Era um papa de aspecto severo, que escreveu (pelo menos) um texto inapropriado. Coitado
Quando era moço fazia coisas inusitadas, tais como ir ao tribunal da Boa Hora assistir à argumentação de noviços advogados a defender, na barra, vendedoras não licenciadas e outros crimes de fraca moldura penal. Entrava em igrejas, não para assistir à missa mas apenas à homilia para ouvir e ficar a pensar no que o padre dizia. Depois elaborava várias correlações. Entre a moral cristã e a justiça. Entre os advogados e os prelados, estas para entender a capacidade de a oratória ser capas de ir buscar a um texto o que lhes desse mais jeito. Eram tempos de fascismo e a interpretação mais rara era a justa... Tudo isto a propósito da carta encíclica que tramou o Papa. Estou-a estudando depois de lhe dar uma leitura rápida. Logo na introdução:
"...cada sociedade elabora um sistema próprio de justiça. A caridade supera a justiça, porque amar é dar, oferecer ao outro do que é «meu»; mas nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao outro o que é «dele», o que lhe pertence em razão do seu ser e do seu agir. Não posso «dar» ao outro do que é meu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por justiça. Quem ama os outros com caridade é, antes de mais nada, justo para com eles. A justiça não só não é alheia à caridade, não só não é um caminho alternativo ou paralelo à caridade, mas é «inseparável da caridade», é-lhe intrínseca..." - in "Caritas in Veritat" (versão integral aqui)
Abandonei aqueles hábitos antigos, não sei, por isso, se o texto acima citado era dito aos fieis, mas tenho a certeza que não. De outro modo, não veria católicos a pedirem, por caridade, à porta de qualquer Pingo Doce, que déssemos o que acabávamos de comprar. Vê-los-ia sim nas escadarias de São Bento a reclamar tudo aquilo a esta pobre gente tem direito. São Bento, não o Papa, mas São Bento, a Catedral da Injustiça por obra e graça do voto mal dado.
Declaração de interesses: Sou comunista, mas gostava de ver ao meu lado católicos progressistas a baterem-se pela justiça de que falava a citada encíclica...
(imagem tirada daqui)
Reativar hábitos? Só questão de habituar-se...
ResponderEliminarBjs
Olá Rogério,
ResponderEliminarDesta vez não estou a ver fantasmas onde podem não existir. Nunca fui à bola com a Igreja Católica (conheço a sua História), mas parece-me que resignar também é próprio dos fortes! Neste caso. E não queria ver outras razões que as apresentadas pelo próprio Papa.
Abraço
JP, meu caro
ResponderEliminarSó um reparo
(em três pontos)
1º O corpo de um velho cai quando a alma se esvai
2º Resignar vai dar muito que falar
3º O meu post é mais sobre a resignação (renúncia) dos católicos que sobre o próprio dito cujo
Estou de facto a ler a enciclica!, mas não para perceber a renúncia...
A minha avó era uma beata, e obrigava-me a fazer alguns quilómetros para ir com ela à missa,isto quando eu tinha entre os sete e oito anos de idade, já quase com nove anos disse-lhe que não ia mais à missa, ela bateu-me. E eu nunca mais fui a uma missa.
ResponderEliminarNão fiz mal a ninguém, nem tenho pecados para me confessar a um homem igual a mim, igual a mim não será, eu vivo do trabalho e ele vive da chulisse. Não dou nada a intermediários da caridade daquilo que se dá eles ficam com mais de metade. Se eu der bifes a eles não os como eu.
Abraço,
José.
Um dia disseram-me que os comunistas também eram filhos de Deus
ResponderEliminaraté que um outro dia um padre me impediu ser padrinho de casamento de um casal católico até que um outro dia outro padre se recusou a uma homilia fúnebre de um camarada pelo facto da urna levar a bandeira do seu Partido.
Pelo contrário tenho amigos comunistas que frequentam a Igreja.
Não compreendo mas respeito.
Abraço amigo
Rogério,
ResponderEliminarCulpa minha na interpretação, ainda que me referisse apenas à resignação.
É verdade que o corpo cai quando a alma se esvai....e era mesmo sobre isso que escrevi. Queria acreditar que não houvesse outros motivos.
Quanto ao sentido que o Rogério lhe deu, pois aí não tenho muito a acrescentar. O conformismo ou a renúncia, e poderão ter significados diferentes, está instalado em todos os setores. Até nos do espírito.
Abraço
(espero agora estar a interpretar bem)
ResponderEliminarAinda não li a encíclica por falta de tempo e concentração. Este fim de semana próximo, não escapa.
Quanto à sua declaração final... não verá nunca porque apenas aprenderam a dizer "venha a nós o vosso reino" e não lhes importa de quem ele seja (de justiça).
Beijinho
Laura
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ResponderEliminarlovers but this paragraph is in fact a pleasant piece of writing, keep it up.
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Acabo de ver o "Cara a cara" com D. Ortiga...
ResponderEliminar...e o homem recomenda à comunidade da Igreja que se feche como ela se fecha... infere-se do que disse, que a a comunidade de exclua, que não participem em partidos, sindicatos nem entrem em manifestações... façam grupos de reflexão... É uma boa noticia para o Presidente Cavaco, é uma boa noticia para o Governo de Passos, é uma excelente para os credores... a Igreja não se mete nas questões seculares, permanecerá em torno dos seus altares...
ResponderEliminarMuito interessante este binómio: justiça/caridade, por esta ordem.
Vou ter de ler a versão integral.
Um beijo
Bem, pelo comentário que faz acima, sobre o De Caras, parece-me que Cavaco já há muito começou a seguir o conselho de D.Ortiga...
ResponderEliminarQuanto aos católicos progressistas, conheci muitos antes do 25 de Abril, mas mudaram tanto desde então...
... estou quase, quase a resignar dos meus sonetos. Tudo ou quase tudo se me torna, dia a dia mais inacessível...
ResponderEliminarEnquanto tiver um pingo de força e lucidez, tentarei merecer subscrever esta tua declaração de interesses.
Abraço grande!
Comunistas,Católicos progressistas e outros democratas têm já um longo percurso comum.
ResponderEliminartem mais católicos ao seu lado, do que aquilo que pensa
ResponderEliminarum abraço, Rogério