15 março, 2012

Um dia em que se celebra muito mais que uma ironia


Dia do consumidor e dos seus direitos. Que ironia celebrar este dia. Por certo o celebra quem defende o direito de optar numa suprema liberdade de aceder a tudo, entre o público e o privado, esquecendo que hoje a opção é determinada por ter ou não condições para, pura e simplesmente, se manter... consumidor.  Celebrarão também aqueles que limitam suas exigências à transparência no processo de privatizações dos operadores de serviço público, cuja posse,  por parte do Estado, deveria ser considerada como a sua própria génese e razão de existir. Vale tudo, desde que a transparência e a visibilidade dessa transferência seja devidamente garantida oferecendo-se, assim puro, o espectáculo da perda do sentido do próprio Estado.

Não o celebrarão os outros. Não o celebrarão os que colocam como direito primeiro do consumidor o direito a um salário mínimo digno, sem o qual deixarão pura e simplesmente de ser gente. 
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Há mãos e vozes atadas 
no fundo de cabazes de misérias, 
amargo pão que o diabo amassou. Entala-se 
entre a fome e os dentes na boca dos homens 
para que não possam gritar...
...........................................................................(recuperado de um comentário da Lídia Borges)

11 comentários:

  1. Caro Rogério
    Comento com palavras suas.
    "Não o celebrarão os que colocam como direito primeiro do consumidor o direito a um salário mínimo digno, sem o qual deixarão pura e simplesmente de ser gente".
    Acrescento: gente que deixou de ser consumidora (compradora) mas passou a viver da "caridade" alheia.

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  2. Temos muito pouco o que comemorar nesse 15 de março. O consumismo que reine entre nós esta acabando com nossa morada!

    Abração,

    Rodrigo Davel

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  3. ...e ainda bem que nunca foi institucionalizado o Dia do Crédito ao Consumo. Estaria neste momento com os dias contados.

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  4. E cada palavra sua, Rogério, é o reflexo da realidade.

    Estes dias, irritam-me.

    Beijo

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  5. É Rogério, estes dias também me irritam e é tudo tão verdade o que dizes.

    Beijos

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  6. Para uma grande maioria o "comércio" está fechado. Que dia...

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  7. Hoje escrevia sem que nada o impusesse, algo assim:

    Há mãos e vozes atadas no fundo de cabazes de misérias, amargo pão que o diabo amassou. Entala-se entre a fome e os dentes na boca dos homens para que não possam gritar...

    L. B.

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  8. Olá Rogério

    Gostei muito do seu texto!

    No entanto, não gosto que nos chamem "consumidores". Devíamos ser tratados apenas e inteiramente como pessoas, e abolir essa palavra que me parece inventada por este maléfico capitalismo que cada vez mais acentua o fosso entre ricos e pobres. Que valoriza o "consumidor" e desvaloriza os que não querem ou não podem "consumir".

    "Consumidor" é ainda pior que "utente", paciente,... e outras palavras estranhas com que nos apelidam, conforme dá jeito.

    Eu respiro muito mais do que "consumo", e não me chamam "respiradora". Por isso, recuso-me a ser apelidada de ""consumidora"

    Um grande abraço

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  9. Lídia,
    é tão ajustado o que escreveu
    que não resisto a fazer integrar na versão inicial do meu texto.

    Querida Manuela,
    Essa é a outra face da mesma ironia... Mas como compreende estou já pouco preocupado com a semântica...

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  10. Andamos a celebrar o DMC há 50 anos e chegamos este ano há conclusão que alguns dos problemas que pareciam ter sido resolvidos há 30, emergem agora com a mesma acuidade de então. Ironias...

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  11. Tenho implicância com o termo "consumir". Consumir é extinguir, terminar, acabar, no entanto, é um ato venerado por muitos tendo em vista toda máquina que põe em funcionamento. Máquina essa que nos consome dia a dia, pior, nos consome com nossa aquiescência.
    Um grande bj querido amigo

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