24 junho, 2011

A meio caminho entre a realidade e a ficção...

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" (tirado daqui)

"Portugal está a meio caminho entre a realidade e a ficção. Sempre assim foi."
_____________________Baptista Bastos, in Diário de Notícias (ler texto integral)

9 comentários:

  1. Este poema de Fernando Pessoa é maravilhoso e os comentários só podem ser estes. Lições de um pensador nato.
    Parece-me que muita gente ainda não aprendeu a pensar para viver correctamente sem aos outros prejudicar.

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  2. Caro Rogério
    Ontem publiquei um poema do Eça de Queirós. Entretanto dada a festa de S.João onde se deve ter passado algo identico ao que B.B relata na sua crónica relativo ao Stº António, decidi passá-lo para hoje.
    De facto quando ao longo da vida fui lendo uns poemas dos nossos poetas, não os conseguia tranpôr para a realidade. Agora, caramba parece mesmo premonição, como o Pedro Coimbra escreveu no comentário.
    Abraço

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  3. Quanto ao "poder absurdo e quase absoluto não ser limitado por nenhuma lei nem por qualquer obrigação moral" podemos agradecer aos políticos que nos desgovernaram porque, simplesmente, venderam a nossa liberdade, porque nenhum país pode ter independência política sem independência económica.
    Agora estamos à mercê de tantos factores que uns escolhem fingir que não vêem o que está para vir,e outros... não fazem, mesmo, a mínima ideia...

    Bjos

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  4. Este coloquei-o lá, no meu canto, para lembrar Pessoa na data do seu nascimento (13 de Junho) e para lembrar, também, que falta uma ponte (a construir) entre o vivido e o sonhado.

    Um beijo

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  5. Querida Lídia,

    Foi do seu canto que tirei o poema (e fiz link). Inibi-me em colocar neste post o comentário que então lhe deixei, Assim:

    Dás-me Pessoa
    Desassossegadamente
    Me perturbando
    Eu que vivo
    No limbo
    Entre o erro e a verdade
    Entre o parecer e o ser
    Entre Mim e o Meu Contrário
    Sem que Minha Alma resolva
    Este fadário
    e esclareça, em tudo que aconteça
    qual a vida que é vivida
    e a parte dela que é pensada

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  6. Caro Luis,
    O poeta diz-nos, e o BB confirma, que vivemos a meio caminho entre a vida verdadeira e a vida errada, entre a realidade e a ficção e não julgo que seja por não se ter aprendido a pensar. Talvez seja mais como a

    Isa, que diz e bem dito:

    "uns escolhem fingir que não vêem o que está para vir,e outros... não fazem, mesmo, a mínima ideia..."

    Caro Rodrigo,
    Irei fazer o que sempre faço: ler o que escreveu...

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  7. O meu estimado amigo BB

    está cada vez mais lúcido

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  8. avinagrei-me por aqui

    com Pessoa e consigo, na pessoa que é

    é bom entender o destempero das coisas

    "com o bálsamo do sonho"
    assim é!


    um abraço

    manuela

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  9. As eternas dualidades de Pessoa. E que bem ele dominava o pensamento e a(s) palavra(s).
    Muito lindo.

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