantiverem, o aumento do número de idosos a receber CSI será pouco significativo. A subida para 820€, o valor médio pago seria cerca 235€/mês, o que daria um aumento de despesa de 128 milhões de euros (em 2024, estão já previstos 287 M€). O número de beneficiados seria reduzido. Em 2015 eram 177 000 e em 2023 apenas 138 000. A proposta do PSD ignora a situação de mais de dois milhões de pensionistas . 

A proposta do BE é o valor das pensões de carreiras contributivas de 20 ou mais anos de descontos ficar acima do limiar de pobreza, mas nada diz em relação às restantes pensões. O limiar da pobreza em 2022 era 507€ (INE) e , em 2023, terá sido 542€/mês (14 meses). Em 2021, último relatório disponibilizado pela Segurança Social, 73% dos pensionistas recebiam pensões inferiores ao limiar da pobreza. Extrapolando para 2023 conclui-se que o aumento destas para o limiar de pobreza determinaria um aumento de despesa que devia rondar os 3600 milhões €. Mas o proposto é apenas para os que têm 20 ou mais anos de descontos. Em 2021, a carreira contributiva média era 28,5 anos. Em 2023 deverá rondar os 30 anos. Deduzindo os que têm menos de 20 anos o aumento de despesa anual seria ainda inferior ao indicado. 

A proposta do PCP é um aumento de 70€ das pensões de valor igual ou inferior a 933€ e de 7,5% nas de valor superior. É a única proposta que abrange todos os pensionistas. Extrapolando para 2023 os dados do Relatório da Segurança Social de 2021 e fazendo os cálculos necessários obtém-se um aumento de despesa que se estima em 3200 milhões €. Se deduzirmos a despesa com as pensões sociais (100 000 pensionistas) pagas pelo OE o aumento da despesa para a Segurança Social reduz-se, mas pouco. 

A proposta do Chega só se aplica às pensões inferiores ao Salário Mínimo Nacional. Os outros pensionistas são esquecidos. O aumento da pensão para o valor do IAS (509€ em 2024) determinaria um aumento de despesa que estimamos em 3000 milhões de euros. Se o aumento fosse para salário mínimo nacional o acréscimo de despesa seria superior a 10 000 milhões de euros. 

A proposta da IL, a ser aplicada, destruiria a Segurança Social e lançaria na pobreza milhões de pensionistas. A IL propõe a “eliminação da componente de TSU que recai sobre a entidade empregadora, sendo esse montante total e obrigatoriamente integrado no salário bruto do trabalhador” e a criação de fundos de pensões. No Orçamento para 2024, as receitas da Segurança Social de descontos somam 26 417 milhões €. Se eliminar as contribuições das empresas, como defende a IL, elas ficariam reduzidas a 8362 milhões €. E a despesa com pensões em 2024 são 21 219 milhões €, portanto faltariam 16 310 milhões € para pagar as pensões dos atuais pensionistas. 

Da proposta do PS o que se conhece é que PNS defende “sistemas complementares de reformas de acesso alargado, a definir no âmbito da contratação coletiva” e “colocar à discussão e concretizar uma reforma das fontes de financiamento do Sistema de Segurança Social, para que a sustentabilidade futura deste não dependa apenas das contribuições pagas sobre o trabalho”. Em relação aos atuais pensionistas nada de concreto. As empresas têm-se oposto à criação de fundos complementares no âmbito da contratação coletiva (não querem financiar). Algumas delas tem utilizado a artimanha que é pagar uma parte do salário depositando-o num fundo de pensões para não contribuir para a Segurança Social e deduzir esse valor na matéria coletável sujeita a IRC (art.º 23, CIRC,) prejudicando o trabalhador. 

COMO FINANCIAR ESTE AUMENTO DE DESPESA: Haveria que diferenciar entre o que é um complemento social de combate à pobreza, e teria de ser financiada pelo OE; o que restasse seria com receitas da Segurança Social. Em novembro de 2023, a Segurança Social apresentava um saldo positivo de 4004 milhões €. E para 2024 estão previstos 4980 milhões € positivos."

Economista 


29 janeiro, 2024

AS LIÇÕES DE MARCELO CONVERTIDAS EM PRÁTICA SISTEMÁTICA!

Em 1 de Fevereiro de 2022 escrevia eu, sem tirar nem pôr, o texto que reproduzo. Mais que actual, evoluiu para níveis que ultrapassam o que de pior receava. Ora relembrem:

"A imagem e o texto que a acompanhava datam de Março de 2013. Desde aí a lição, convertida em prática sistemática, aprimorou-se e ronda agora, não só a perfeição, como também uma eficácia alargada a ponto de explicar o papel dos média nos resultados eleitorais.

Lembro o meu post (Jerónimo? Quem é?) onde, em dois meses sucessivos (novembro e dezembro), figuravam os protagonistas que os principais canais punham em destaque. A omissão apelava, subliminarmente, ao reconhecimento da pouca importância da candidatura. Jerónimo é como se não existisse!

A expressão referida "O que a Televisão não fala ou não mostra... não existe!!!", também funciona na formulação "O que a televisão insistentemente fala ou mostra... existe, para além da sua existência!!!" e o Ventura passou a figurar como protagonista destacado. Se em novembro figurava em 7º lugar do top-10, a partir daí, todos os outros protagonistas, comentadores, politólogos, especialistas e convidados falavam na candidatura e traziam o Chega na ponta da língua.  Ventura passou a existir!

Dizia-me há uns dias um Oficial da Armada que participou no 25 de Abril "Rogério, hoje a censura instalada é mais eficaz do que a do "tempo da outra senhora"!


28 janeiro, 2024

JÁ ALGUMA VÊZ LEU O "AVANTE!"?

Vêm aí as eleições: perguntas frequentes

A cerca de mês e meio das elei­ções le­gis­la­tivas de 10 de Março e pra­ti­ca­mente a dez dias das elei­ções le­gis­la­tivas re­gi­o­nais nos Açores, o Avante! res­ponde a um con­junto de ques­tões e dú­vidas mais co­muns, pre­sentes nesta ba­talha elei­toral. Trata-se de um con­tri­buto para o es­cla­re­ci­mento, face a su­ces­sivas cam­pa­nhas de mis­ti­fi­cação, ma­ni­pu­lação, de­sin­for­mação e men­tira. É, também, um apoio para todos os ac­ti­vistas e can­di­datos em­pe­nhados na cam­panha de es­cla­re­ci­mento da CDU, um ele­mento para es­ti­mular a con­versa, des­blo­quear pre­con­ceitos e mo­bi­lizar para o voto na CDU

O que dizem as son­da­gens sobre a CDU?

Há duas coisas que ca­rac­te­rizam as son­da­gens: uma é que fre­quen­te­mente não acertam, a outra é que pro­curam levar os elei­tores ao en­gano, in­flu­en­ci­ando o seu sen­tido de voto. Mais do que prever, visam pro­duzir re­sul­tados. Foi o que acon­teceu nas úl­timas le­gis­la­tivas (em que ha­veria um «em­pate téc­nico» entre PS e PSD e o PS acabou por ter uma mai­oria ab­so­luta) e foi o que acon­teceu na Ma­deira (a CDU ia perder o seu único de­pu­tado e afinal au­mentou a vo­tação em 50%).

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 Nas páginas 15, 16 e 17 encontra mais de duas dezenas de perguntas e respectivas respostas

27 janeiro, 2024

ATÉ 10 DE MAIO, POR AQUI PASSO A PASSO LARGO - III

ONTEM E HOJE, NÃO PAREI. 

CONTUDO, À NOITE, INTERVALEI POIS TIVE UM DESAFIO:

"É PÁ, NÃO VAIS OUVIR O FANHAIS?"

PODIA EU LÁ FALTAR?... FUI!


Associação José Afonso


25 janeiro, 2024

22 janeiro, 2024

EU MILITO ONDE SABEM QUE MILITO, MAS DOU APREÇO A ESTE APELO

"Cada democrata tem uma obrigação e uma só obrigação nas próximas semanas: tratar as eleições de março como um combate de vida, apoiando um dos partidos fiéis ao melhor da Constituição da República Portuguesa, com uma imensa alegria militante, todo o otimismo da vontade, sem elitismos

Sendo independente, tomo partido, não alardeio neutralidades, o importante, creio, é mesmo apoiar um dos partidos de esquerda em concreto e sempre pela positiva, com fraternidade de frente popular, digamos. E fazer campanha, na medida das disponibilidades, claro. 

 E, já agora, evitemos os treinadores de bancada, sempre prontos a dar a linha ou a fazer exigências a partidos em que não militam ou que não apoiam publicamente, como se estivessem num qualquer lugar acima. 

Neste blogue, como sabeis, há gente que apoia o BE, o PCP-PEV e o PS. Talvez me atreva a dizer: aqui estamos, prontos para a luta, com respeito pela inteligência das pessoas e com respeito pelas palavras, que procuramos que sejam justas e certeiras. E se não forem, digam, que estamos sempre prontos a tentar melhor. 

Isto vai, isto vai."

Roubei este Apelo aos "Ladrões" 


 

21 janeiro, 2024

CONGRESSO DOS JORNALISTAS - II


Resolução final do 5º Congresso dos Jornalistas

“O atual estado de emergência do jornalismo nacional convoca todos.” Foi assim que foi apresentada a resolução final do 5º Congresso dos Jornalistas Portugueses. A resolução votada esta tarde no cinema S. Jorge foi aprovada e aclamada por unanimidade pelos congressistas.

Esta resolução surge das comunicações e moções apresentadas ao longo dos últimos quatro dias e pode ser ouvida na íntegra aqui.



 

19 janeiro, 2024

CONGRESSO DOS JORNALISTAS - I

Tendo estado no S. Jorge na passada segunda-feira, não consigo reunir condições para lá regressar. Assim, resta-me seguir (e partilhar) exactamente as sessões que gostaria de acompanhar ao vivo e a cores. Por exemplo, hoje, andaria a saltar de sala em sala para "morder o ambiente" e, a dado passo, não perder esta entrevista. Neste site, salte de um para outro lado e, de seguida, não perca as respostas do entrevistado...


Stephen Ward: O jornalismo tem um dever global para com a humanidade e a democracia

Na sua opinião, quais são os temas que um congresso de jornalistas como este deveria abordar?

Como sou especialista em ética, diria que temos de começar a concetualizar o jornalismo como um dever global para com a humanidade e a democracia. Sei que isto parece muito grandioso, mas isto não significa que não amem o vosso país ou que não escrevam sobre notícias locais. Significa apenas que, em caso de conflito, o nacionalismo e a estreiteza de perspetiva não se sobreponham a uma visão mais alargada. Isto significa também aprender a relatar questões globais. Porque os jornalistas vão andar por esse mundo, vão ter de escrever a partir de diferentes culturas e não vão compreender o que estão a relatar. Tive esse problema terrível quando era diretor em Vancouver, onde estávamos rodeados de minorias que tinham vindo para o país: asiáticos, vietnamitas, indianos… Na redação, éramos todos brancos e homens e isso era um problema. Por isso, tive de começar a enviar os meus repórteres para a universidade, para frequentarem cursos sobre a cultura e a língua desses povos. Depois, tentámos recrutar pessoas, mas, às vezes, elas ficavam um pouco nervosas com a cultura dominante: viam-nos, a nós media, como “os brancos”. Mas fizemos alguns progressos. 

A segunda coisa mais importante, para a qual não tenho respostas – o que me está a deixar louco –, é aquilo a que chamo de ecologia social dos jornalistas. Como vão ser as redações para os jornalistas? Vão poder ter alguma palavra a dizer sobre a ética e sobre as histórias que fazem? Será que vão conseguir um emprego? E, se for o caso, será no ambiente ético que se pretende? Suspeito que, em muitos casos, não será. Mas não quero ser totalmente negativo. Ainda existem por aí organizações muito boas. Mas também há cortes no jornalismo e muita coisa negativa. E parece-me que a única forma de mudar isso é os próprios jornalistas organizarem-se, tornarem-se ativistas e criarem os seus próprios meios de comunicação. 

Uma última questão é a desinformação e o terrível declínio da democracia, da comunidade democrática e do espírito democrático. Temos de aprender, enquanto jornalistas, como noticiar sobre pessoas que têm visões extremas e sobre o que consideramos de extremo. Como é que vamos noticiar os demagogos que promovem conspirações e o ódio? É preciso ser crítico e comprometido. Por isso, não sou um grande fã da neutralidade. Há alguns pontos no jornalismo relativamente aos quais se deve ser neutro. Mas acho que os jornalistas têm de encontrar uma forma de aliar os seus valores ao que esperam que a sociedade faça do mundo. No entanto, devem seguir uma boa metodologia, para que as histórias sejam tão exatas quanto possível. Mas se só se preocupam com a metodologia, falta-lhes o coração. Para ser um bom repórter, é preciso ter duas coisas. É preciso ter um desejo ardente de levar boas histórias às pessoas. É preciso querer fazê-lo, porque nos vamos encontrar em muitas situações difíceis. E também é necessário ter um outro lado, que é o de permitir que as histórias sejam postas à prova dos factos, da lógica e das perspectivas de outras pessoas. 


18 janeiro, 2024

HOJE SENTI-ME BENTO DE JESUS CARAÇA

Ia a dar por título que me tinha sentido Caraça, mas por razões mais que óbvias resolvi-me por referir o nome completo. 

E porque me senti ele? As imagens, projectadas por Olga Pombo na sua intervenção inicial, hoje, no Palácio Galveias respondem à pergunta. 

Sobre este Homem (com H grande) já o tinha apresentado aqui. Mas passemos às imagens... e percebam porque me tocou tanto...



Claro que a sessão daria "pano para mangas", tanto, que não seria compatível com o passo apressado com que por aqui se passa...

(obrigado caro Mário Simões Teles, pelo convite)

16 janeiro, 2024

MUDAR O MUNDO NÃO CUSTA MUITO, LEVA É TEMPO!

Trago desde sempre esta música dentro de mim... e
Não desiludam o meu esforço
Não refreiem o meu empenhamento
Não sei se mudo o Mundo muito ou pouco
Se não o mudo, pelo menos tento 

15 janeiro, 2024

NAS REDAÇÕES DOS JORNAIS, LUTA-SE POR SE SER JORNALISTA


Disse que ia e fui. Excelente desempenho por actores-jornalistas em trabalho de fusão entre um escrito de Saramago (a Noite) e o que um colectivo lhe acrescentou. Confirmei umas tantas coisas, tais como a censura paira e, como polvo, tem vários tentáculos. A novidade foi a consciência da classe não só quanto a isso mesmo, como também a percepção da existência de uma forte disposição para a luta. Luta onde, desde já, se irá inscrever o 5º CONGRESSO DOS JORNALISTAS hoje mesmo antecipado.

Fortes testemunho e declarações, no debate que se lhe seguiu, atestaram isso mesmo... 

Fixei as palavras de Pilar Del Rio: "Batam-se pelo vosso nome! Recusem o anonimato!"


14 janeiro, 2024

HOJE SINTO-ME RAIMUNDO


Depois de ver o que acabei de ouvir e ver senti-me Raimundo. E é curioso, como aquilo que eu-Raimundo aqui vou dizendo e o que eu ali estou fazendo se liga ao meu escrito quando me senti Álvaro. E continua pertinente a pergunta então deixada, de se "O PCP é ainda o partido da classe operária?"

A pergunta era (e é) pertinente dado que se dava como contexto a desindustrialização do País. Em 1991, era ainda pouco relevante o sector automóvel e temo que a Autoeuropa acabe como acabaram as empresas industriais que então enumerei. E depois de ter referido os sectores afectados e as empresas desaparecidas deixava a pergunta  de quantos milhares de postos de trabalho se terão perdido. Apurei agora com a ajuda da PORDATA. Entre 1991 e 2022, perderam-se no total de cerca de 315 mil postos de trabalho, respectivamente:
  • Indústria extrativa: perda de 9 062 postos de trabalho;
  • Indústria transformadora: perda de 305 135 postos de trabalho.
De notar que houve acréscimo de emprego. Ainda segundo a PORDATA, registaram-se, naquele mesmo período um acréscimo de mais de um milhão de postos de trabalho... só que em sectores diversos e não identificados, muitos deles onde predomina a precariedade.

Pode um Partido Comunista ser forte com uma industria agonizante? 
Pode uma Economia ser forte com uma indústria deprimida?

Ficam as respostas a vosso encargo!

13 janeiro, 2024

SERÁ QUE O JORNALISMO TEME OS JORNALISTAS? - II


O Congresso, que a alguém inspira medo, começa mais cedo. O dito, cujo dia 18 tem inicio, na verdade começa já na segunda-feira e não vou perder, vou lá estar (como podia eu faltar)?

E o que é que tanto me atrai? 

A Noite
Ensaio aberto da adaptação da peça de teatro da autoria de José Saramago pelo Grupo de Teatro dos Jornalistas do Norte, seguida de debate.
21h, Cinema São Jorge, sala 1.

 

12 janeiro, 2024

SERÁ QUE O JORNALISMO TEME OS JORNALISTAS?


Não, o titulo dado não é, de maneira nenhuma, um jogo de palavras... Dê-se ao trabalho de reflectir sobre o que lhe ocorre, sem deixar de ligar tal título à imagem... e diga de sua justiça!
Sim, está para muito breve a realização do 5º Congresso dos Jornalistas, pois a primeira sessão está agendada para o próximo dia 18 (ver programa integral)

Porque "ninguém" fala disto, havendo até sessões abertas ao público?

Recordando o que eu escrevi sobre o 4º Congresso, já tenho ocupação para a próxima semana.

10 janeiro, 2024

HOJE SINTO-ME ÁLVARO


Depois de ver o que acabei de ouvir e ver, senti-me Álvaro. E é curioso, como aquilo que eu-Álvaro aqui vou respondendo em 1991 parecem respostas adequadas à actualidade... faltou apenas uma pergunta, tipo "O PCP é ainda o partido da classe operária?"

Não me atrevo a adivinhar o que Álvaro Cunhal responderia mas eu, não deixaria de associar a progressiva desindustrialização às dificuldades crescentes referidas por ele. De facto, sectores como o da construção e reparação naval caíram para nunca mais se erguerem (Lisnave, Setenave, Margueira, Estaleiros de Viana são um dramático exemplo). Outro sector rendido a zero o metalúrgico, onde a Siderurgia Nacional, a Cometna e a Mague foram desaparecendo. E ainda a metalomecânica, com destaque  para a Sorefame e para a Equimetal. Mas, se não muitas as empresas referidas, são milhares as empresas a serem afectadas pois qualquer daquelas grandes subcontratavam componentes, serviços e mão-de-obra de modo mais ou menos intensivo. 

Quantos milhares de postos de trabalho se perderam? Quantas centenas de células do Partido desapareceram? 

E não foi só o Partido a sofrer mas sim toda a economia. E a coisa ficou por aqui? Nem pensar! Sectores que se julgavam seguros deixaram de o ser. Exemplo disso são o sector cimenteiro, o do calçado, o do vestuário e mais o que adiante se verá...

A classe operária está reduzida a... quase nada.


09 janeiro, 2024

HISTÓRIAS COM GENTE DENTRO


Foi surpresa há uns dias, mas só hoje fui levantar a encomenda, expedida há mais de uma semana. Não estando em casa e não cabendo o livro na diminuta caixa do correio, fui levantá-lo a um pequeno estabelecimento transformado em serviço público por parte de quem o devia prestar. Despido da embalagem, o livro, começo por me deleitar com a bela pintura de Albino Moura e logo de seguida me cresce o ego com a dedicatória. Relembro que já me referi à autora neste meu espaço bem com à amizade que, por tabela, nos liga.

Já li uma ou outra história, e escolho esta pois é a adequada a este espaço:

O POLICIA

"O meu filho Miguel, meteu aqui na minha página do Facebook uma notícia, a propósito do GNR que mandou parar o trânsito para ajudar uma velhinha a atravessar a rua...

Também tenho uma história com policia dentro; um destes dias abeirei-me de uma passadeira para peões, disposta a atravessar uma rua bastante movimentada aqui em Almada. Nesse mesmo instante, um policia do outro lado da rua, levantou a mão e, de imediato mandou parar o trânsito.

Atravessei a rua sorridente e quando cheguei junto dele não resisti a uma palavra brejeira:

  • Obrigada senhor Guarda, foi preciso fazer 75 anos (comi logo 5 anos) para fazer parar o trânsito!
  • Minha querida senhora, eu é que lhe agradeço, a senhora foi a primeira e única pessoa que hoje me falou! - olhou para mim e sorriu..."
M. Odete Santos Silva, In " CONTADORA DE HISTÓRIAS", pág. 83

08 janeiro, 2024

FALECEU ARNALDO TRINDADE, EDITOR DE ABRIL


Soube à pouco a triste notícia do 
falecimento de Arnaldo Trindade

Além de ter sido o fundador da editora Orfeu, foi também obreiro na disseminação de cantos e cantores de Abril nomeadamente de Zeca Afonso, Fausto, Adriano Correia de Oliveira, Paulo de Carvalho, entre outros.

Dedicado à música e ignorando ostensivamente a PIDE, Arnaldo Trindade, desde finais de 50 e até meados dos anos 80, pela Orfeu, produzia o melhor da música portuguesa
 

07 janeiro, 2024

"TROCO ESTA MEDALHA POR OUTRO MODELO DE DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO"


"Chalana" é um camarada, filiado no partido em que milito. Em 2013 (já lá vão uns anitos) recebeu a medalha atribuída pelo júri do Prémio Direitos Humanos constituído no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República. Ele fez um discurso que mantém toda a atualidade: “Troco esta medalha por outro modelo de desenvolvimento económico”.

... e este é o modelo que ele (e eu) quer  ver trocado:


Este vídeo é o primeiro dos oito que perfazem a obra "Os Esquecidos"...

04 janeiro, 2024

03 janeiro, 2024

CTT E... UM CASO MENOR, CONSIDERADO ENORME


Hoje toda a imprensa, falada, televisiva e escrita empolou um pequeno caso transformando-o em caso enorme. E apenas uma força política lhe esvaziou a dimensão. Por razões históricas reproduzo um telefonema inesperado...
Minha Alma (atendendo a chamada) - Tá? Quem fala?
Voz (em tom familiar) - Sou eu, a Maria!
Minha Alma (tentando localizar a fala) - Qual Maria?
Voz (em tom de ironia) - A Maria-Vai-Com-As-Outras!
Minha Alma (admirada) - Quê? A Rainha?
Voz (sentida, por ser reconhecida) - Eu mesma! Quero que registes que muito apreço teres assumido a luta que eu enfrentei. Sabes? Foi por meu despacho régio que acabei com a bagunça do serviço postal privado?
Minha Alma (admirada) - Quê?  A... a sério?
Voz (com energia inusitada) - Sim, acabei com a treta do "correio mor" e com a "Carta Régia" de 1520 e, em despacho meu, nacionalizei os serviços postais mais de três séculos depois. Foi em 1797. Os gajos que ganhavam massa com isso, não davam conta do serviço... Quase me deram cabo do juízo...
Minha Alma (admirada) - Caramba, Dona Maria, nem sabe a falta que agora a senhora nos fazia... Sabe o que custa reverter uma Lei estúpida?
Voz (em tom sentencioso) - Depois do desastroso desempenho e do que se vai passando por esse Pais fora, compete-te engrossar fileiras. Ou estás à espera que as almas do outro mundo vos ajudem em tudo? 
(ia a responder, mas a chamada caiu)

02 janeiro, 2024

A BLOGOSFERA AGORA... TÁ BÉRA (JÁ NÃO É AQUILO QUE ERA)


A imagem retrata o ranking dos meus 10 posts com maior número de visualizações nos meus 14 anos de existência. Os números até a mim me surpreendem. No podium (os três primeiros) surpreendem sim, mas não tanto,  pois o primeiro manipula quem procura documentar o maquiavelismo que por aí anda... mas o segundo lugar, meu Deus, como foi a adesão ao desafio da participação colectiva... quase 5 mil visualizações e 41 comentários! (e que comentários)! 

Sim, mas isso foi em junho de 2012... e querem mais um testemunho de que a blogosfera já não é aquilo que era? Ora vejam só!

01 janeiro, 2024

MENSAGEM DE ANO NOVO, MAS QUE NÃO SE RENOVA

Imagem StreetArt Child

 

 

 

Mensagem deste Ano Novo
Trago do Ano Velho
tudo o que tenho,
e é pouco, como mostro.
Não me tirem mais!, eu troco...
Troco este rádio
pelos esqueletos que guardas no armário.
Troco o meu brinquedo
pelo teu medo,
e o o meu colar pelos fantasmas
que não largas.
Dou-te o meu boné
se me deres as teias
em que te enleias.
Dou-te todas as minha miseras roupas
se me vestires com teu sorriso.
Dispenso-te minhas pobres botas
se jurares
percorrer caminhos que não ousaste.

Julgas que tudo o que te move e a que te agarras
valem mais que estas minhas vestes e tralhas?

Vá, pensa!, tudo o que te proponho
não tem de acontecer agora.
Vamos trocando pelo ano fora.
Vamos trocando?
Vamos?

Ah, e esta rua
é também tua.
Usa-a para a minha luta, já.
Vá!
Rogério Pereira (reeditado, com alterações)