Com Saramago de frente para o mar, e depois de dois anos a escrever esta página, dou por findo o meu apostolado. Não por ter esgotado as palavras, ou por ter optado por outros caminhos ou por ter preferido dar voz a outras homilias e a outros nomes. Diz-se, tantas vezes, para fazer perdurar as coisas, que é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma. É isso, Saramago abandona este espaço dominical, mas permanecerá sempre, na minha escrita, nos meus temas.
Quem lê Saramago fica com a sua escrita na alma, quem escreve sobre ele fica-lhe na pele... Aconteceu-me
Como última homilia poderia ter escolhido mil outros assuntos, inquietações, desassossegando com coisas do amor ou da morte, mas a escolha recai sobre a Europa, sem que sejam necessárias grandes justificações para a escolha, pois ela nos pesa. Talvez este espaço venha a ser ocupado com o tema Europa e esta homilia final seja a introdução desse outro tema e do retomar do desafio que fiz um dia. Vou pensar. Vou pensar em virar-me definitivamente para o mar...
HOMILIA FINAL
(...) A verdade é que a Comunidade Económica, como a que nasceu na cabeça de Robert Schumann, não é mais do que a ideia de racionalizar as economias dos diferentes países da Europa. A questão central foi sempre a da economia. Ou seja: quem é o senhor, quem é o patrão da Europa. Todos os conflitos, todas as situações complexas que a Europa viveu, até mesmo as chamadas guerras religiosas, tiveram por motivo definir uma economia para cem anos, ou um milénio, como desejou Hitler.
(...) O mais importante – e eu diria, o mais trágico – é que se tira dos povos o direito de decidirem sobre o seu destino. Claro que nada no mundo é definitivo, e os povos sempre encontram as soluções melhores para os seus problemas. Mas o problema da hegemonia, que parecia resolvido com a Comunidade, não está. O que está ocorrendo agora é o surgimento da potência europeia do futuro, que será outra vez a Alemanha. A Europa será o que Alemanha decidir.
José Saramago, in Jornal do Brasil – Maio de 1992
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Já depois de editar esta post, tomei conhecimento e assinei esta petição
Caro Rogério
ResponderEliminarSem qualquer duvida que prestou um serviço inestimável à divulgação da obra, das ideias e da visão de Saramago.
Li parte da obra de Saramago ao longo de décadas. Estive com ele algumas vezes, mas foi graças a si, ao seu trabalho incesante de pesquisa que hoje conheço muito mais deste "visionário". Certamente que apesar de fechar a rubrica ele vai por aqui continuar a andar.
Um obrigado
Rodrigo
ResponderEliminarEmbora até possa perceber a decisão de substituir as homilias dominicais nos moldes em que as idealizou, há tanto tempo, não posso deixar de sentir já a nostalgia própria de quem se habituou a encontrar aqui, semanalmente, o escritor e o homem de quem não posso ficar longe por muito tempo. Vai obrigar-me a procurá-lo nos seus livros, outra vez.
Um beijo
Também anda comigo há uns anos...
ResponderEliminarAbraço!
Saramago continua, aqui, acolá e por toda a parte.
ResponderEliminarE continuará, mesmo "quando todos formos alemaes"...
Olá Rogério, Depois de ter lido o seus dois últimos posts e de achar que estão os três de Parabéns pelo trabalho aqui exposto, Sinceramente ainda não consegui entender o que quis dizer em "Meu Contrário errou" e em "Eu foi um desastre"!! Quer ver que sou muito limitada?!
ResponderEliminarNão o gabo ou elogio frequentemente, não é uma característica minha, infelizmente, mas que tenho orgulho em estar aqui, é uma verdade! Aqui sinto-me bem. Com o Rogério sinto-me em casa.
Saiamos juntos à descoberta de Novos horizontes sem fim. Façamos juntos uma grande viagem aos CPLP e ajude-me com a sua sabedoria, seja meu guia nesta descoberta de novos mundos, por mares nunca antes navegados, nunca antes compreendidos e faça-me sentir nostalgia de um País, que teima em desaparecer do mapa. Voltemos finalmente, nem que seja numa jangada de pedra.
Um beijo.
Obrigada Rogério por ter enviado.
ResponderEliminarAssinadíssima, a petição.
Beijinhos
Lamento esta sua decisão, Rogério!
ResponderEliminarDo mar se conhece a paz e a bravura, sendo-nos fácil com ele lidar. Dos homens que detêm o poder, tudo se pode esperar, menos o que um dia ousamos lhes confiar. Abraços
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ResponderEliminarHá momentos para um início e para um final.
Se o que acabou foi ótimo, sei que o que aí virá melhor será.
Beijo
Laura
Tive ocasião e prazer de te dizer em público
ResponderEliminaro teu trabalho delicado e dedicado
que prestaste
um serviço público
com o nosso Saramago em riste
Cá estaremos
Abraço amigo
Concordo plenamente com a Folha Seca!
ResponderEliminarBeijo
Fiquei às escuras com este blog. Desapareceu e, como não via nada, julguei que estivesse de férias. Só agora me decidi vir mesmo ao blog e afinal vim assistir a uma despedida. Pois bem, penso que o que nos tem preparado não será inferior.
ResponderEliminarAbraço
Saramago continuará em ti, em nós, em tudo, sempre!
ResponderEliminarbeijinho Amigo
cvb