Imagem de há um ano atrás e um link para um ultimato meu
O Processo Histórico - Sabem, quem me lê, quanto uso a dialéctica como ferramenta para entender o mundo. Sabem, também, que dou valor às lições da memória, minha e de quem escreve a história. Nesta, há, na sua própria dialéctica, o conflito geracional como processo do próprio movimento da história. Neste domínio, o mundo pula, avança ou regride consoante um conjunto de situações e os valores em causa: os que são defendidos pelos velhos e os contrapostos pelos novos. A síntese será o que for, em cada momento. Mas se numa dada situação, como parece ser a de hoje, os velhos valores são difusos, contraditórios, incoerentes e inconstantes, a par de outros que agressivamente se afirmam, não se espere dos novos outra coisa senão a abulia, a negação pela negação e a queixa dorida de quem, nem sequer, consegue entender o que contradizer. Entre resistir e desistir, há um gradiente de opções pouco temerário para se poderem operar mudanças. No horizonte só se vislumbram alterações relevantes se os novos descobrirem (se descobrirem) que nada terão a esperar de quem está à frente dos poderes e da cultura. Ou, pior, que essa descobeerta lhes venha cair em cima.
O "cenador" Mário Soares - Mário Soares é um senador e homem de valores. Valores que marcam uma época. Não alinhando pela teoria de que são os heróis que são o motor da história, falo do seu nome como um paradigma das lideranças e das ideias, que durante a vida dos da minha geração, sobreviveram e continuam a influenciar a maneira de pensar, mesmo quando se pensa em contra-ciclo do poder, que circunstancialmente é detido por quem parece defender outras. Mário Soares meteu o socialismo na gaveta sem que se saiba exactamente o que lá meteu e defende-se o socialismo democrático sem que se saiba exactamente o que isso é. Na difusa afirmação do que isso possa ser, regressa, em força, o neo-liberalismo. E isso sente-se o que seja. Mário Soares, defende hoje no Diário de Notícias "o passado pertence aos historiadores e o que conta, na atual emergência, é o presente e o futuro para onde caminhamos. É o que interessa aos portugueses." Este apelo para que se enterre a memória é, nesse mesmo artigo, continuado pela afirmação, válida para quem aceita perder a memória: "talvez seja o momento de o Governo português renegociar com a troika e deixar-se de complexos. Não devemos deixar degradar mais a situação!" O senador passa a cenador (acho que acabei de inventar a palavra) e encena mais uma vez a cena do olhar tutelar da sociedade portuguesa. Outros cenadores lhe continuarão a comédia... Não admira a desorientação dos jovens que, sem os contrariar, deixaram de saber em que situações "Soares é fixe" e poder avaliar o "porreiro, pá".
António Gedeão - Falei, num post atrasado, do meu poeta, sem que muitos se apercebessem das implicações desse meu escrito. Para mim é claro. Ou por razões atrás descritas, ou outras, António Gedeão não vê que a tal bola colorida possa pular e avançar nas mãos de uma outra criança que não seja um neto dos meus netos. Ele não espera grandes coisas destas próximas gerações. Os poetas vêem muito para além do seu poema... Lamento é que os culpados disso sejamos nós.
A dialéctica de Hegel ou de Marx?
ResponderEliminarCaro Rogério
ResponderEliminarPercebi o seu texto. Qualquer reparo podia levantar polémica que nesta fase não é aconselhável. Tenho na memória as responsabilidades do "cenador" que refere, mas não esqueço as de outros "cenadores" embora já fora de cena, mas com continuadores. O divórcio da esquerda é como nos divórcios da vida real. Raramente há só um culpado, que não me parece ser o caso.
Abraço
Rodrigo
Não concordo em absoluto que se apague o passado. Não se pode apagar a memória coletiva de um povo. Por outro lado, acho que não estamos em momento para fazer contas com o passado pois o presente e futuro, dos netos e dos filhos dos netos e dos netos dos nossos netos, a quem lhe pusemos uma bola na mão, está cada vez mais comprometido. Por vezes há encenadores que confundem (ou querem confundir-nos com) as duas coisas. A história os julgará e estejamos alerta com o presente. O futuro é já amanhã.
ResponderEliminarUm abraço.
Meus caros, o que está em questão é uma tentativa para compreender o afastamento da juventude de qualquer motivação para uma intervenção politica (ou mesmo cívica).
ResponderEliminarA questão da memória, nada tem a ver com ajuste de contas, mas com a percepção do que terá levado à actual situação e de como o neo-liberalismo tomou conta de tudo...
É só, e não é pouco.
Dói ter lido que António Gedeão dedica suas memórias aos netos dos vossos netos. Dói.
Passei para deixar bejinhos de saudades! E um poema:
ResponderEliminar"Onde estás amigo?
Em que Estrela ou dimensão te encontras?
Quero revê-lo… toca-lo… repousar em teu colo…
voltar a dizer baixinho, só para você…
Te amo, amigo meu!"
Foram muitas as cenas, dele e de outros.
ResponderEliminarInfelizmente não estaremos cá para assistir aos julgamentos da História.
Pois!
ResponderEliminaro cenador Mário
o encenador Soares
o actor paspalhão
O coiso
O mal do presente, na minha modesta opinião, é ter havido muitos cenadores e encenadores que desorientaram a juventude. O que eles sabem e sentem na pele, é que não têm emprego, nem futuro e muito menos...asas para voarem!!
ResponderEliminarBeijo amigo
Graça
E tudo o que diz faz sentido...
ResponderEliminarEnterrar a memória não é possível. Ela é (devia ser) aprendizagem.
Ela é raiz, semente... Falta que germine, na sabedoria acumulada,que dê frutos...
Mas são dispersos e contraditórios os olhares. E ver já deixou de ser observar apenas o que temos debaixo dos olhos.
Um beijo
Pode ser que este seja o cerne da questão: Os jovens não têm história. Vivem a vida no limite.
ResponderEliminarSendo assim... temos uma grande dose de culpa.
Um abraço
Não é possível ( nem desejável) enterrar a memória. Talvez por isso eu tenha ainda alguma simpatia por Mário Soares que será, entre os políticos vivos, aquele que mantém alguma lucidez, apesar de algumas incoerências. Mas qual dos políticos vivos lhe pode atirar a primeira pedra?
ResponderEliminarQuanto a Gedeão, não podia estar mais de acordo com a sua análise.
Finalmente, quanto aos jovens.
Por muito que me custe dizê-lo a culpa de eles serem assim, cabe em grande parte a quem os educou nos valores do egoísmo, do consumismo e outros ismos, como o nihilismo ideológico.
Rogério,
ResponderEliminarNem sei que dizer. Neste momento há um desvario tal, qua ando sem fôlego para comentar políticos, ando numa espécie de negação com esta classe de pessoas, que me perdoem os que ainda lutam por causas, os que ainda têm convicções e ideologias, são tão poucos e são sobretudo tão poucos os que saem da gaiola dourada dos gabinetes e sabem o que é o mundo real, o mundo do trabalho, cada vez mais complicado. Há situações à nossa volta impensáveis há poucos anos atrás e os tubarões andam por todo o lado, o ego de cada novo chefe é de grande dimensão, embalado em vaidades políticas e sociais, aliás quase sempre embalado nos compadrios.
Nem todos os jovens foram educados nos valores do egoísmo e do consumismo como diz o amigo Carlos Barbosa de Oliveira, conheço felizmente um grande punhado deles capazes de nos darem grandes lições e exemplos, mas esta geração e talvez a seguinte infelizmente terão que comer o pão que o diabo amassou.
Beijos
Branca
Amigo Rogério,
ResponderEliminarO teu texto está muito bem escrito.
Não se trata aqui de apagar o passado, mas não deixa de ser triste constatar que desde há mais de trinta anos os actores políticos em Portugal são os mesmos.
Mesmo quando não estão no poder, como no caso de Mário Soares, exercem um poder paralelo, um poder sombra. Nestas condições, como falar em mudança? Temos apenas uma alternância de mais do mesmo, e essa percepção de (falsa) alternância, com os mesmo óbvios resultados, é desmotivadora de mudança.
Um abraço
Para quem não entrou no link da Fada do Bosque:
ResponderEliminar"A destruição da família e da pátria, transformando o mundo numa super-estrutura, foram passos fundamentais para o domínio de alguns, sobre biliões de outros, construindo assim a Pirâmide do Poder e uma ditadura tecnológica que nos guiará a uma nova Idade das Trevas. A Europa vai na vanguarda, mas o resto do mundo ocidental, segue-lhe os passos."
É assim, sem falsos moralismos...
Rogério
ResponderEliminarAqui há uns tempos ( não sei precisar quando) deixei-lhe um comentário sobre o que me apercebia no meu contacto diário com os jovens.
Há um alheamento total das causas sociais e políticas.
A Família reduziu-se à telha que alberga da chuva e do calor.
A Casa é toca onde se refugiam para passarem a noite, vivendo cada um dos elementos como estranhos trancados em mundos próprios.
Os filhos não sabem a idade dos pais nem as habilitações literárias que possuem; fala-se dos avós e nem já o nome próprio conhecem...
Apagou-se a história da família para, assim, se apagar a História de um povo. Ardilosa esta maneira de fazer História!!
Ao neto dos meus netos, eu não verei, mas acredito que eles saberão o nome dos que estiveram antes deles. Sabe porquê? Simplesmente porque tenho um caderno onde em cada folha escrevo os nomes daqueles de onde provenho. Trabalho, como vê, a longo prazo. Não sei se resultará esse meu esforço. Mas tenho a consciência de que sabendo de onde venho saberei para onde vou e serei o ponto de união entre o passado e o futuro dos netos do meu neto se o tiver e porque acredito ainda naquela "bola colorida entre as mãos de uma criança..."
Desculpe este longo comentário.
Beijo
Sem força para grandes manifestações em relação a este teu post, conto-me, apesar de tudo, entre os que acreditam na tal "bola colorida"
ResponderEliminarAbraço!