05 agosto, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 93


E a esperança também dorme, um sono enorme
Dos lábios ainda brotam sorrisos antigos
e no rosto sereno
desenha-se uma vontade oculta de voltar
O corpo, outrora apenas deitado,
jaz agora sob o musgo, de verde esperança atapetado...
Deixou-se, com o passar do tempo, soterrar.
Acordará com um só susto ou gesto irado e brusco?
Se acordar, será que se solta?
Ou terá que esperar que tudo se desmorone à sua volta? 
Rogério Pereira (uma outra versão desta edição)
HOMILIA DE HOJE
"A Terra rebentará, podemos tê-lo por seguro, mas não será para amanhã. Do que estamos a necessitar é de um bom susto. Talvez despertássemos para a acção salvadora."
José Saramago, in "Outros Cadernos..."

8 comentários:

  1. Caro Rogério
    O seu poema e o parágrafo de Saramago são de grande realismo, mas será que o susto aconteça assim de repente e todos deles nos aperceba-mos?
    Infelizmente o que acontece é que os sustos estão a ser provocados "cirurgicamente" e gradualmente a cada um de nós. Mesmo vendo o "rabo do vizinho a arder" ao nosso lado, não reagimos, até quem um dia...
    Abraço
    Rodrigo

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  2. Outro(s)? Não andamos já todos em pânico? Corrijo - alguns.

    Teve boas férias? Eu "voltei".

    Beijo

    Laura

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  3. Essa até uma imagem que dispensa palavras...
    Mas como nem todos sabem ver, as palavras foram bem escritas!

    Já o susto não assusta quem dorme, porque quando acorda pensa que tudo não passou de um pesadelo.

    Sim, infelizmente é assim...

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  4. Concordo com as palavras de "folha seca"

    "Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
    E não dizemos nada.
    Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
    E não dizemos nada.
    Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
    E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada."

    Maiakovski

    Um beijo

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  5. Leio-te tantas vezes em silêncio, porque se me instala uma profunda tristeza por este despertar tardio e porque a visão de Maiakovski que a Lídia aqui transcreve infelizmente está em curso.

    Beijos

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  6. Amigo, pelo que me parece, vão-nos assustando e assim habituando ao sobressalto medido e atempado...

    Começo a achar que já nada fará mover o "bom povo português", tão bem domesticado foi pelo poder da Igreja e do Estado.

    Oxalá me engane!

    Boa semana

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  7. Leio-te tantas vezes em silêncio, porque se me instala uma profunda tristeza por este despertar tardio e porque a visão de Maiakovski que a Lídia aqui transcreve infelizmente está em curso.

    Beijos

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