Dia de Camões
"Esta é a ditosa pátria minha amada,
à qual se o Céu me dá que eu sem perigo
torne, com esta empresa já acabada,Camões – Estrato de Os Lusíadas (canto III)
Dia de Portugal
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fatua ignorância;
(…)
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço.
És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, nãoEstrato do poema “Portugal” de Jorge de Sena
Dia das Comunidades Lusófonas
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.Estrato do Poema “O Tejo é mais Belo” de Alberto Caeiro (het. de Fernando Pessoa)
10 junho, 2010
4 dias num só (o dia para esquecer e os outros...)
Não não ligo a quem discursa, com palavras ambíguas, depois de um desfile militar. Hoje dou a palavra aos poetas
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Boas escolhas! E sim - o dia hoje pertence aos poetas!
ResponderEliminarBeijinhos :)
Não vi discursos nem paradas, mas tive o azar de ouvir no telejornal aquela do Presidente: "Repartição justa de sacrifícios"...aquilo seria ele a querer fazer humor?
ResponderEliminarPois só pode ser :(
Rogério,
ResponderEliminarEntrei nos links, não conhecia os poemas de Jorge de Sena, fui ler outros... Gostei!
Diz que as palavras dos discursantes são ambiguas, será que queria dizer, contraditórias com os passados respectivos?
Beijo da Maiúka
Obrigado, Helga!
ResponderEliminarCara Isa a Maiúka deu-lhe a resposta!
Maiúka, tem razão. Quem os ouvir parecem gente de bom porte. Passando-os com o meu algodão, podemos ver-lhes a sujidade e...
...o algodão não engana, né?
Beijos, na palma da minha mão, que lhes envio num sopro
(continuo constipado)
Se continua constipado é porque ainda não experimentou o chazinho de Tomilho lol
ResponderEliminar